*Puros e Marrons*
A turma da família conhece a história
acontecida em 2005: coisas de um infante então de cinco anos e seu pai, um
escriba com sessenta. Ser-me-á prazeroso narrá-la a meus leitores.
Vivo na 7ª cidade mais negra do país: a população branca é minoria e nada mais natural que os estudantes locais reflitam tal realidade.
Iniciado o ano letivo, primeiros dias, o
caçula extemporâneo, à mesa no almoço, com a pureza típica das crianças,
inopinadamente comenta:
- Papai! Lá na escola tem uma menina bonitinha. A cor dela é marrom!
Indaguei-lhe:
- E você meu filho? É marrom ou branco?
Dado a dificuldade em definir a cor de sua pele, o guri sem pestanejar, responde:
- Não papai! Eu não sou branco nem marrom. Eu sou normal!
Aí, ante a meridiana clareza de uma criança criada sem preconceitos, deduzi cor ser apenas uma forma de se ver o mundo: gente, charutos, seja o que for.
Aquilo, tido por meu filho como ‘normal’, era apenas o reflexo da predominância da família à qual pertence.
Os apreciadores de charutos sabem disto. Para uns, ‘normal’ é o puro de capa clara; para outros, o charuto escuro, capa marrom.
Eu reconheço, ainda um tanto atado a (pre)conceitos impostos por uma (in)formação inadequada, procuro no dia a dia, alternar preferências, sem distinções.
Embora conviva com os puros
todos os dias, dias há nos quais os quero puros e claros; outros, quando
os prefiro puros e marrons.
Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.
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