Listo, logo existo. É meu lema, minha lei. Guinness não me conhece, mas, se conhecesse, eu estaria liderando a lista dos maiores fazedores de lista desde que o primeiro homo sapiens criou sua agenda inaugural na pedra: “caçar javali, descer o tacape naquele abominável cro-magnon que insiste em escrita rupestre neutra, arrebentar os tambores dessa reive em frente à minha caverna, contratar um designer de interiores para minha mulher parar de reclamar da decoração de estalactites.
A verdade é que lista exige papel e papel exige árvore, motivo pelo qual já devo ter dado cabo de uma boa floresta o que faz com que me sinta amazonicamente culpado, embora não use folha nova. Sou uma ONG recicladora de folhas de ofício usadas sem os chás alucinógenos e a clorofilia. Sou amarfanhado, minha vida é amarfanhada, como minhas anotações. Não me julguem. Minha lista, minhas regras.
Comecei a fazer lista porque sempre esquecia as coisas que meu pai mandava fazer, o que me deixava em risco de ser extinto. Ele dizia que eu só não esquecia a cabeça porque estava em cima do pescoço. Não posso deixar de lhe dar razão. A lista foi um golpe da evolução pela minha sobrevivência; afinal, minha escala de plantões, aulas, reuniões, compras, deveres, pedido dos filhos, ordens da mulher, deve ter sido bolada em algum reality de sobrevivência extrema. Sempre fico esperando uma porta se abrir e alguém anunciar que minhas listas me conduziram pela travessia da vida atarefada, da memória escassa, das comorbidades emocionais, e me tornei o grande vencedor. Meu César way of life - o list for all- será um case de sucesso ajudando a humanidade ir além do politicamente correto, do identitarismo tóxico, do vitimismo narrativo.
Confesso, leitor, que esse HD externo é minha salvação e serve como manual de resistência para vencer a selva pessoal. Imaginem que certa vez perdi o papel em que anotei a vaga do estacionamento em um shopping gigante. Anotação mental: sugerir à indústria automobilista a criação de sistema de conexão entre carro e motorista. Tive que correr fila por fila, andar por andar, apertando o alarme da chave para ver se havia sinal de vida, sem sucesso. Suado, exausto, não me restou senão esperar todos os carros irem embora e achar o meu a menos de cem metros, sob o olhar humilhante do vigia que não acreditava existir alguém como eu. Agora, anoto em duplicata.
Com tantos pecados devo bater na porta do Capiroto para assumir meu lugar no forno da eternidade.
- Não pode ser. Você já veio na crônica da semana passada. Tô com os eleitores de Bolsonaro e Lula à sua frente. Vai pegar o fim da fila e retardar sua entrada.
- Só sei que nada sei, mas retarde. Aliás, se puder, tem um pessoal da terceira via e dos tribunais superiores para queimar antes de mim.
- Quem?
-Tenho uma lista!
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