♫ Suicide Blonde... Suicide Blonde...
♫ Kátia Flávia é uma louraça Belzebu / Provocante
Uma louraça Lucifer / Gostosona
Uma louraça Satanás / Gostosona e provocante...
Alô, Alô Polícia!
♪Meu nome é Kátia Flávia / A godiva do Irajá
Me escondi aqui em Copa... Polícia!! ♫
Ah, Anos 80! Império do Rock Nacional, do gel gumex
e das Calças Saint-Tropei...to.
Todos ligados no som do RPM, grupo de Rock que agitou os costumes da época. RPM era um trocadilho que indicava a abreviação de REVOLUÇÕES POR MINUTO, mas depois que seu crooner foi pego pela polícia com uns Beck na bagagem, passou a ser chamado de RPM - Ricardo Puxador de Maconha.
Paulo Ricardo incendiou o Brasil com Loiras Geladas
e tantos outros sucessos. Novo símbolo sexual, tabaréus do Brasil inteiro
queriam ser Paulo Ricardo, por quem as mulheres deliravam. Paulo Ricardo
reinventou o penteado Pigmalião 70 e ajudou os magrelos a se exibirem em
camisetas cavadas sem quaisquer constrangimentos.
Foi aí que o Cassino do Chacrinha mostrou o Paulo
Ricardo nas telas das Philcos e Telefunkens. Bastou isso para todo varão querer
deixar o cabelo crescer, rente cortar as costeletas, pepinar o topete e deixar
um rabo de cavalo volumoso. Pouco tempo depois estavam Paulo, Jonas, João,
Salvador, Galego, Lió e todos os barbeiros de Riachão cortando cabelo de homem,
mulher e viado a la PR. Enfim, o século 20 aportou na Terra das Algarobas!
Evidente que eu não me enquadrava nesse atraso
comportamental, desde muito já usava um cabelinho repicado e no bolso um tubo
de Gel New Wave (última moda em Paris), portanto, quando chegava da capital o
layout já não causava estranheza, mas o que se via de “orêa seca” ostentando
uma bela juba ninguém dava conta.
Em 1987, o maior sucesso das paradas era a
inusitada Kátia Flávia, do não menos inusitado Fausto Fawcett, um porra-louca
morador de Copacabana que fez essa música em ritmo de Funky Music, desbancando
os bambambãs do Rock Nacional. Que Paulo Ricardo que nada, que Legião que nada,
que Paralamas que nada, que Titãs que nada. Todos cantávamos as Calcinhas
Exocet, as Calcinhas Antiaérea, as Calcinhas Framboesas usadas pela Louraça
Belzebu que desafiava a polícia andando nua em seu cavalo branco pelas ruas da
Cidade Maravilhosa.
__ Tan tan tan tan tan tan... Alô Puliça!! Eu tô
usando, uma “Esso sé”
__ Aiiii, minha música! Adoro. Será que vai tocar
no Preto e Branco esse ano?
__ Menina! Mas eu já procurei essa calcinha “esso
sé”. Até na Feira do Tecidos eu fui e não encontrei.
__ Mintchura! Também tô louca para ter uma, eu já
encontrei até um macacão da Esso, mas tá é difícil comprar a tal calcinha da
Katia Flávia.
__ Na Mesbla Vende! – Chutou a tabaroa..
__ Na Mesbla não vende né Moto?
__ Como tu é ignorante! Lá vende de tudo, se Deus
quiser em compro uma para o baile do Preto e Branco.
E não é que naquele ano o Preto e Branco botou pra
quebrar!!! Contrataram a banda Joedson, de Ipiaú, famosa pela qualidade do som
e inédita na região.
__ Chocante! Tio Lio botou pra lá!!!
__ Que foi, Abriu uma filial da Plury Modas no
Iguatemi?
__ Não, melhor ainda, contratou a banda Joedson
para tocar no Preto e Branco, uma banda Internacional, que tem até
sintetizador.
__ Arrasou!! Mas o que é sintetizador?
__ Não sei... mas eles têm um novinho, me disseram.
__ De onde é essa banda?
__ Do estrangeiro, dizem que vem de navio, lá do
Piauí...
__ E Piauí é estrangeiro?
__ Claro, terra de Julio Iglésias.
__ Deixa de ser Burro, Julio Iglésias é do
Maranhão, cala tua boca.
(Diálogos prováveis)
O Joedson era realmente uma excelente banda, tocava
muito no sul da Bahia e na região metropolitana, e de fato, nunca tinha vindo a
Riachão. Deram um show! O Baixista era sensacional, e sim, já tocavam Kátia
Flávia, o que garantia os comentários elogiosos no pós-piseiro.
Existia em Riachão uma certa Matriarca, simpática
vovozinha, que reunia em torno dela anualmente toda a família. Parentes vinham
de todos os cantos para confraternizar com a Nonna e aproveitar o burburinho
Jacuipense. Contam que tempos atrás ela presenciou uma briga generalizada no
clube da cidade, traumatizou-se e jurou nunca mais ir a festa em Clube, morria
de medo, alegava que era muito violento, só dava brigas e encerrava o assunto.
Naquele ano a filharada, a netaiada e afins,
resolveram leva-la para o Baile do Preto e Branco. Ela relutou, negou-se a
principio, mas, dado o clima em família de festa e felicidade geral, finalmente
concordou em ir. Logo depois da meia noite, desceram todos para a Festa sob o
comando do famoso Grupo Joedson.
Pelas ruas de Riachão já se via um elegante desfile
de longos vestidos pretos, trajes Brancos reluzentes, combinações de todas as
formas, até chapéus emplumados. Ali se reconhecia roupas remodeladas, outras
debutantes, algumas traziam gravadas a própria história da festa, já que
presenciaram todas as edições. Tinha de tudo. No final toda elegância se rendia
a hits com versos do tipo: “Comprei uma panela de pressão... só pra ver se
cozinho mais depressa...” Como dizia o Lobão em apropriado Hit da época:
“Decadence avec Elegance”.
Na Rua Nova, endereço do Clube Lira 8 de Setembro,
sentia-se o alto astral já pelas imediações do Bar Chapéu de Couro, sempre
repleto (4 mesas disputadíssimas). Carros estacionados por toda a parte e uma
aglomeração incrível na frente da Lira 8.
Vovó seguia muito protegida entre tantos
familiares, sempre motivada.
__ Estou com Medo!
__ Que nada Mamãe, lá dentro está tranquilo,
compramos uma mesa na parte alta do clube, só tem essa fila mas é normal, a
Senhora vai se divertir, e acabar com esse medo bobo.
Na entrada da Lira havia um terrível curral, a
entrada era na base do empurra-empurra, um de cada vez, a demora era praxe,
penetras e furões também faziam parte do protocolo. A fila já passava da casa
de Periquito e dobrava a esquina da rua do Hospital.
Mas era tudo diversão, na fila já se tomava uns
gorós, já se dançava ao som da banda o que aumentava a ansiedade de entrar logo
na festa, e também ali já se paquerava. Vovó seguia protegida, incentivada e
até decidida a curtir uma festa depois de tantos anos, afinal, seus queridos
filhos e netos de várias gerações estavam todos presentes e felizes.
Segue a fila e Vovó já dava até uma reboladinha,
batia o pezinho.
__ Vai tocar Ray Conniff? Perguntou inocentemente a
um dos filhos.
__ Acho que não mamãe, mas a Sara Jane está com uma
música linda.
__ Vó! Ademar da Banda Furta Cor está ai e vai
tocar Ave Maria no fim da festa – Mandou essa lorota um pirralho que morria de
medo da vó desistir e ele perder a farra.
__ Ah! Tá, eu vou gostar, realmente as festas
mudaram, estou adorando tudo.
A festa começou às 11 horas, passava da meia-noite,
o clube já estava lotado e lá fora tinha mais gente que dentro do salão. A fila
continuava animada:
(♫ tan tan tan tan tan tan ♫);
Gritos de felicidade, a música do momento começou a
tocar.
(♫ Kátia Flávia é uma louraça Belzebu / Provocante ♫)
Todos se sacolejando na fila. O baile ferveu!
__ Bora com essa fila, minha música está tocando!
__ É pique, é pique... (povão em coro)
__ Urra!! Urra! Empurra, empurra!! (respondiam em
bloco os que já venceram as grades da Lira
( ♫Uma louraça Lucifer / Gostosona♫ - A banda
seguia tocando a música do momento)
__ Vó, já estamos passando na catraca, a mesa é
logo na entrada, curte o som, tá todo mundo feliz – Meio preocupado estava o
neto com as novas feições da Nonna.
(♫ Uma louraça Satanás / Gostosona e provocante... ♫)
Vovó começou a prestar atenção na letra da musica e
fez o sinal da cruz.
(♫ Alô,Alô Polícia! Polícia pode vir.. ♫)
__ Quero voltar pra casa agora – bradou
categoricamente a vovó
__ Mas vó, agora é a nossa vez de entrar.
__ Esse inferno só tem briga. Nem bem entrei e já
chamaram a Polícia. Todo mundo para casa, quem não me atender excluo do
testamento. – sentenciou a Matriarca. Katia Flávia acabou a festa da
família....
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