* Talvez *
Ora, estou
octogenário.
Com 45 anos de vida
laboral,
aos 63, aposentei-me.
Vinte, em tintas.
Vinte e cinco em
fumos.
Com as tintas,
colori a vida,
aprendi as cores do arco-íris.
Com os fumos,
a arte e o prazer de
fumar.
quase não o senti.
comigo permaneceram,
para meditar e
escrever.
E pondero:
houvesse agido de
outra maneira,
ou talvez não.
fosse pai de outros
filhos,
ou talvez não.
cuidasse em fazer o
próximo mais feliz,
ou talvez não.
vivenciasse mais
amores,
ou talvez não.
ainda viva alguns
anos,
ou talvez não.
veja os derradeiros
filhos formados,
ou talvez não.
Talvez
abdique de alguns
prazeres,
ou talvez não.
escreva um livro,
ou talvez não.
Agora, sem talvez algum,
plena garantia,
agente federal ou
militar eu fosse.
bem mais, ora,
ganharia.
Enquanto o tempo passa
- no limiar da
existência e
na quietude de minha
chácara -
leio, escrevo e
ratifico:
repetiria os caminhos
idos
e os amores tidos.
Ou talvez não.
Talvez, talvez,
talvez.
Hugo Bittencourt Carvalho
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