* O encanto do sopro *
“Anima, spiritus” do latim, significavam vento, corrente de ar, e daí sopro, sopro divino, espírito divino, alma, espírito. O sopro é, na verdade, a concepção inicial materializadora da divindade. Na própria Bíblia vemos, seria o sopro divino a fonte da existência humana. Magia pura.
Eliseu, teria ressuscitado o filho da Sunamita, soprando-lhe na boca. Nos evangelhos do Novo Testamento, sopro e vento são figuras constantes, como manifestações de uma entidade superior. O sacerdote, sopra na face da criança ao batizá-la, para expulsar o espírito mau e instalar o Paráclito.
O sopro, por si mesmo, tem o efeito de fazer sentir-se aquilo que não se vê, mas no qual se crê.
Nas cerimônias indígenas, formavam-se círculos cujos integrantes recebiam lufadas de fumo sopradas por pajés, com a frase incitadora ao combate: “Para que vençais vossos inimigos, recebei o espírito da força”.
Aos feiticeiros, atribuía-se o poder de curar doenças apenas em soprar o lugar molesto. Isso subsiste no dia a dia de nossas vidas. A criança quando se machuca, a mãe costuma soprar sobre o ferimento para “parar de doer”. O sopro é um encantamento.
Os pajés, bem sabiam de tal encanto. O sopro era presente em todas as cerimônias e atos. Com braço estendido e a mão fechada numa determinada direção, abrindo-a lentamente sem desviá-la, mandavam aos ausentes, por um simples ato do seu querer, a infelicidade, a doença e a morte. Era, ao soprar sobre a mão fechada e após, abrir lentamente, em gesto largo, os cinco dedos, enquanto sopram, que espalhavam o mau tempo e desfaziam as trovoadas.
Eu, confesso acreditar no encanto mágico do sopro.
Tanto
é que, em minhas baforadas, ao soprar as fumaças mágicas dos charutos, sempre
encontrei inspiração para falar com meus leitores, manifestar-lhes minha estima
e levar-lhes alguns encantos da leitura amena.
Menendez & Amerino,
Suerdieck e Pimentel,
vive em São Gonçalo dos
Campos – BA.
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