quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Marina candidata à presidência muda cenário eleitoral



           A entrada de Marina Silva na disputa eleitoral a presidência da República muda o cenário, que acena com maior possibilidade de um segundo turno.  Pesquisa feita pelo Datafolha para o jornal “Folha de S.Paulo” divulgada na edição de segunda-feira passada (18) mostra Dilma Rousseff (PT) com 36% das intenções de voto para presidente, seguida de Marina Silva (PSB), com 21%, e Aécio Neves (PSDB), com 20%. Em uma simulação de segundo turno Marina aparece empatada tecnicamente com Dilma, mas ganharia com 47% contra 43% da presidente.
Na quarta-feira passada (20), foi oficializada a candidatura de Marina Silva à Presidência pelo PSB, em substituição a Eduardo Campos, que morreu em um acidente aéreo na semana passada. A nova chapa, com a composição já esperada, tem o deputado federal Beto Albuquerque, como candidato a vice.

Tanto aliados como opositores, são de opinião de que o ingresso de Marina Silva na cabeça da chapa presidencial do PSB alterou a disputa eleitoral, determinando inevitavelmente um segundo turno e ameaçando o projeto de mais uma reeleição do PT. A avaliação geral é de que Marina e Aécio Neves (PSDB) irão travar uma acirrada disputa por vaga no segundo turno com Dilma Rousseff. Entre os aliados do PT, a análise é de que a ambientalista Marina é uma adversária mais perigosa.

Notícias dão conta de que as preocupações com o novo cenário se estendem a todos os partidos aliados de Dilma. Para o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, "Marina tem um capital eleitoral maior do que Aécio". Ele pondera que o adversário no segundo turno não está decidido porque o tucano "tem maior força nos palanques estaduais".

O presidente nacional do PC do B, Renato Rabelo (SP), um dos aliados mais fiéis do PT, afirma: “O que se diz é que Marina tem penetração muito grande nas camadas médias e também entre as populares, para cima e para baixo. Teoricamente, no enfrentamento com Dilma, ela poderia oferecer maior resistência, mais dificuldades do que o Aécio, que, do ponto de vista da base social, agrega mais entre a camada média e alta do Sudeste e do Sul”.

Já o candidato do PSDB Aécio Neves afirmou: “Isso não muda absolutamente nada. Nosso adversário é o governo que está aí, que leva o Brasil a ter o pior crescimento na nossa região. Nós continuaremos a apresentar uma proposta alternativa a essa que está aí há 12 anos nos governando e tenho extrema confiança de que nós vamos para o segundo turno”.


É fato que Marina Silva traz para as eleições deste ano, por força do destino, um elemento que estava ausente: a força do símbolo, como bem disse em um comentário o jornalista Renato Guimarães. Várias pesquisas mostram que uma parcela significativa dos eleitores quer "mudança", mas nenhum dos candidatos, sequer Eduardo Campos, estava conseguindo personificar este desejo latente na sociedade. Diante desta ausência de forças simbólicas, a inércia ia apontando para uma disputa quase plebiscitária. E é aí que a chegada de Marina muda tudo. Ela traz consigo a possibilidade de ser a encarnação viva desta mudança.

Especialistas apontam fraquezas de presidenciáveis

O site BBC Brasil ouviu especialistas para apontar as maiores fraquezas dos três presidenciáveis mais bem colocados pelas pesquisas de intenção de votos e o impacto que elas podem ter nas urnas, o que o leitor pode conferir a seguir:

Para o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, Dilma apresenta "cansaço eleitoral" e seu maior desafio é propor uma "mudança, mas com continuidade". "Os desgastes relacionados ao tempo em que seu partido está no poder constituem, sem sombra de dúvida, um ponto fraco na candidatura de Dilma", concorda Antônio Carlos Mazzeo, cientista político da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Marília. O cientista político e sociólogo Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que Dilma tem pouca empatia junto a uma classe média urbana que cobra "essência das instituições" e cujas insatisfações não foram "correspondidas". "Os escândalos ocorridos durante o governo PT 'colaram' na imagem da candidata. É difícil para ela se desvencilhar disso", diz.
Fora do plano político, a economia é outro ponto que especialistas classificam como um dos pontos fracos na plataforma de Dilma. "A economia não tem tido o mesmo desempenho do que na época de Lula e a inflação começa a pesar mais fortemente no bolso dos consumidores, sobretudo os mais pobres", diz Ismael, da PUC-Rio.
Os especialistas ressaltam, contudo, que Dilma ainda tem grande capital eleitoral em regiões mais pobres do Brasil devido às políticas de transferência de renda implementadas durante o governo petista, como o Bolsa Família. Além disso, tem a seu favor bons índices de aprovação. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 38% dos brasileiros avaliam o governo de Dilma como "bom" ou "ótimo".
Sobre Aecio Neces Mazzeo, da Unesp de Marília, diz que "as recentes denúncias envolvendo seu nome tiveram um impacto fortemente negativo na campanha do tucano, uma vez que minaram o 'projeto moralizante' que ele propunha para o Brasil, em relação a Dilma". Em julho, o jornal Folha de São Paulo publicou reportagem mostrando que o governo de Minas construiu um aeroporto em um terreno pertencente ao tio de Aécio.
Mazzeo acrescenta que, além de faltar "carisma" ao candidato do PSDB, o próprio partido sofre de um problema "estrutural": "O PSDB não apresenta nenhuma proposta econômica profundamente diferente da do PT", diz o cientista político. Para Ismael, da PUC-Rio, o principal ponto fraco do tucano é "sua dificuldade de falar com eleitores mais pobres, especialmente os do Nordeste". "O maior desafio de Aécio é tentar mostrar que suas propostas para estimular o crescimento da economia não vão sacrificar as conquistas sociais obtidas ao longo do governo petista", argumenta. Já para Baía, da UFRJ, o tucano, apesar de ter sido governador de Minas Gerais durante oito anos, não "é um líder nacional testado”.
Marina Silva enfrenta o desafio de unir as fileiras do partido em torno de sua candidatura, de acordo com os especialistas. Para Mazzeo, a candidata do PSB não "tem o apoio de todo o partido. "Marina não pertence à estrutura do PSB e só foi lançada candidata por causa de uma costura feita pelo grupo hegemônico da legenda. O nome dela nunca foi consenso e isso pode lhe causar problemas".
Outro ponto fraco da candidata, dizem eles, está na falta de uma plataforma ampla e clara que mostre sua visão sobre os vários problemas do país. Na avaliação de Ismael, da PUC-Rio, "Marina precisa mostrar aos eleitores que tem um programa de governo que não se restringe à questão ambiental. Ela capitaliza um eleitorado de maior renda e escolaridade que já está cansado da alternância no poder do PT e do PSDB”.
 Para Baía, da UFRJ, a fraqueza de Marina seria "a falta de experiência como gestora. Marina é um nome conhecido por todo o país desde as eleições de 2010. Já foi senadora e ministra. Mas lhe falta no currículo uma experiência direta com o povo", argumenta. (Com informações da BBCBrasil) 



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