sábado, 9 de abril de 2022

 


*Grande viagem*

 Estamos em abril de 2006, quando (mais) um brasileiro ‘subiu para o espaço’ (a ‘safra’ tem sido grande e o número de candidatos maior ainda) fico indagando a meu charuto se realmente vale a pena, a gente levar as coisas muito a sério. A ‘ponta de faca’, como dizia meu finado avô.

 Embora algumas idas ao espaço tenham custado muito dinheiro, a verdade é que, nem sempre, isso acontece. Você pode, sem querer, criar asas tipo dançar num plenário de engravatados, devassar a conta bancária de um cidadão, pagar despesas de campanha sem declará-las e acabar também, ‘indo para o espaço’. Para onde vão, sempre, as fumaças companheiras dos meus charutos.

 Como não tenho camisa, passe, senha nem crachá para tais camarotes astronáuticos, cujas cifras e mordomias causam inveja aos ocupantes da geral - sempre atentos por saberem que o leão não é manso - dou-me por feliz e satisfeito com meus ‘puros’ e com um passeio sensorial e cultural pela Estação da Luz na capital paulista. Passeio recomendado.

 De lá cheguei agora mesmo. Das coisas mais lindas vi e vivi naquela antiga estação ferroviária. Falo daquilo que nos une: a língua.

 Trata-se do Museu da Língua Portuguesa, no qual permaneci por mais de quatro horas. Saí, com vontade de ficar. Lá, enquanto examinava a Árvore das Palavras, enquanto assistia a filmes sobre a origem da linguagem, enquanto deixei-me ficar na Praça da Língua e mesmo quando, na Grande Galeria, assisti a 11 filmes simultâneos, enquanto tudo isso, pude fumar meu charuto, mandando suas fumaças para o espaço.

 Por ser amante das palavras, talvez seja eu suspeito para alardear a maravilha. Mas, sinceramente, mesmo não levando as coisas muito a ‘ponta de faca’, brasileiro que se respeita, não pode deixar de visitar o Museu da Língua Portuguesa.

 Os que, como eu, moram longe da capital paulista, não precisam se preocupar com despesas de passagens e estadas. Basta acender seus charutos e viajar em www.museudalinguaportuguesa.org.br Tudo é 0800.

Uma grande viagem.

Tanto quanto a de nosso primeiro astronauta, e bem mais barata.

 

Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.

 ([email protected])

 

Nenhum comentário: