terça-feira, 2 de abril de 2013

Exportando espiritualidade


Na França o espiritismo sempre teve o caráter mais cientifico do que doutrinário, diferente do Brasil, por isso, o que aparece de moderno em termos de equipamentos de trans comunicação com o mundo espiritual vem da Europa, principalmente da França. Isso estava tornando o espiritismo de Kardec um laboratório de ocultismo com tradições africanas.
Muitos brasileiros chegaram a participar de reuniões espíritas na Espanha onde o ambiente era carregado por incensos, pedras e símbolos afro-esotéricos, luas, estrelas sinais ritualísticos e aquele clima de misticismo no ar.
A coisa só começou a mudar de rumo na década de 60 quando Divaldo Franco começou fazer peregrinações pela Europa. O interessante era que, na época, suas palestras eram mais um tipo de reunião doméstica. Tanto a Espanha como Portugal estavam atravessando um momento político muito conturbado onde Salazar, em Portugal, apoiava o General Francisco Franco na Espanha gerando assim um terror total a liberdade de religião. A coisa era tão séria que qualquer reunião na casa de quem quer que fosse, com mais de 10 pessoas, teria que ter autorização expressa da própria polícia. Se alguém tentasse ser "o certinho" solicitando essa tal autorização, a história mudava de rumo e a coisa se complicava. Ninguém tinha interesse nessa prática e, até alguns s bispos que tentavam fazer vistas grossas, eram punidos pela igreja e pelas leis locais.
Mesmo assim Divaldo continuou em suas peregrinações em cultos e palestras domésticas, em pequenos grupos onde, até as palmas eram apenas no sistema simulado para não produzir barulho. Tudo era feito em porões, garagens, quintais cobertos, etc.
Nesse período, muitos brasileiros em visita ou a trabalho nesses países, começaram a difundir, lentamente, os avanços do espiritismo brasileiro.
Uma das pessoas que, no meu ver, teve uma influencia muito grande no renascimento dessa fênix foi a brasileira Cláudia Bonmartin, hoje radicada na França e presidente da CESAK – Centro de Estudos Espíritas Allan Kardec, em Paris. Claro que talvez o primeiro Centro Espírita na Espanha, com o jeitinho brasileiro foi aberto por Dona Lola de Paes, em 1975, e após a morte do General Franco. Cláudia teve um papel muito importante em tudo isso.
Cláudia conta que no início dos anos 70 ela mesma freqüentou algumas reuniões domésticas onde esses momentos eram regados com incensos, velas, símbolos místicos e um clima bastante influenciado pelos costumes afro-religiosos, mas logo, os franceses, espanhóis e até mesmo aos portugueses começaram a conhecer o Espiritismo Kardecista Brasileiro.
A influência brasileira crescia tanto que, na década de 90, em congresso em Liege, na Bélgica, onde Divaldo e a própria Cláudia participaram, foram edificadas as bases para a criação do CEI - Conselho Espírita Internacional com o intuito de difundir o espiritismo no mundo.
Desde 1975, a França, Espanha e também Portugal passaram a praticar um espiritismo tal qual se pratica aqui no Brasil. Estávamos exportando um espiritismo verde e amarelo para a terra de Kardec.
Que essa chama continue a brilhar, sempre.

Conrado Dantas

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