terça-feira, 12 de julho de 2011

Estudantes



Não é segredo pra ninguém que eu sou um entusiasta dos movimentos estudantis. Não por acaso, no final dos anos 60, ainda adolescente, ia para Salvador engrossar passeatas que protestavam contra o regime militar. Mas no final, eles venceram, e como disse o poeta Iderval Miranda, “a estudantada de 68, afazenderou-se”.

A União Nacional dos Estudantes (UNE), verdadeira escola de líderes políticos, homens públicos, outrora tão atuante e combativa, transformou-se nesta coisa disforme que hoje se vê, envolvida até o pescoço em disputas político partidárias. É a escola que forma esses políticos dos dias atuais.

O governo militar desarticulou os movimentos estudantis de tal maneira que, à época, o ministro Jarbas Passarinho declarou que 30 anos se passariam antes que os estudantes se organizassem outra vez. Lá se vão 40. Os grêmios estudantis, que também eram escolas de formação de lideranças, foram substituídos por “Conselhos” perdendo sua independência e sofrendo interferência direta de diretores e professores.

Nos anos 80 aconteceu um fato emblemático, que me fez perder de vez a fé na rearticulação dos movimentos estudantis. O governo havia anunciado um corte no orçamento da União para a Educação, e em algumas cidades jovens universitários do ensino público, conseguiram se mobilizar e ir às ruas protestar.

Estava eu cobrindo uma dessas manifestações para o jornal Feira Hoje, quando vi no meio dos universitários um estudante com a camisa de um colégio particular. Pensei comigo: “Ali está a minha matéria. Um jovem estudante de colégio de rico, engrossando uma passeata em prol do ensino público”. Quando perguntei a ele porque ele estava ali, veio a resposta e a minha decepção; “Ah! Mermão. O negócio é agitar”!

Na semana passada, porém, chegou às minhas mãos um exemplar do “Jornal do Estudante”, uma publicação da Casa do Estudante de Feira de Santana (CEFS), outrora também uma escola de líderes. A CEFS, assim como a UNE, também se transformou numa coisa disforme e por muitos anos esteve nas mãos de desonestos oportunistas, perdendo toda sua credibilidade.

Agora, lendo o jornal, vi um texto (infelizmente não está assinado), convocando os jovens a participarem das atividades da CEFS e se transformarem em futuros líderes para ajudar a construir um mundo melhor. Eu não quero nutrir muitas esperanças, até porque já estou muito velho para me deixar decepcionar facilmente.

Mas, juro por Deus que lá dentro de mim uma pequena chama se acendeu e me fez sentir de novo como um menino, portando bandeiras e cartazes, com a cara pintada e gritando palavras de ordem contra as injustiças sociais e os políticos desonestos. Ah! Como era bom naquele tempo, sentir-me fazendo parte de algo, exercitando a minha cidadania, defendendo os meus direitos, fazendo o que os meus pais não poderiam fazer. Riscos sempre houveram. Sempre há. E daí?

Vou observar melhor a Casa do Estudante e acompanhar suas ações. Se encontrar seriedade nela, estes meninos vão ganhar um aliado.

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