domingo, 6 de fevereiro de 2022

 

* Sambódromo *

Que bom, você veio!

 Talhada em madeira, a tabuleta pende à varanda no sítio de meus labores, onde busco a boa saúde: singelo agradecimento a meus visitantes.

 Que bom, você veio!

 Estendo a carinhosa manifestação a quem a meu encontro acorre, com sua leitura.

 As visitas, antes físicas, ora virtuais, civilizada forma de entretenimento e oportunidade ímpar para jogar conversa fora, enriquecem-nos com a troca de experiências, conhecimentos, casos mundanos.

 O estar com terceiros incita a mente, massageia o ego, deleita as horas, sacode a poeira, propõe desafios, civiliza o diálogo, afina diapasões, rememora vivências, propõe metas, encoraja confissões, descortina atitudes, releva esquecimentos, aplaca rancores, desanuvia o semblante, apazigua o espírito, reacende o passado, inventa o futuro, em suma, enfeita a vida.

 Dita vida, sem coloridos confetes de incentivo e elogio, adesivos à pele; sem enlaces de paradisíaca serpentina a tolher nossos devaneios; sem inebriante e provocador aroma de lança-perfume dos carnavais de outrora fica chã, sem graça. A alegria da vida, a joie de vivre está em sermos espectadores e, ao mesmo tempo, ativos participantes de nossa escola de samba durante o desfile do existir. Cada escola-vida com seu próprio enredo.

 A comissão de frente, passos ágeis, calculados, pede licença para anunciar a entrada da escola na pista do sambódromo. Afirmações.

 A passista e o mestre-sala, estandarte em rodopios, volteios e requebros, no sempiterno embate de melhor executar o sempre tido por bem feito. Desafios.

 Os carros alegóricos, a cada ano, mais. Mais isso, mais aquilo. Enormes, monumentais, extravagantes, trazem cascatas, plumas, nudezas. Dúvidas? Certezas! Provocações.

 A ala das baianas com sua ancestral ginga, indispensável e renovada expressão da cultura afrodescendente, perpetuada via amores e sabores. Recordações.

 Depois, a harmonia do samba marcante e compassada - ronco da cuíca, rufar dos tambores, repicar dos tamborins - da bateria a qual, com as tradicionais “paradinhas”, anima a plateia e instiga carnavalescos orgasmos. Interações.

 Mais de mil almas, muito mais, travestidas e irmanadas; destaques endeusados; heróis da farsa burlesca. Ilusões.

 Afirmações.

Desafios.

Provocações.

Recordações.

Interações.

Ilusões.

 Retalhos da colorida colcha, estirada na cama onde brotam os sonhos de nossas, bem ou mal, dormidas noites.

 Que bom!

Você veio até aqui!

Chegamos à Praça da Apoteose, o grande final.

Seu lugar-vip na arquibancada de meu sambódromo é cativo.

Sejam mágicos os acordes do presente samba-enredo e, assim, persistam em seu imaginário!

Volte sempre!

 Findo o desfile, carnavalescos abraços - extemporâneos, mas sinceros.


 

 



 

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