
Os soldados ingleses, franceses e belgas foram encurralados
na praia de Dunquerque e seriam inevitavelmente massacrados.
Chamberlain, Primeiro-Ministro, anterior, havia assinado um acordo de
paz com Hitler e Mussolini, antes da invasão, sobre o qual Churchill
profetizara (“entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra e terão a
guerra”). Ele sabia que Hitler não iria parar e a Inglaterra seria a
próxima presa. Se Churchill não tivesse apostado na resistência e
cedido às pressões de seu Gabinete que queria negociar a rendição o
mundo não seria o que é hoje e o destino de todas as nações teria sido
diferente.
Ao assumir, Churchil, fez um discurso no Parlamento, dos
mais espetaculares e que alertava os ingleses para o que viria: «Só
tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor». Com os
soldados encurralados em Dunquerque, Churchill, tem de tomar decisões
difíceis, como sacrificar um batalhão para ganhar tempo e executar a
evacuação. Ele organiza a Operação Dínamo. Nesta batalha, entre 27 de
Maio e 4 de Junho, eles enviam 10 contratorpedeiros para retirar os
soldados. Destes, 9, são afundados. Ele apela, então, a população civil,
e mais de 800 barcos, barcaças, de todos os tipos, conseguem resgatar
340 mil soldados, quando eles estimavam que apenas 10% seriam salvos.
A RAF (inglesa) perdeu 177 aviões, a Luftwaffe, 121. Mais de 40 mil
soldados foram capturados e 80 mil foram mortos, mas o fracasso
converteu-se em uma vitória. “Um milagre de salvamento, alcançado pelo
valor, pela perseverança, pela perfeita disciplina, pelo serviço
impecável, pelos recursos, pela habilidade, pela fidelidade
inconquistável, é óbvio para todos nós”, disse ele. O " espírito de
Dunquerque" ficou marcado nas tropas inglesas.
O filme se encerra com um dos mais memoráveis discursos de
Churchill, no dia 4 de Junho, em que ele diz no Parlamento e aos
ingleses: “Nós iremos até o fim, nós lutaremos na França, nós lutaremos
nos mares e oceanos, nós lutaremos com crescente confiança e crescente
força no ar, nós defenderemos nossa ilha, não importa a que custo. Nós
lutaremos nas praias, nós lutaremos nas pistas de pouso, nós lutaremos
nos campos e ruas, nós lutaremos nas colinas. Nós nunca vamos nos
render”. Curiosamente,virou uma música do Iron Maiden
A sangrenta Segunda Guerra matou algo em torno de 65
milhões de pessoas. Churchill salvou o mundo Ocidental resistindo até a
entrada dos EUA ( dezembro de 41) e da Rússia( Julho de 41)no conflito
e produzindo frases memoráveis. Após a primeira vitória em Al Alamein,
África, contra o Rommel, ele disse ao povo: “Não é o fim, nem mesmo o
começo do fim. Talvez seja o fim do começo.” Sobre a resistência em
impedir a invasão alemã fez uma de suas mais famosas citações: "Nunca no
campo dos conflitos humanos tantos deveram tanto a tão poucos" se
referindo aos aviadores britânicos, poloneses e franceses.
O filme de Joe Wright traz um Gary Oldman dando vida a
Churchill em desempenho digno do Oscar. Aliás, o elenco tem desempenho
afinado. O filme tem umas cenas inventadas, desnecessárias, como a que
Churchill vai ao metrô conversar com o povo, mas faz parte da tentativa
de humanizar o irascível líder, pintor, escritor, historiador, e Prêmio
Nobel de Literatura. Aliás, é aí que reside a grandiosidade do filme.
Mostra que Churchill vinha de fracassos militares, era detestado por
muitos e considerado um bêbado pelo seu apreço ao uísque e champanhe.
Aliás, em cena deliciosa (não é spoiler), o Rei pergunta como Churchill é
capaz de beber durante o dia e ele, sem pestanejar, responde: prática.
Churchill já tinha 65 anos quando foi chamado para seu
maior desafio. Conduzir a resistência da Inglaterra, o último obstáculo
para vitória do nazi-fascismo. E, aí, tornou-se o maior dos ingleses e
um líder com a qual toda civilização ocidental tem uma dívida. Dizem que
"ele mobilizou a língua inglesa e mandou-a à batalha." Com uma oratória
arrebatadora e sem comparação, Churchill incentivava a população a
resistir ao tremendo bombardeio alemão. Ele abria seus discursos com o
início 5ª Sinfonia de Beethoven, pois suas notas iniciais são o "V" em
código Morse.
Quando fui a Londres visitei sua sepultura, no pequeno e
simples cemitério, no interior, em que escolheu ser enterrado e o
bunker ( Churchill Wars Rooms) , subterrâneo, em Londres, de onde ele
comandava a guerra. É exatamente como está no filme. Lá, em gravações, é
possível ouvir as sirenes de alerta das bombas caindo, ver o pequeno
quarto onde ele ficava, a sala dos mapas e das secretárias, e a cabine
de onde falava com o Presidente dos EUA e outros líderes. Sim, ele foi
um herói. De todos, talvez o mais humano na sua biografia com erros e
derrotas, vícios, mas com determinação, coragem, apreço a liberdade e a
democracia, à nossa civilização e a tudo que ela representa,
incontestáveis, e que o levou, apesar de colocar sua própria segurança
em risco, a tomar a maior e mais difícil decisão que um líder tomou em
qualquer tempo: enfrentar Hitler, no auge. Talvez, por isso, Dwight
Eisenhower, comandante das tropas americanas e, posteriormente,
presidente dos Estados Unidos, tenha dito dele: “Conheci gente mais
refinada e maior, filósofos mais sábios, pessoas mais compreensivas, mas
nenhum homem mais notável.”.
Darkest Hour é um bom filme, mas não sensacional- Churchil
é, ainda, maior que o filme- que se destina a contar um momento
especifico, com foco no indivíduo e não na guerra e que aproxima
Churchill dos demais humanos. No mínimo é uma lição neste momento em
que parece que perdemos a completa referência do bem e do mal e da
necessidade que a humanidade tem de líderes que a conduza nos momentos
de maior dificuldade e risco.
Simbolicamente, após vencer a guerra, o povo inglês não o elegeu para a Câmara dos Comuns.
Nunca nos renderemos.
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