Os Bares da Princesa através dos tempos
Toda cidade tem seus bares ou pontos de encontro de amigos que marcam o dia a dia e ficam para sempre na memória da população. Alguns, mesmo com vida curta, ficam famosos, outros duram muito, muitas vezes até depois do falecimento dos seus donos. Na cidade princesa não foi diferente. Na década de 50 do século passado, até os dias de hoje, são incontáveis os bares e pontos de encontro de amigos que marcaram época. A juventude da década de 50 se reunia no Sueto, um barzinho estreito e comprido que ficava na rua Conselheiro Franco (Rua Direita), próximo à praça da Bandeira. Os mais velhos davam preferência a pontos mais tradicionais como o Café São Paulo, na Praça da Bandeira, ou o Meu Cantinho, na rua Sales Barbosa. Nestes locais se conversava de tudo, se fechava negócios, marcavam-se encontros, surgiam as fofocas e até se iniciavam e se desfaziam romances.
Lançamento de livro no Boteco do Vital |
Cristóvam Aguiar lançando livro no Boteco do Vital |
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Abrigo Santana |
Nas duas principais praças do centro da cidade, estavam localizados também os abrigos Santana e Predileto, sendo que este último ainda existe, como bar e lanchonete, já o primeiro foi demolido e em seu lugar construído um espelho d’água, depois um jardim, e colocada uma escultura de artista plástico Feirense, Juracy Dórea.
Ainda na década de 60 surgiu o
primeiro bar daquele que se tornaria mais tarde o maior e mais criativos donos
de bares de Feira de Santana e promotor de eventos, o Pigalle, na Avenida
Senhor dos passos, em frente ao cine Santanópolis, uma iniciativa de José
Carlos Pedreira, o Zé Coió. Mas não durou muito. Fechou e em seu lugar surgiu
uma loja de confecções masculinas. Pouco tempo depois, Raimundo Lacerda,
(Redondo, para os íntimos), primo de Zé Coió, abriu a poucos metros de onde
fora o Pigalle, na esquina da praça J. Pedreira com a Avenida Senhor os Passos,
o Le Gouter, onde se reunia a rapaziada que usava cabelos compridos, calças com
boca de funil e, mais tarde, de sino, andava de lambreta, mascava chicletes e
amavam os Beatles e os Rolling Stones. Alguns até fumavam uns cigarrinhos que
exalavam um odor esquisito. Esse durou muitos anos até que virou uma Casa
Lotérica.
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Ferro de Engomar |
Não poderia deixar de mencionar o famoso Ferro de Engomar. Ainda na primeira metade do século XX, era o ponto da “Bahia-Feira”. Também funcionava uma ‘Venda’- secos e molhados, onde se destacava o legítimo bacalhau da Noruega que chega dentro do barril. Tempos depois, na segunda metade do século, transformado em ‘Bar’ virou ponto de encontro da gente feirense. Quem no entardecer, ou no sábado durante todo dia, na época de Edson, por exemplo, não saboreou o famoso “bolinho de bacalhau”? Esse, embora tenha mudado de donos diversas vezes, ainda está em funcionamento, na esquina da Avenida Senhor dos Passos com a Senador Quintino.
Descentralizando
A cidade cresceu e os costumes foram mudando, mas os bares da moda e os pontos de encontro de pessoas jovens ou velhas continuaram existentes, só que passaram a predominar nos locais mais afastados, até mesmo nos limites extremos da cidade. Casos típicos são o Lagoa Grande, situado próximo à Lagoa do mesmo nome. Onde havia pista de dança. O outro foi A Moringa, situado também às margens da Avenida Eduardo Froes da Mota (Contorno) nos limites do Conjunto Centenário. E já se começavam a descobrir tradicionais bares de bairros, como o Suburbano, na Rua Quintino Bocaiuva (Rua do Fogo), Kalilândia, na praça da Kalilândia, Guirra Bar, na Avenida Maria Quitéria, Bar Caninha, no Ponto Central, Brisk Beer, na Maria Quitéria, o Timbau, no cruzamento da Maria Quitéria com a Getúlio Vargas, e inúmeros outros que foram sendo descobertos ou inaugurados e que caíram no gosto da população.
Cada um buscava ter algo diferente para atrair a freguesia, de preferência na culinária, ou num drink especial. A especialidade do Bar Caninha era tira-gosto de caça. Tatu, mocó, teiú e até jiboia, moqueados ou ensopados, eram servidos. E qual feirense não experimentou a batida de gengibre de seu China, ao lado do Mercado de Arte, ou a cachaça que vinha dentro de um coco seco gelado, no bar de João do Coquinho? Quem nunca comeu a Buona Pizza de Juliano ou não comprou sorvete e Picolé de João da Kibon? Quem nunca comeu caranguejo em Joãozinho da Goméia ou marcou ponto na frente do Colégio Santanópolis a partir das 16 horas para comer Acarajé e Ababará de Tonhão? E logo ali ao lado estava o Batidão, com drinks os mais variados.
Tudo isso era ponto de encontro dos amigos e oportunidade de fazer novas amizades.
A Rua Carlos Gomes e os Inferninhos
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Praça do Nordestino, rua Carlos Gomes e o FTC |
Um destaque há que se dar à Rua Carlos Gomes. Uma pequena rua situada entre as ruas Visconde do Rio Branco e a Avenida Senhor dos Passos, tendo de um lado a referência do Feira Tênis Clube (o Aristocrático) e do outro o abrigo Nordestino e o cine Íris. Na década de 60 era chamada de “a Rua Augusta de Feira de Santana, numa comparação nada modesta com a famosa rua paulistana. Mas, principalmente nos finais de semana, a noite feirense começava ali. Pessoas de todas as partes da cidade para lá se dirigiam para “curtir a noite”, que poderia começar pegando um cineminha ou, jantando no Galo de Ouro ou bebendo com amigo no RN, enquanto aguardava o início da boate do FTC. Mas tinha outras opções. Se podia jogar boliche ou “esquentar as turbinas do Crazy, uma pequena boate com luz negra, globo de luz giratório, desenhos psicodélicos com tintas fosforescentes nas paredes, rock and roll em alto volume, tudo que a juventude mais avançadinha da época gostava. Pra contrabalançar, tinha o teatro Margarida Ribeiro que sempre estava exibindo alguma peça montada por um dos cinco grupos teatrais feirenses da época. Era ou não era a nossa Rua Augusta?
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