“Ostra nasce do lodo, gerando pérolas finas”.
(Ederaldo Gentil in O Ouro e a Madeira)
Em 1980 eu comecei um namoro com Maura Sérgia, a filha caçula de Graciana Sérgia de Oliveira (Pituzinha para os íntimos). No dizer de um amigo da família, “alguém com um apelido desse, só poderia ser uma pessoa doce”. E ela é. Era, porque faleceu há 30 dias aos 86 anos.
Nascida no sertão baiano (região sisaleira), nunca frequentou uma escola, mas foi alfabetizada. Aprendeu a ler e escrever, além de aritmética, passando a efetuar as operações fundamentais com maestria, conhecimento que transmitiu para as suas filhas.
Vivendo naquele ambiente rude, era de esperar que fosse uma pessoa embrutecida pela vida dura que levava. Porém, como boa sertaneja, sabia transformar em amor o sofrimento. Várias vezes a vi brincando com a própria sorte. Mesmo quando o marido deixou-a, ela foi à luta para ajudar a sustentar a casa e continuar a educar as filhas adolescentes que ainda estavam em sua companhia, ensinando-as os seus valores de bom caráter e honestidade, com os quais nunca transigiu.
Uma família numerosa sempre tem os seus problemas, seus atritos, e eu ficava pasmo quando ela, em meio a uma crise, conservava calma e em silêncio, para só falar quando tivesse algo a dizer que contribuísse para amenizar o conflito, dissipando assim as minhas dúvidas sobre a sua autoridade sobre as filhas e netos.
E foi assim que fui aprendendo a gostar e admirar aquela mulher simples e guerreira, rude, mas com uma capacidade de amar e perdoar como vi poucas vezes em outras pessoas. Órfão de duas mães (biológica e adotiva), hoje me sinto órfão pela terceira vez, porque passei a tê-la como mãe, tão amorosa e afetiva quanto as outras duas que se foram.
Hoje carrego um misto de tristeza e alegria no coração. Tristeza, porque ela deixou o nosso convívio, e alegria, porque ela partiu sem muito sofrimento e pela certeza que o criador a colocou em um bom lugar. Um lugar que ela, com certeza, fez por merecer.
Até a próxima, minha velha.
Cristóvam Aguiar
NE: Texto escrito e publicado em setembro de 2017, quando completava 30 dias da passagem de Graciana Sérgia de Oliveira (Pituzinha)
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