O pacto
Dizem que quando ele ainda namorava dona Maria, foi até a
casa dela lhe levar um cacho de licuri que ele tinha trazido da roça. Ela não
estava em casa, mas a irmã, que o atendeu, pediu:
- Me dá uma penca, Valdomiro.
- Não que desinteira o cacho.
- Então me dá um.
- Não que desinteira a penca.
Ainda outro dia, numa aula de estatística, na Uefs, o
professor Elias lhe perguntou: “Se eu e você vamos assistir ao show de Roberto
Carlos, no Iguatemi, e eu comprei o ingresso antecipado, com desconto, por R$
50 reais, mas você deixou para comprar no dia, por R$ 80 Reais, qual a
porcentagem que você gastou a mais que eu”?
Ele respondeu: “Não gastei nada, porque sou amigo de Daniela
Baruch e ela me deu os ingressos”.
Afora isso, Valdomiro é um grande sujeito. Bom amigo, bom de
papo, bom de gole, de farra e forró. Há alguns anos ele e mais três amigos
costumavam se reunir nos finais de tarde no Boteco do Vital para beber cerveja
e jogar conversa fora.
Foi por essa época que eles fizeram um pacto. Quando um dos
quatro morresse, cada um dos três remanescentes deveria colocar R$ 1 mil no
caixão do morto.
Falecido um dos três amigos, consternados, dois dos três
remanescentes, logo se prestaram a cumprir o pacto e colocaram cada um R$ 1 mil
dentro do caixão. Já estava quase na hora do enterro e nada de Valdomiro dar o
ar da sua graça. Os outros dois já estavam para desistir, quando ele chegou,
cumprimentou a todos com a clássica balançada da cabeça, e foi conferir o
caixão.
Vendo que os outros dois amigos já haviam colocado, conforme
o combinado, cada um R$ 1 mil, em espécie, não pensou duas vezes. Sacou o talão
e preencheu um cheque de R$ 3 mil, cruzado e nominal ao defunto, colocou no
caixão e embolsou o dinheiro que estava no caixão.
NE: Publicada no livro A Levada da Égua 2004
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