*Caixas de sapatos*
Antes
de passar a fumar charutos,
eu não tinha estas
feições paternas.
Era eu, sim,
uma mistura que,
a depender dos olhos
de quem via,
com a mãe ou com o pai
me parecia.
Fui me perdendo aos
poucos, de minha mãe, sem o sentir.
Acho que com ela, na
verdade, nunca estive.
Nem mesmo quando
resolveu partir
fui lhe deitar a
derradeira flor
nem derramar a
derradeira lágrima.
Dela, os traços
ficaram aprisionados
em fotos do passado,
para outras mãos
passadas,
em velhos baús
guardadas,
em álbuns,
em caixas de sapatos.
As fotos, muito
antigas,
das coisas há tempos
perdidas,
o foram em preto e
branco.
Para dizer-se o que
passou,
outra cor não se
precisa.
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foram grandes.
Eram pretos,
foram presos
em fotos do passado,
para outras mãos
passadas,
em velhos baús
guardadas,
em álbuns,
em caixas de sapatos.
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De retratar-me passo a
passo.
Eu não tinha tempo no
passado.
Para ver filhos
crescerem,
para estar com os meus,
para dizer que os
amava.
A tudo aprisionava
em fotos muitas,
coloridas,
para outras mãos
passadas,
em velhos baús
guardadas,
em álbuns,
em caixas de sapatos.
..................................................
as caixas de sapatos?
Hugo A. de Bittencourt
Carvalho,
economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez &
Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.
Um comentário:
Infelizmente, é assim que a gente se sente muitas vezes quando paramos para tentar viver ou reviver o passado e, vezes por outras, não sabemos onde nem como aconteceu tudo aquilo
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