domingo, 16 de outubro de 2016

Viajar é preciso

  
Comecei minhas viagens pelo Brasil aos 14 anos. Ia na carona de amigos mais velhos, representantes comerciais, depois com amigos caminhoneiros e, finalmente de ônibus ou avião. Nunca gostei de pacotes turísticos, porque os guias nunca nos mostram o que realmente seria interessante ver. Prefiro me misturar ao povo, conversar com as pessoas, interagir com elas, conhecendo seus usos e costumes, sua cultura enfim. E assim fui descobrindo a riqueza cultural do Brasil, as suas belezas naturais (Cataratas do Iguaçu Pr - Poço Encantado Ba - são exemplos), seus monumentos históricos (Cristo Redentor - RJ - Estátua de Padre Cícero - Ce - Cidade de Olinda Pe) e por aí vai. Culinária, música, festejos típicos, danças, sotaques, há muita coisa linda e curiosa para se vivenciar e compartilhar nesse imenso país.

            Havia mais de 30 anos que não ia a Aracaju (Se), embora tivesse chegado bem perto em várias oportunidades. Estive lá recentemente visitando parentes e fiquei impressionado com o desenvolvimento da cidade. Mais ainda com a organização, limpeza e educação daquela gente. Há muitos anos, quando estive em Juazeiro com Maura, que estava indo pela primeira vez, eu disse a ela: Vamos cruzar a ponte para Petrolina à pé, e observe a diferença. Juazeiro era suja, ruas tortas e mal pavimentadas, povo mal educado. Petrolina era o inverso. Organizada e limpa. Fruto da colonização por holandeses.
            A respeito disso, certa vez parei numa lanchonete à beira da estrada entre Feira e Salvador, e quando me aproximei do balcão um garçom estava advertindo, zangado, a um outro, de cara muito feia. Quando se dirigiu a mim, com o semblante já mudado e gentilmente me perguntando o que eu desejava, eu prestei atenção nele. Fiquei reparando a forma como ele tratava todo mundo por ali e como as pessoas dali pareciam gostar dele. Quando fui pagar a conta perguntei por que ele estava bravo quando entrei na lanchonete, e ele me explicou que era por conta da indolência e irresponsabilidade de um funcionário. Aí eu perguntei: Você não é baiano, não é? E ele respondeu que era pernambucano. “Como o senhor sabe”? Indagou. E eu disse: Porque eu sou baiano, mas conheço a sua terra. Seu sotaque e sua gentileza lhe denunciaram.
            Pois é. Viajar é preciso para se saber que o mundo não é só aqui onde vivemos. Podemos aprender muitas coisas boas com outros povos, e coisas ruins também, para sabermos como evitá-las. Em Aracaju, além da limpeza das ruas, das ruas bem iluminadas, praças bem cuidadas, eu vi um trânsito com poucos semáforos. A gente põe o pé na faixa (ou mesmo atravessando a rua fora dela, o que é errado) e, de longe os veículos já vão parando. Não se ouve um barulho de carro de som, e há policiais patrulhando por toda a parte que se anda. Quando um veículo para num semáforo, duas ou três motocicletas aparecem, emparelhando, não mais que isso. Morrem duas ou três pessoas por semana. Geralmente são bandidos abatidos em confrontos com a polícia ou em acidentes nas estradas que levam aos municípios vizinhos, que aliás, são muito próximos uns dos outros. À noite, vi famílias passeando pelas praças e calçadas, com crianças bem pequenas, outras se divertindo em bares, restaurantes, e muita, muita mesmo, música de qualidade. Principalmente forró. Eita povo forrozeiro!
            Sem exagero. Voltei com a impressão de que estive no céu e voltei ao inferno. Estava tão acostumado com a brutalidade dessa cidade, que já me esquecia que existe civilização em outras partes do Brasil, inclusive aqui mesmo na Bahia. Até breve, Aracaju!





P.S. Nos cinco dias que passei por lá, observei a propaganda eleitoral dos dois candidatos a prefeito para o segundo turno, Edvaldo e Valadares. Ouvindo o discurso de ambos, se tivesse que apostar eu diria que o povo de Aracajú vai eleger Valadares. Pena que não tive tempo de fazer minha infalível pesquisa de botequim.

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