*Colcha
de retalhos*
Junção
de alhos com bugalhos,
algo
dedicado e delicado,
ora
é riscado,
ora
é cor,
ora
é bordado.
Façamos dos retalhos, palavras.
com arte, reunir retalhos
da experiência existencial,
de nossos tecidos-sonhos,
domina os sentidos
a alma, acalma.
Panos? Papéis.
Agulhas? Canetas.
Linhas? Tintas azuis ou pretas.
O
‘patch’ das palavras é pura magia.
Desafio para se costurarem na colcha,
retalhos vivazes, abrasadores de mentes,
harmonia tranquila, pacificadora de espíritos,
admiráveis colírios aos olhos nela debruçados
Nada
melhor - um encanto -
recortar
coloridos tecidos
das
mãos de Machado,
Florbela
e Bilac, nascidos.
Há fatos na vida, emoção pura.
As inspirações poéticas, mais ainda.
As vividas paixões,
esperanças da vida perfeita,
ai de mim!
Tudo se converte em instantes
de sonho e de saudade.
Simples assim.
Ah!
Machado de Assis,
velho
amigo,
confidente
de segredos nunca revelados!
Estavas
coberto de razão.
“Viver é um tédio
profundo,
é tudo sempre o mesmo,
eternamente.”
Florbela Espanca no Livro das Mágoas,
três casamentos sucessivos,
tratando da monotonia do viver,
em tempos velhos, repressivos,
foi mais longe:
“tanto
ser o mesmo lago plácido dormente;
e os
dias, sempre os mesmos, a correr ...”
Olavo
Bilac, (ad)mirando a Via Láctea,
noite
afogada em escuridão abismal,
ouvidos
antenados ao espaço sideral,
teve
as estrelas por mulheres de prata vestidas,
emanando
súplicas de amor.
O vate então, em êxtase, vaticinou:
“só quem
ama pode ter ouvidos,
capaz de
ouvir e entender estrelas.”
Bilac,
viu
nas estrelas as mulheres que amou;
Machado,
no dia-a-dia de prosaica vidinha, entediou-se;
Florbela,
malgrado três casamentos, abismou-se.
Devaneando,
escafedo-me às humanas mesmices.
Enquanto costureiro,
arremato na mesma colcha,
poéticos retalhos de distintos pensadores.
Assim, quem dita a história sou eu.
Enquanto
gatos da casa encarecem carícias,
e
o jornal, sobre a mesa, guarda as notícias,
tenho
intentado
somar,
às horas do dia,
encanto
à magia
do
viver prolongado.
Para tanto, tenho versado
dando à vida,
uma colcha colorida
a capricho estendida,
sobre o tempo do passado.
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