O dispositivo ajuda a perder peso e pode ser um paliativo para a bariátrica. - Foto; Pixabay |
Na busca por alternativas, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um dispositivo que tenta controlar a vontade de comer como opção à cirurgia bariátrica. Os cientistas receberam o Prêmio Inventores 2023 da Unicamp.
O dispositivo eletroestimulador induz o organismo a produzir hormônios responsáveis pela sensação de saciedade, promovendo assim o controle do apetite e dos hábitos alimentares. Em breve serão feitos mais testes em porcos adultos.
Com este dispositivo eletroestimulador, os pesquisadores querem oferecer às pessoas com obesidade severa, uma opção menos invasiva que a cirurgia bariátrica ou o balão gástrico.
Opção menos invasiva
A proposta é que o dispositivo eletroestimulador, no futuro, seja implementado por meio de videolaparoscopia, uma técnica cirúrgica minimamente invasiva realizada por auxílio de uma endocâmera no abdômen.
A cirurgia bariátrica, que é uma das principais alternativas para pacientes com obesidade grave, embora eficiente, por vezes ainda registra casos em que o pacientes volta a ter ganho de peso.
Com a opção do dispositivo eletroestimulador implantado, as pessoas podem sofrer menos inclusive com as sequelas da bariátrica, como as limitações impostas após a cirurgia. Mas estes detalhes ainda estão em fase de estudo.
Nota etapa de estudos
Há três anos, os estudos tiveram início, agora em parceria com a InPulse, empresa de Florianópolis (Santa Catarina), que desenvolveu um modelo de eletroestimulador, serão feitos os testes.
Só depois dessa avaliação, serão feitos os testes em porcos adultos. A tecnologia realiza a conexão da atividade elétrica gástrica com as respostas hormonais do sistema nervoso central.
O dispositivo possui uma unidade responsável pelo controle e geração dos sinais necessários para sensoriamento e estimulação da parede gástrica.
De acordo com os cientistas, o mecanismo tem um ou mais cabos-eletrodos que são implantados na parede gástrica anterior (proximal ao piloro) para a condução dos sinais.
Testes em porcos adultos
Na fase pré-clínica realizada entre 2015 e 2018, foram feitas testagens em três grupos de porcos pelo período de 30 dias.
A resposta positiva resultou na obtenção de patente que foi depositada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp e licenciada para a InPulse.
Raquel Franco Leal, pesquisadora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e responsável pela equipe envolvida nos estudos, disse que os resultados foram positivos.
Segundo a pesquisadora, os animais deixaram de ganhar peso dentro da curva de crescimento.
Para os testes, um grupo de porcos permaneceu com o eletroestimulador ligado, outro com o dispositivo implantado, porém desligado e, o terceiro, foi mantido no mesmo local, mas sem qualquer intervenção.
O dispositivo foi implantado por uma laparotomia – cirurgia realizada por meio de uma abertura abdominal.
O eletrodo foi colocado na parede do estômago e, por um cabo, conectado com a fonte geradora acoplada de forma subaponeurótica, ou seja, abaixo da musculatura.
“Esse trabalho realizado serviu para vermos o efeito do dispositivo. Diante de resultados positivos, partimos para uma nova fase do projeto que será entender o seu mecanismo”, afirmou a cientista.
Outra etapa de testes
Os pesquisadores estimam mais dois anos de testes para confirmar se o dispositivo eletroestimulador é capaz de reduzir o peso.
Se comprovado, a equipe buscará entender como ele age no organismo e se, de fato, o resultado está associado à produção hormonal.
Nesta fase serão coletados os tecidos dos animais que tiverem os dispositivos implantados para estudos do fígado, tecido adiposo, sangue periférico etc.
“Os porcos, da primeira fase de testes, tiveram perda de peso. Mas, precisamos entender como isso está acontecendo e se pode ter outras ocorrências que interferem nesse resultado”, disse Raquel Franco Leal.
Os testes serão aplicados em porcos adultos, com cerca de 50 quilos, diferente da primeira fase, quando foram utilizados animais de 15 quilos e em fase de crescimento.
Em relação ao dispositivo, a equipe tem realizado modificações para aumentar a durabilidade da bateria do gerador e para que a sua localização seja mais acessível e facilite o monitoramento.
Equipe Multiprofissional
O grupo de pesquisadores se uniu, nesta etapa, a dois engenheiros do Centro de Engenharia Biomédica (CEB) da Unicamp que darão apoio maior nas modificações e ajustes do dispositivo que sejam necessários.
Para Lucas Casagrande Neves, CEO da InPulse, a inclusão dos engenheiros vai acelerar as pesquisas. “Por serem da engenharia, além de agregar com conhecimentos da área, os profissionais irão facilitar a comunicação dos processos e ser um elo conosco.”
Participam das pesquisas os cientistas Raquel Franco Leal, Elinton Adami Chaim, Lício Augusto Velloso, Fábio Henrique Mendonça Chaim, Lucas Casagrande Neves, Jonatas Pavei e Gabriel Veloso Paim.
O dispositivo [e implantado no estômago e controla a função gástrica. – Foto: Pixabay |
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