sábado, 2 de abril de 2022

 


*Anos & Amantes*

 

         Ao final do ano 2021, assustei-me ao fazer contas. Não foram os charutos fumados na vida, majestosa cifra, todavia distante de figurar no Guines.

 Simplesmente, somei a idade de meus filhos. Os caros leitores de minhas enfumaçadas crônicas, hão de indagar quanto à razão de minha surpresa: qual número tão assustador será este?

             Deixem-me, acender meu ‘puro’, ele dará o tempo para esclarecê-los.

         Caso raro, tive o privilégio de ser pai aos 20, aos 30, aos 40, aos 60 anos e cheguei aos 10 filhos. Idades então, variando dos 61 aos 21 anos. A soma das mesmas atingiu 470. Foi quando, dei-me conta como nossos filhos são agentes multiplicadores de nossas vidas. Afinal, quatrocentos e setenta anos de convivência paternal - a qual anualmente, aumenta de dez em dez - não é coisa para qualquer cristão.

         Você poderá imaginar, o quanto aprendi com meus ‘meninos’? Quatrocentos e setenta se diz muito rápido, mas, medite. São quase cinco séculos, distintas vivências nas quais tenho participado. Acrescentem-se a tanto, os anos vividos com minhas paixões, estudos, lazeres, prazeres e afazeres e meus charutos. Resumindo, com tudo aquilo que poderíamos chamar de ‘amantes’.

         A palavra ‘amante’, em nosso idioma não tem gênero específico. Meu charuto, diz-me que isso proveio da inteligência latina. Amante se apresta a todos os gêneros, e para ser identificado requer um artigo, um pronome possessivo, um adjetivo gentílico ou, sei lá, de algo que o transforme em gente ou objeto de prazer.

 Estou pleno de amantes: a mulher no final da jornada, as ex-mulheres ao longo da caminhada, 10 filhos, 22 netos, 6 bisnetos, os teres e haveres, os 45 anos de trabalho diversificado (tintas, charutos, cacau), a aposentadoria meio a campo, canetas e livros, os velhos amigos sobreviventes, a riqueza cultural baiana a meu redor.

         Nada de pílulas coloridas, divas ou divãs.

         Feliz, todas as manhãs, vejo retratadas no espelho as marcas da existência e cuido em agradecer ao destino, tamanha generosidade por tantos anos e não menos amantes.


Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.

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