Um experimento desenvolvido por um brasileiro na
Universidade de Plymouth, na Grã-Bretanha, pode transformar em realidade
os sonhos de milhares de músicos profissionais e amadores.
O projeto de neurotecnologia musical,
desenvolvido pelo compositor e professor Eduardo Miranda, "lê
pensamentos" - com a ajuda de uma espécie de touca que capta ondas
cerebrais - e promete transformá-los em música, mudando completamente o
processo tradicional de composição.
O professor planeja usar este
sistema para fazer leituras dos cérebros de quatro pessoas e controlar
um quarteto de cordas com o resultado. Isto é a base de sua composição
mais recente, chamada de Activating Memory (Ativando a memória, em
tradução livre).
A repórter de tecnologia da BBC LJ Rich estou a máquina antes da performance musical. Confira seu depoimento abaixo.
O pesquisador e engenheiro Joel Eaton me ajudou a vestir a "touca cerebral", que é cheia de eletrodos de metal e fios.
Segundo Eaton, o eletrodo principal na parte de
trás da minha cabeça selecionaria ondas cerebrais do meu córtex visual,
enquanto os outros eletrodos ajudariam a cancelar qualquer barulho de
fundo.
Para que o sistema funcione, é preciso que o
usuário se concentre em um de quatro padrões quadriculados. Eles piscam
em ritmos diferentes e cada padrão faz com que a área visual do cérebro
emita um sinal elétrico simpático.
O sinal é captado pela touca e enviado ao
computador. O aparelho funciona melhor quando o resto do cérebro está
relaxado, então o pesquisador me pede para "limpar a mente".
Em seguida, os sinais elétricos do cérebro são amplificados e enviados para um laptop.
Eaton me pediu para prestar atenção em um dos
padrões de uma maneira muito específica, focando e desfocando o olhar.
Às vezes eu tinha que tirar os olhos da tela e olhar novamente para
refrescar o cérebro.
Quando eu acertava, o padrão escolhido enviava
uma frase musical para uma tela diante de Jane, uma violoncelista
profissional que tocava a música que eu produzia.
Foi muito difícil no começo. Enquanto tentava
focar, desfocar e relaxar, eu não conseguia ficar muito animada quando
funcionava, porque isso me tirava do estado mental necessário para
produzir o sinal.
Dificuldades
Eu esperava que o sistema criasse frases musicais vindas direto do meu cérebro, mas não foi exatamente assim que aconteceu.
Ao invés de compor livremente, minha mente
escolheu entre frases musicais pré-prontas, que correspondiam a cada um
dos padrões quadriculados. Pode-se dizer que eu fui uma operadora mais
do que uma compositora, e que meu cérebro se tornou um instrumento como o
violoncelo de Jane.
Quando falamos sobre meu desejo de experimentar
uma interface mais eficiente de composição musical diretamente do
cérebro, o professor Miranda disse que isso poderia ser fascinante no
começo, mas que ficaria chato depois de algum tempo.
Ele gosta do desafio de uma solução imperfeita.
"Humanos gostam de manipular coisas - eu não
pretendo eliminar este processo, quero melhorar as ferramentas que
ajudem os compositores a conseguir isso talvez de uma maneira
diferente", disse ele.
Para pessoas com deficiência de audição, há alguns benefícios óbvios desta interface, até mesmo neste estágio elementar.
O laboratório do Centro Interdisciplinar de
Pesquisa de Música Computacional (ICCMR, na sigla em inglês) já realizou
algumas pesquisas com um paciente da síndrome do encarceiramento
(doença rara em que os movimentos do corpo são paralisados, mas as
condições mentais permanecem intactas) com resultados animadores.
Mesmo assim, o sistema não é tão receptivo ao usuário como eu esperava que fosse.
Durante o experimento, foi muito difícil dominar
a técnica. Durante o processo, minhas leituras cerebrais caíram muito
quando o violoncelo estava sendo tocado. Tivemos que recalibrar o
sistema enquanto eu estava ouvindo Jane tocar, porque não conseguia
manter a concentração.
Consegui emitir o sinal consistentemente depois
de duas horas. Joel e Eduardo me disseram que duas horas é rápido -
geralmente leva alguns dias para conseguir pegar o jeito. (BBCBrasil)
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