Um ano e meio à frente da Secretaria de
Cultura, Esporte e Lazer e o secretário Jailton Batista já realizou mais do que
alguns antecessores em quatro anos de governo. Além de tocar projetos já
existentes como o Festival Vozes da Terra, que passou a ser regional, implantou
novos com grande sucesso, como o Natal Encantado e o Festival Samba de Roda. Em
entrevista ao Noite Dia ele faz um balanço das atividades realizadas até o momento
e fala dos projetos que serão executados até o final desse ano, como a criação
de uma Orquestra Sinfônica e reativação de filarmônicas.
Segundo Jailton Batista, o projeto mais
desafiador foi assumir a pasta e dois meses depois realizar a Micareta. “Aquilo
é assustador, e a gente conseguiu introduzir já naquele momento algumas
pequenas mudanças, que pareceram grandes mudanças. Caiu bem mudar o “lay out”
do circuito, estimular que os grandes artistas fizessem dobradinhas com
artistas da cidade, acabar com o corredor polonês, organizar o espaço da festa,
melhorar a segurança. Enfim, houve uma melhoria no formato de festa”.
A secretaria faz mais de 1.300 eventos
por ano, seja diretamente ou dando apoio a eventos ligados ao esporte, a
cultura e ao lazer. “Realmente, tem muita atividade, e a secretaria tem uma
estrutura pequena, ela precisa ser estruturada. Eu tenho discutido isso com o
governo, no futuro vai ter que haver um desmembramento, que a área de esportes
tenha uma estrutura, e a área de cultura possa cuidar só da área de cultura. A
quantidade de projetos a serem desenvolvidos é que vai empurrar e determinar
essa separação em algum momento”, diz o secretário.
Para
viabilizar os projetos, estão sendo buscados recursos nos sistemas nacional e
estadual de cultura e até na iniciativa privada. “A cidade não tinha um sistema
de cultura e nós criamos. Não estou dizendo que é bom, mas aprovamos na Câmara
um sistema municipal de cultura, reativamos o Conselho Municipal de Cultura, que
é muito participativo. Até os suplentes
aparecem nas reuniões, uma coisa que era impensável, o conselho de cultura nem
existia, nem se reunia”, informou.
O município está cadastrado no Fundo Nacional
de Cultura (FNC), no Sistema Nacional de Cultura. Do ponto de vista sistêmico, o
município está legal, organizado, para receber no futuro recurso do FNC que
está sendo regulamentado pelo Congresso. Graças a essa organização, Feira de
Santana também pode receber dinheiro do Faz Cultura. “Acabamos de fazer um
festival de samba de roda com dinheiro do Ministério da Cultura, porque o
governo de Feira de Santana está legalizado, adimplente, não tem nenhuma
pendência. É tudo muito pequeno ainda, mas a secretaria está sistemicamente
organizada. Pela primeira vez nesse governo, a secretaria de cultura recebeu
dinheiro desses fundos. Para realizar o Natal Encantado recebeu dinheiro do Faz
Cultura, também para o Festival do Samba de Roda. Vários pequenos projetos
estão em andamento.
Cultura e
Educação
- Um dos projetos que acho mais
fantásticos de se realizar é vincular a cultura à educação, e nós estamos na
primeira experiência de juntar cultura com educação – diz o secretário
entusiasmado. E cita que com a iniciativa privada conseguiu a formação de cem
músicos clássicos (violino e flauta doce) em duas escolas no bairro do Tomba,
financiado por uma empresa. “Nós estamos com um projeto música nas escolas, tem
o projeto da orquestra sinfônica da rede municipal de ensino. O de oficinas de
música das escolas, já com todos os equipamentos, violão, flauta, sanfona e
teclado. Quando a criança aprende tocar teclado, sanfona, já tem uma profissão.
Um bom sanfoneiro hoje é raro e já estamos dando uma perspectiva para ela. Nós
queremos que todas as escolas tenham um coral. No ano passado tínhamos 21
corais, esse ano já serão 50 corais nas escolas, e todos se apresentam no Natal
Encantado. O samba de roda que fizemos agora teve um início nas escolas”.
O projeto pró-cultura do município, que
é de esporte, as contrapartidas são sempre nas ações sociais ou nas escolas.
Afirma Jailton, justificando que é preciso que essa criançada tenha acesso à
cultura, porque é um caminho para tira-las das ruas. Elas precisam ter
referência da cultura, que é uma referência muito espiritualizada. É muito
difícil um artista, uma pessoa ligada à cultura, que tem sensibilidade, cometer
um crime”.
Um outro projeto é a reativação das
filarmônicas da cidade. Através da Fundação Cultural Egberto Costa, já firmou
contrato para a reativação da Filarmônica Euterpe Feirense, que já está
recebendo recurso. E está sendo estudada uma forma de apoiar a 25 de Março. É
pretensão do secretário ainda reativar uma filarmônica em Bonfim de Feira.
Plano de cultura
Foi aprovado na Câmara Municipal o plano
de cultura para Feira de Santana para os próximos dez anos. Esse plano pode ser
revisto, mas é aprovado pela câmara, é lei. “Isso não quer dizer que eu quero
ficar aqui pelos próximos dez anos, de jeito nenhum. Mas tem um plano que
qualquer secretário que chegar, já vai encontrar um esquema aprovado, discutido
com todo segmento de cultura da cidade, com parcerias, com todo arcabouço. Como
deve ser feito isso, os grandes eventos que a cidade deve antecipar, manutenção
da orquestra sinfônica, apoio às filarmônicas, uma companhia de dança popular
na cidade. Queremos reativar a cultura popular, o festival de samba de roda faz
parte disso, como fazem parte disso, apoiar todas as manifestações culturais de
Feira de Santana.
Existe a ideia do Museu da Imagem e do
Som, onde também comporta o museu do homem sertanejo. O que vem da ideia do
museu da pessoa, que é uma ideia complexa, está em uma fase empírica, que
precisa desenvolver, o cinema itinerante, o cinema de arte da cidade, está
dentro do nosso projeto criar galpões culturais nos bairros que tem mais
ativismo cultural na cidade. Tudo hoje é muito precário, o pessoal não tem onde
ensaiar, os grupos se manifestarem de pelo menos quatro grandes polos pobres da
cidade, como Tomba, Rua Nova, Campo Limpo, a zona mais ao leste da cidade, para
que a população pudesse ter um espaço, onde pudesse ter seu grupo de dança ou
de teatro, ou fazer algumas experiências culturais, várias áreas, ou de cinema,
ou de artes visuais, enfim. São projetos que a cidade demanda mais equipamentos
culturais. A gente precisa requalificar os nossos teatros, nossos equipamentos
de cultura precisam ser mais qualificados, do ponto de vista de estrutura,
tanto de tamanho quanto de conforto, as pessoas se sentirem orgulhosas de estar
naquele espaço. Eu creio que é preciso fazer muita coisa na cultura de Feira de
Santana.
Civismo
“As pessoas se acostumaram com o
conceito de que porque dirige uma associação, uma entidade qualquer tem poder.
Deveria sim ter o poder de contribuir e fazer a mudança e a transformação. A cidade
precisa ter mais civismo. E o que é civismo? É pensar mais coletivamente, e não
particularmente, repensar Feira. Ter uma preocupação com minha cidade, é o
espaço onde eu vivo, eu preciso que tudo aqui aconteça da melhor forma
possível. Sou um cidadão de Feira, tenho compromisso com a cidade que vi
crescer.” Diz o secretário.
“Feira é uma cidade muito dinâmica –
continua Jailton. Quando eu cheguei aqui eu me impressionei, é muita desordem,
mas há muito desejo também de que as coisas entrem em ordem. As pessoas têm
vontade de que as coisas funcionem. E Feira é uma cidade que tem resposta, assim
como tem resposta econômica quando você bota um negócio e ele dá certo, tem
resposta na área de cultura”.
Ele citou como exemplo que uma pessoa
até de alto nível, disse que colocar o balé e teatro Castro Alves na praça
pública, só atrairia uns quatro gatos pingados. Depois quedou-se: Olha, fiquei surpreso, e agora eu dou a mão
à palmatória aqui. Dia de chuva e a plateia lá esperando o teatro. As
pessoas estão com sede disso, a questão é você ter oferta de qualidade, se você
dá acesso às pessoas, elas vão, prestigiam.”
Projetos
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Um outro projeto previsto é o Dançando
na Avenida, que foi feto no ano passado, tem que fazer no verão para não correr
o risco de chover. “A gente começa a partir de Outubro e vai até Fevereiro,
quando a gente bota o povo para dançar na avenida”. Afirmou Jailton Batista que
informa ainda que tem um projeto de verão para a cidade, na área de esporte. “Estamos
com a ideia de tomar várias competições esportivas no Rio Jacuípe, nós nunca
utilizamos o rio como área de lazer. Estamos com ideia de fazer lá pelo menos
quatro competições, que é a copa de vela, a copa de stand-up, a canoagem e a
procissão dos navegantes, para Nossa Senhora Santana, cuja festa era em janeiro
no passado, e o bispo já autorizou. E mais uma travessia Feira - São Gonçalo a
nado. Nós iríamos fazer isso ano passado, mas em função do Natal Encantado, a
secretaria não tinha corpo técnico, engenheiros, nós suspendemos, está tudo
articulado inclusive com o pessoal de Salvador, que faz a travessia mar Grande,
que faz a copa de velas de Paulo Afonso e de Salvador. A gente quer usa o rio
Jacuípe como área de lazer, acostumar Feira de Santana com o esporte náutico.
Além disso tem as competições esportivas,
“a copa de bairros de Feira de Santana, que é recorde nacional, com 57 bairros.
A copa interdistrital, e a copa dos campeões de esporte. Também os jogos da
adversidade, que já aconteceram, e as olimpíadas estudantis que a gente está
querendo reforçar mais. Somente na área de esportes vê-se a quantidade de
atividades. A gente precisa dar uma utilidade maior às quadras esportivas e
fazer mais esporte. Tem um programa chamado esporte cidadania, que estaremos
começando no mês que vem, que é nas comunidades que tem escola, quadras,
equipamentos públicos, que é para a gente articular e suar nas quadras de
futebol, com os meninos com assistência social, com saúde, e com materiais,
etc. Vamos fazer um piloto com 200 crianças dos bairros Asa Branca e Gabriela,
depois vai ser possível ampliar esses projetos para outros bairros.”
Na área cultural eu só tenho a dizer que
a gente tem muito desafio. Segundo Jailton, a cidade tem muitos festivais, que
estão bons, mas que precisam melhorar. “Inclusive nós ampliamos todos os
festivais que eram do município e agora é da região metropolitana. A gente tem
que se voltar para o sertão, festival de samba de roda, festival vozes da
terra, festival gospel, teatro nos bairros, precisam ser ampliados para a
região. Uma coisa boa que aconteceu foi a integração da secretaria com o Centro
Universitário de Cultura e Arte, da UEFS. Trabalhamos muito juntos. O festival
do sanfoneiro, nós estamos trabalhando juntos, o bando anunciador, a gente
apoia, todas as atividades do CUCA, estamos juntos, porque o CUCA apoia as
atividades da secretaria. Então essa sinergia com outras interações, outros
órgãos, tem sido interessante, porque se é uma política cultural, não pode ser
da secretaria de cultura, tem que ser do município. Se o CESC tem programa de
cultura, se as empresas privadas têm programa de cultura, se o governo do
estado tem, se a universidade tem, temos que pensar isso coletivamente, juntar
e fazer, não partidarizar a cultura. Isso tem ocorrido, não na escala que a
gente imagina, mas está plantada essa semente de que é preciso a política cultural.
Nós temos que levar em consideração pensar cidade. O que a universidade está
fazendo? Então eu não vou repetir, vou fazer junto, vou tentar apoiar para que
esses eventos repercutam mais na comunidade”, concluiu.
Quem é Jailton
Batista?
“Quando cheguei em Feira de Santana,
alguém me chamou até de estrangeiro. Mas eu sou um estrangeiro que tem uma ligação
profunda com essa terra. Fiquei aqui menino, tinha 12 anos, para estudar no Colégio
Assis Chateaubriand, depois no estadual. Todo sonho de menino do interior era
concluir aqui o primeiro grau, depois o segundo grau. E minha formação como
cidadão foi toda em Feira, me formei e cresci como jornalista. Conquistei
coisas importantes em Feira de Santana. Tenho família, filhos. Eu saí de Feira
sempre naquela história, você tem uma ponta do compasso, você gira mas tem uma
base que está aqui, vai girando e você sempre seguindo. O ser humano é assim,
ele vai crescendo, e quando vai ficando adulto, e vai pela perspectiva de que
você tem que construir um espaço onde você deve terminar sua existência. A
primeira coisa que você faz é, alguém chamava de “voltar para o útero da mãe”,
voltar para o lugar que te acolheu, que no meu caso é Feira de Santana.
Eu recebi o convite de vir para cá. Profissionalmente
eu estava bem, tinha construído bem minha carreira na área farmacêutica, na
área de gestão de empresas, graças a Deus muito boa, fora inclusive do Brasil,
morei na África, tive uma temporada em Angola, Moçambique, África do Sul, tive
possibilidade de conhecer o mundo inteiro. Fui gestor de uma grande empresa
farmacêutica, tive o privilégio de ser o profissional que lançou o primeiro
medicamento Genérico do Brasil, na época eu era diretor geral da empresa.
Criei o primeiro instituto de pesquisa
de farmocinética privado do país. Então essas coisas me deram muito. Eu estava
achando que estava na hora de pensar, como tinha raízes muito profundas na
cidade, eu tinha uma propriedade na Chapada Diamantina que é minha terra, eu
tenho netos aqui, filhos, e quando recebi o convite, aquilo me deu uma
inspiração. “Será que não seria bom realmente voltar pra Feira?” Embora ausente
quase 17 anos, eu tenho muitos amigos em Feira de Santana, carinhosos, irmãos
meus, e eu me sinto muito bem em Feira, que é uma grande mãe para todo mundo,
principalmente quem não nasceu aqui, é bem acolhido na cidade. Aí isso me
balançou, mas eu tinha dificuldades profissionais, porque não podia me
ausentar, tanto que fui um secretário que assumiu depois, e achei que esse
desafio seria interessante. Realmente achei que a cultura não estava nos meus
planos, eu estava pensando numa área mais econômica, uma área ligada à saúde, outras
áreas, outros desafios que não fossem esses, mas também, quem é gestor tem que
saber descascas um abacaxi em vários cantos. E foi também pelo fato de eu gosto
de cultura, posso dizer que sou um consumidor de cultura, de livros, de música.
Eu tive uma experiência de ter escrito um livro, isso vincula de certa forma
algum interesse cultural. Então aceitei.
Minha formação acadêmica foi na UEFS. Eu
iniciei com economia, mas em função do trabalho de jornalismo, o curso era à
noite, não podia continuar, fiquei 3 anos no curso de economia, depois fiz
ciências sociais, estudos sociais em Feira. Depois segui para área de gestão,
fiz pós-graduação em gestão de empresas, em marketing, essa é minha formação. E
aí pensei que poderia dar uma contribuição em Feira, eu achava honroso. Fui
secretário jovem aqui, fui o primeiro secretário de comunicação no governo de
Colbert Martins. Eu era muito novo, 25, 26 anos de idade, e aí voltar à cidade,
já uma metrópole, achei que seria uma oportunidade de dar minha contribuição, o
que é muito honroso, além de ter meus aspectos pessoais, ficar perto da minha
família, viver perto da minha propriedade lá na chapada, e pensei que poderia
até conciliar essas coisas.
Fui convidado pelo prefeito José
Ronaldo. O PMDB fez um acordo de governo e nesse acordo me indicaram.
Inicialmente relutei, mas depois aceitei, achando que a cidade é muito
receptiva, e fui muito bem recebido, graças a Deus. Havia muita desconfiança, o
que uma pessoa ligada à indústria farmacêutica vem fazer trabalhando com
cultura, parecia esdrúxulo mesmo. Mas acho até bom você ter gente que não está
no meio. Quebrar um pouco os vícios, a cadeia de interesses. Porque você tem
alguém que não está defendendo muito o grupo de música, o grupo de teatro, nem
de cinema, está defendendo todo o conjunto da cultura, isso seria, talvez,
muito importante”.
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