domingo, 14 de janeiro de 2018

O Destino de Uma Nação- quando Churchill salvou a civilização Ocidental

Fui assistir Darkest Hour (A Hora Mais Escura) ou “Destino de Uma Nação”, que retrata o mês de Maio, de 1940, quando Churchill assume o cargo de Primeiro Ministro inglês- ainda que a contragosto do Rei George VI e até de seu partido-, exatamente no mesmo dia que Hitler invadiu a Europa (França, Luxemburgo, Bélgica, Holanda), ou seja, 10 de Maio, após a linha Maginot cair. A máquina de guerra alemã (Wehrmacht) parecia imbatível, com a Luftwaffe, (Força Aérea), os Panzer (tanques)e a Blitzkriegde ( guerra-relâmpago) . Ele já tinha invadido a Tchelosvaquia e repartido a Polônia com os russos.  

 

Os soldados ingleses, franceses e belgas foram encurralados na praia de Dunquerque e seriam inevitavelmente massacrados. Chamberlain, Primeiro-Ministro,  anterior, havia assinado um acordo de paz com Hitler e Mussolini, antes da invasão, sobre o qual Churchill profetizara (“entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra e terão a guerra”). Ele sabia que Hitler não iria parar e a Inglaterra seria a próxima presa.  Se Churchill não tivesse apostado na resistência e cedido às pressões de seu Gabinete que queria negociar a rendição o mundo não seria o que é hoje e o destino de todas as nações teria sido diferente.

 

Ao assumir, Churchil, fez um discurso no Parlamento, dos mais espetaculares e que alertava os ingleses para o que viria: «Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor».  Com os soldados encurralados em Dunquerque, Churchill, tem de tomar decisões difíceis, como sacrificar um batalhão para ganhar tempo e executar a evacuação.  Ele organiza a Operação Dínamo.  Nesta batalha, entre 27 de Maio e 4 de Junho, eles enviam 10 contratorpedeiros para retirar os soldados. Destes, 9, são afundados. Ele apela, então, a população civil, e mais de 800 barcos, barcaças, de todos os tipos, conseguem resgatar 340 mil soldados, quando eles estimavam que apenas 10% seriam salvos.   A RAF (inglesa) perdeu 177 aviões, a Luftwaffe, 121. Mais de 40 mil soldados foram capturados e 80 mil foram mortos, mas o fracasso converteu-se em uma vitória. “Um milagre de salvamento, alcançado pelo valor, pela perseverança, pela perfeita disciplina, pelo serviço impecável, pelos recursos, pela habilidade, pela fidelidade inconquistável, é óbvio para todos nós”, disse ele. O " espírito de Dunquerque" ficou marcado nas tropas inglesas.

 

O filme se encerra com um dos mais memoráveis discursos de Churchill, no dia 4 de Junho, em que ele diz no Parlamento e aos ingleses: “Nós iremos até o fim, nós lutaremos na França, nós lutaremos nos mares e oceanos, nós lutaremos com crescente confiança e crescente força no ar, nós defenderemos nossa ilha, não importa a que custo. Nós lutaremos nas praias, nós lutaremos nas pistas de pouso, nós lutaremos nos campos e ruas, nós lutaremos nas colinas. Nós nunca vamos nos render”. Curiosamente,virou uma música do Iron Maiden

 

A sangrenta Segunda Guerra matou algo em torno de 65 milhões de pessoas. Churchill salvou o mundo Ocidental resistindo até a entrada dos EUA ( dezembro de 41)  e da Rússia( Julho de 41)no conflito  e produzindo frases memoráveis. Após a primeira vitória em Al Alamein, África, contra o Rommel, ele disse ao povo: “Não é o fim, nem mesmo o começo do fim. Talvez seja o fim do começo.” Sobre a resistência em impedir a invasão alemã fez uma de suas mais famosas citações: "Nunca no campo dos conflitos humanos tantos deveram tanto a tão poucos" se referindo aos aviadores britânicos, poloneses e franceses.

 

O filme de Joe Wright traz um Gary Oldman dando vida a Churchill em desempenho digno do  Oscar. Aliás, o elenco tem desempenho afinado. O filme tem umas cenas inventadas, desnecessárias, como a que Churchill vai ao metrô conversar com o povo, mas faz parte da tentativa de humanizar o irascível líder, pintor, escritor, historiador, e Prêmio Nobel de Literatura. Aliás, é aí que reside a grandiosidade do filme.  Mostra que Churchill vinha de fracassos militares, era detestado por muitos e considerado um bêbado pelo seu apreço ao uísque e  champanhe. Aliás, em cena deliciosa (não é spoiler), o Rei pergunta como Churchill é capaz de beber durante o dia e ele, sem pestanejar, responde: prática. 

 

Churchill já tinha 65 anos quando foi chamado para seu maior desafio. Conduzir a resistência da Inglaterra, o último obstáculo para vitória do nazi-fascismo. E, aí, tornou-se o maior dos ingleses e um líder com a qual toda civilização ocidental tem uma dívida. Dizem que "ele mobilizou a língua inglesa e mandou-a à batalha." Com uma oratória arrebatadora e sem comparação, Churchill incentivava a população a resistir ao tremendo bombardeio alemão. Ele abria seus discursos com o início 5ª Sinfonia de Beethoven, pois suas notas iniciais são o "V" em código Morse. 

 

Quando fui a Londres visitei sua sepultura, no pequeno e simples cemitério, no interior,  em que escolheu ser enterrado e o bunker ( Churchill Wars Rooms) , subterrâneo, em Londres, de onde ele comandava a guerra. É exatamente como está no filme. Lá, em gravações, é possível ouvir as sirenes de alerta das bombas caindo, ver o pequeno quarto onde ele ficava, a sala dos mapas e das secretárias, e a cabine de onde falava com o Presidente dos EUA e outros líderes. Sim, ele foi um herói. De todos, talvez o mais humano na sua biografia com erros e derrotas, vícios, mas com determinação,  coragem, apreço a liberdade e a democracia,  à nossa civilização e a tudo que ela representa, incontestáveis, e que o levou, apesar de colocar sua própria segurança em risco, a tomar a maior e mais difícil decisão que um líder tomou em qualquer tempo: enfrentar Hitler, no auge. Talvez, por isso, Dwight Eisenhower, comandante das tropas americanas e, posteriormente, presidente dos Estados Unidos, tenha dito dele: “Conheci gente mais refinada e maior, filósofos mais sábios, pessoas mais compreensivas, mas nenhum homem mais notável.”.

 

Darkest Hour é um bom filme, mas não sensacional- Churchil é, ainda, maior que o filme- que se destina a contar um momento especifico, com foco no indivíduo e não na guerra e que aproxima Churchill dos demais humanos.  No mínimo é  uma lição neste momento em que parece que perdemos a completa referência  do bem e do mal e da necessidade que a humanidade tem de líderes que a conduza nos momentos de maior dificuldade  e risco.

 

Simbolicamente, após vencer a guerra, o povo inglês não o elegeu para a Câmara dos Comuns.

 

Nunca nos renderemos.

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