Comida vegana
crua combate a obesidade? Suplementos nutricionais podem substituir uma
refeição? Uma dieta de alimentos alcalinos melhora o pH do sangue?
Segundo a Associação Dietética Britânica (BDA, na sigla em inglês), a
resposta às três perguntas acima é "não", apesar de essas premissas
embasarem algumas das dietas mais populares da atualidade - popularidade que
vem da difusão nas redes sociais e do endosso de celebridades.
Com base no que é divulgado na imprensa e na internet, a BDA elege
anualmente cinco dietas que prometem saúde e emagrecimento, mas devem ser
evitadas porque podem trazer justamente o contrário, segundo os especialistas
da associação.
Veja quais são
as escolhidas em 2017, por que elas são criticadas e o que dizem seus
defensores:
1. Dieta crudívora
A dieta baseada em alimentos veganos e crus ganhou supostos adeptos como
a atriz e empresária Gwyneth Paltrow e o cantor Sting prometendo a perda de
peso e uma limpeza no organismo.
O cardápio crudívero incluiria alimentos que não foram modificados, enlatados, processados quimicamente ou aquecidos a mais de 48ºC. Defensores argumentam que o aquecimento destrói algumas enzimas naturais e alguns nutrientes dos alimentos.
O cardápio crudívero incluiria alimentos que não foram modificados, enlatados, processados quimicamente ou aquecidos a mais de 48ºC. Defensores argumentam que o aquecimento destrói algumas enzimas naturais e alguns nutrientes dos alimentos.
Mas a BDA questiona os benefícios disso. "Uma dieta vegana bem
planejada com suplementos necessários, como vitamina B12 e D, pode até ser
saudável, mas não garante a perda de peso", diz comunicado da associação.
"Comidas veganas geralmente contêm as mesmas calorias das não
veganas. (...) Embora alguns alimentos sejam benéficos quando consumidos crus,
outros são mais nutritivos quando cozidos - como cenouras - e outros nem sequer
podem ser comidos crus, como batatas. Não há motivo para acreditar que o
alimento cru seja inerentemente melhor. (A dieta) pode não prejudicar seu corpo
no curto prazo, mas fazê-lo a longo prazo caso não seja balanceada."
Além disso, por se tratar de uma dieta extremamente restritiva, ela é
difícil de ser seguida e não é adequada para crianças ou mulheres grávidas, por
exemplo.
E, para alguns especialistas, a evolução fez com que perdêssemos algumas enzimas para digerir certos alimentos crus. Sob essa interpretação, nosso corpo simplesmente não aguenta, no longo prazo, uma dieta sem comidas cozidas.
E, para alguns especialistas, a evolução fez com que perdêssemos algumas enzimas para digerir certos alimentos crus. Sob essa interpretação, nosso corpo simplesmente não aguenta, no longo prazo, uma dieta sem comidas cozidas.
2. Dieta alcalina
Essa dieta se baseia na ideia de que consumir mais alimentos alcalinos -
frutas como o limão, além de alho, batata, alguns legumes e cereais - e menos
ácidos ajuda a mudar o pH (índice que mede acidez, alcalinidade ou
neutralidade) do sangue e até mesmo tratar câncer e osteoporose.
No entanto, segundo a BDA, essa ideia parte de um falso entendimento
sobre a fisiologia humana: o pH dos alimentos não impacta o pH do sangue.
"Nosso corpo é perfeitamente capaz de manter o sangue dentro de um
espectro bem específico de pH (entre 7,35 e 7,45). Se ele não conseguir fazer
isso, você ficará doente rapidamente e pode morrer se não for tratado. Dietas
alimentares podem mudar o pH da urina, mas isso não está relacionado ao pH do
sangue, que não é afetado pela alimentação", diz.
A conclusão da associação é de que a dieta alcalina pode resultar em
perda de peso por favorecer a ingestão de mais vegetais e cortar alimentos
processados - mas isso não tem nada a ver com a alcalinidade ou acidez da
comida.
3. Dieta de suplementos nutricionais
de Katie Price
A modelo e apresentadora britânica Katie Price tem promovido uma série
de shakes desenvolvidos para substituir refeições, descritos como saborosos,
com baixo índice de gordura e com nutrientes essenciais e apenas 185 calorias.
Prometem perda de peso e tonificação muscular, mas sem explicar bem como isso
ocorreria cientificamente.
A BDA torce o nariz para substitutos de refeições e supressores de
apetite como esse - vistos pela associação mais como uma forma de ganhar
dinheiro do que de promover a saúde.
"A perda rápida de peso (promovida por shakes) pode ser motivadora,
mas é insustentável", diz a associação. "Supressores de apetite não
são saudáveis, recomendáveis nem um modo sustentável de perder peso. (...)
Produtos que substituem refeições funcionam pela restrição da ingestão de
calorias e não precisam ser parte de um projeto saudável de perda de
peso."
Para Sarah Coe, da Fundação Britânica de Nutrição (BNF, na sigla em
inglês), "os substitutos de refeições podem ser úteis para pessoas que têm
muito peso a perder, mas sempre devem ser usados sob supervisão de um
profissional da saúde".
A empresa Katie
Price Nutrition foi contactada pela BBC, mas não quis comentar.
4. Dieta de Pioppi
A dieta de Pioppi (nome de uma cidade italiana de população extremamente
longeva) promove alguns princípios da dieta mediterrânea para perder peso e
reduzir o risco de diabetes tipo 2, mas com algumas modificações - que não
agradaram a BDA.
Seus criadores, Aseem Malhotra e Donal O'Neill, recomendam refeições com
poucos carboidratos e mais gorduras, além da ingestão de frutas, verduras,
peixes, azeite de oliva, álcool com moderação e a prática de exercício físico.
Eles sugerem evitar carne vermelha, carboidratos e açúcar.
De fato, as recomendações a uma alimentação com frutas e vegetais
abundantes, peixes e azeite de oliva estão em linha com diretrizes oficiais de
dietas saudáveis. Mas a BDA ressalta que a dieta de Pioppi tem diferenças
importantes em relação à mediterrânea.
"Os autores talvez sejam as únicas pessoas do planeta que viajaram
à Itália e voltaram com uma dieta que exclui massas, arroz e pães - mas inclui
coco -, talvez por eles defenderem uma agenda de baixa ingestão de
carboidratos", diz a associação.
"É ridícula a ideia de que essa aldeia italiana deva ser associada
a receitas como pizza à base de couve-flor, um substituto de arroz também feito
de couve-flor ou qualquer coisa usando óleo de coco. (A dieta) também estimula
as pessoas a passarem fome durante 24 horas em determinados momentos da semana.
(...) A dieta mediterrânea tradicional é saudável, mas foi sabotada (pela dieta
de Pioppi)."
Mas Malhotra, um dos autores da dieta de Pioppi, que é médico
cardiologista e assessor do Fórum Britânico de Obesidade, defende que sua dieta
"é uma avaliação independente, que combina os segredos de um dos povos
mais saudáveis do mundo com as mais recentes investigações médicas,
nutricionais e de exercícios para desmascarar muitos dos mitos das indústrias
da perda de peso e da saúde".
Ele agrega que a dieta "recebeu o respaldo de diversos importantes
médicos internacionais" e questiona "os vínculos financeiros e a
influência de empresas alimentícias na BDA".
"Na minha opinião, não se pode confiar neles como fonte independente
de assessoramento dietético", afirma Malhotra.
Em resposta, um porta-voz da BDA afirmou que "a análise que
publicamos sempre se baseia em provas e não é afetada pelas relações que temos
com produtores de alimentos".
5. Dieta cetogênica
Diversas celebridades foram associadas à dieta cetogênica, como a
estrela de reality shows Kim Kardashian, o atleta Kobe Bryant e o ator Alec
Baldwin.
A premissa é consumir poucos carboidratos (e estes provenientes de
vegetais sem amido, de nozes e sementes), bastante gordura e proteínas com
moderação.
O objetivo é levar o corpo a um estado de "cetose": diante da
ausência de glicose dos carboidratos, ele queimaria gordura para produzir
energia.
"O perigo é que alguns (defensores) dizem que a dieta pode prevenir
diferentes tipos de câncer, o que simplesmente não é verdade", afirma a
BDA.
"Uma dieta cetogênica cuidadosamente planejada por um especialista
pode ser eficiente em tratar pessoas com epilepsia. Para a perda de peso, não
há mágica. Essa dieta funciona como qualquer outra ao cortar calorias e remover
alimentos que as pessoas tendem a comer demais. (...) (Mas) nunca é uma boa
ideia restringir demais algum grupo alimentar (inclusive o de carboidratos),
porque isso dificulta que se alcance uma dieta balanceada quanto a vitaminas,
minerais e fibras."
A associação agrega que a dieta cetogênica pode até resultar na perda de
peso no curto prazo, mas é de difícil sustentação e pode causar sensação de
falta de energia, náusea, problemas de sono, desconforto digestivo e mau
hálito, entre outros males
Para perder peso com saúde
"Quando vemos uma celebridade com uma aparência fabulosa e uma vida
aparentemente maravilhosa, afirmando que isso se deve à dieta da moda, é muito
tentador acreditar que existe uma fórmula mágica para mudar nossas vidas",
afirma Sian Porter, porta-voz da BDA.
"A verdade é que a maioria das celebridades têm uma equipe de
profissionais e assessores preparando sua comida, monitorando seus exercícios
físicos, escolhendo suas roupas, fazendo sua maquiagem e assegurando que elas
estejam sempre lindas. Na realidade, se algo soa bom demais para ser verdade,
provavelmente é. Sempre busque evidências (científicas) e siga conselhos de
pessoas qualificadas, sujeitas a regulamentação e que não tenham nada a vender
ou promover."
A BDA também dá algumas recomendações sobre como perder peso sem deixar
de lado uma dieta saudável:
- Mantenha um
diário dos alimentos consumidos e seu estado de ânimo, para tentar identificar
se há alguma relação entre ambos
- Faça uma
lista de atividades que possam te distrair da vontade de comer guloseimas
- Estabeleça
metas realistas: começar perdendo 5% a 10% de seu peso pode ter grandes
benefícios à saúde, se você de fato estiver acima do peso
- Evite comer
enquanto assiste TV ou faz outras atividades, já que isso pode fazer você comer
mais do que precisa
- Divida o
prato: uma metade com verduras ou salada; o outro, com proteínas e carboidrato.
BBCBrasil
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