
Ainda criança fui ensinado a distinguir o bem e o mal. O
antagonismo destas duas forças universais que parece não ter fim, é algo com
que convivemos a cada segundo da nossa existência. Isso é bom, aquilo é ruim.
Fulano é bom, sicrana é má. O mal se paga com o bem. O bem sempre vence o mal.
Deus é bom, o demônio é ruim. Estes conceitos, de tão repetidos, dominam a
nossa mente e dificilmente conseguimos ter outras perspectivas além de uma
eterna rivalidade, de um eterno antagonismo de poderes universais que,
supostamente, estão além da compreensão humana.
Contudo,
modéstia à parte, eu, que sempre fui um bom observador, percebia situações em
que nem sempre o que parecia ser bom era mau e vice versa. Ficava intrigado,
mas não ousava contradizer os mais velhos, nem questionar tais fatos. Mais
tarde, já adolescente, ouvi Raul Seixas cantando: ...ói, ói o mal, vem de
braços e abraços com o bem, num romance astral! E para completar, li Gibran
falando sobre a tristeza e a alegria: “Enquanto uma senta à tua mesa, a outra
repousa na tua cama”.
Recentemente
li um texto em que o autor narrava o que ele dizia ter presenciado num centro
espírita. Segundo ele, um médium incorporou um espírito e quando o médium
doutrinador se aproximou dizendo, “bem vindo, meu irmão”, a resposta que se
ouviu foi surpreendente. “Não sou seu irmão”! A partir daí há uma série de
diálogos em que o espírito diz palavras duríssimas. À médium doutrinadora ele
diz: “Você diz que eu estou doente, mas doente é você, que posa de boazinha,
mas vive a promover intrigas e falar mal dos seus semelhantes, até mesmo entre
as pessoas desta casa”.
A
outro que lhe alerta que “é preciso amar ao próximo”, ele diz: “Quem é você pra
me falar de amor? Você não consegue perdoar seu filho, sangue do seu sangue,
com o qual está sem falar há mais de dez anos, duvido que seja capaz de amar a
mim, um completo estranho”. Depois ele admite não ser um seguidor das ideias do
Cristo e ainda diz que não precisa obsediar ninguém naquele centro, porque
todos ali são obsessores uns dos outros.
Refletindo
sobre o texto, eu fiquei a me perguntar: Nesse caso, o tal espírito, tido no
texto como um “ser das trevas”, teria feito um mal ou um bem? Lembrei-me que
diversas vezes na minha vida, por parte de amigos ou de pessoas que não
gostavam de mim, ouvi verdades que eu precisava ouvir. Sinceramente, embora um
tanto ressentido no momento, percebi depois que aquelas pessoas me fizeram um
favor, me alertando sobre comportamentos inadequados que deveria evitar. E
graças a elas, eu pude mudar de atitude e agir melhor no futuro, melhorando assim
a mim mesmo.
Às
vezes, pedimos opinião ou conselhos a alguém, mas querendo ouvir palavras
doces. E quando as palavras nos ferem ou contrariam as nossas expectativas,
ficamos aborrecidos. De minha parte, aprendi que é melhor chorar com as
verdades do que sorrir com mentiras.
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