*Anos
& Amantes*
Ao final do ano
2021, assustei-me ao fazer
contas. Não foram os charutos fumados na vida, majestosa cifra, todavia distante
de figurar no Guines.
Simplesmente, somei a idade de meus
filhos. Os caros leitores de minhas enfumaçadas crônicas, hão de indagar quanto
à razão de minha surpresa: qual número tão assustador será este?
Deixem-me, acender meu ‘puro’, ele
dará o tempo para esclarecê-los.
Caso raro, tive o privilégio de ser pai
aos 20, aos 30, aos 40, aos 60 anos e cheguei aos 10 filhos. Idades então, variando
dos 61 aos 21 anos. A soma das mesmas atingiu 470. Foi quando, dei-me conta como
nossos filhos são agentes multiplicadores de nossas vidas. Afinal, quatrocentos
e setenta anos de convivência paternal - a qual anualmente, aumenta de dez em
dez - não é coisa para qualquer cristão.
Você poderá imaginar, o quanto aprendi
com meus ‘meninos’? Quatrocentos e setenta se diz muito rápido, mas, medite.
São quase cinco séculos, distintas vivências nas quais tenho participado. Acrescentem-se
a tanto, os anos vividos com minhas paixões, estudos, lazeres, prazeres e
afazeres e meus charutos. Resumindo, com tudo aquilo que poderíamos chamar de ‘amantes’.
A palavra ‘amante’, em nosso idioma não
tem gênero específico. Meu charuto, diz-me que isso proveio da inteligência
latina. Amante se apresta a todos os gêneros, e para ser identificado requer um
artigo, um pronome possessivo, um adjetivo gentílico ou, sei lá, de algo que o
transforme em gente ou objeto de prazer.
Estou pleno de amantes: a mulher no
final da jornada, as ex-mulheres ao longo da caminhada, 10 filhos, 22 netos, 6
bisnetos, os teres e haveres, os 45 anos de trabalho diversificado (tintas,
charutos, cacau), a aposentadoria meio a campo, canetas e livros, os velhos amigos
sobreviventes, a riqueza cultural baiana a meu redor.
Nada de pílulas coloridas, divas ou divãs.
Feliz, todas as manhãs, vejo retratadas
no espelho as marcas da existência e cuido em agradecer ao destino, tamanha
generosidade por tantos anos e não menos amantes.
Hugo A. de Bittencourt
Carvalho,
economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez &
Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.
([email protected])
Nenhum comentário:
Postar um comentário