quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Dirran


Chico Anísio declarou certa vez que apesar das mazelas, ele adora o Brasil. E ainda segundo ele, a única coisa que ele não gosta é dos nomes dos jogadores de futebol. Para o humorista, os apelidos e até mesmo os nomes dos nossos craques da pelota não impõem respeito. “No exterior temos David Beckman, Bob Chartlon, Maradona, Bob Moore (esse roubou um bracelete na copa de 70 e não deu em nada). Mas no Brasil a coisa pega. É Pelé, Piau, Picolé, Cafuringa, e por aí afora.

O próprio Chico lembra que no Ferroviário do Ceará tinha uma linha frente formada por Redondo, Peru e Cacetão. Aqui na Bahia, no Ideal de Santo Amaro tinha um ponta direita que atendia pelo carinhoso apelido de Piroca. No Fluminense de Feira, de Onça, e no Bahia de Feira tinha Hélio Abacate. E as torcidas provocavam. A do Bahia dizia que “no Fluminense tem uma Onça e dez veados”. A do Fluminense respondia que no Bahia tinha “um Abacate e dez abacaxis”.

O saudoso Coroné Ludugero contava a história de um time de futebol que entre os seus craques tinha Zaroio, Tonnhe da Venda e Ceguinho. E o time jogava num campo que ficava numa lombada e, por isso, um goleiro não via o outro. A linha de meio de campo era demarcada pelos trilhos da linha ferroviária. E foi assim que num dia em que passou um trem que ia pra São Paulo metade do time pegou carona e o jogo até hoje não terminou.


Por essas e outras, quando aparece um jogador com nome estrangeiro todo mundo dá valor. Pode ser um perna de pau, mas se tiver um nome bonito já passa a ser assediado até pela imprensa. E olha que tem narrador esportivo e repórter de pista que não sabe sequer falar bem o vernáculo, mas faz bocas e gestos para dizer o nome do craque forasteiro.

Foi assim que, segundo me contaram, uma equipe de uma emissora de uma cidade do interior daqui da Bahia se deslocou, com muito esforço, para o interior do Ceará, onde uma equipe baiana iria enfrentar uma equipe cearense pela Série D do Campeonato Brasileiro. Minutos antes da partida o repórter de pista foi pegar a escalação dos times e viu que na equipe adversária havia um jogador chamado “Dirran”.

E logo vieram os comentários: “Tá vendo aí. Aqui no interior do Ceará tem até jogador francês. Onde estão os nossos cartolas, os nossos empresários, que não investem para que nossas equipes possam ter bons jogadores”?

Começa o jogo, bola vai e bola vem, o narrador se esmerava. Quando Dirran pegava na bola ele ia ao delírio e até fazia biquinho para dizer o nome francês do craque. “Lá vai Dirran, arranca Dirran, chuta Dirran. Dirran tá caído”, berrava o narrador. E o comentarista rebatia: De fato, sofreu uma violenta falta. Mas craque é assim mesmo, tá acostumado com esses zagueiros brucutus do nosso futebol. O rapaz poderia se machucar gravemente”.

E por aí foi. Findo o jogo, o repórter de pista corre para entrevistar os jogadores e procura logo quem? Dirran, é claro. Depois de colher a opinião do craque ele não se contem e pergunta; Mas Dirran, me diga aí. Você é francês mesmo, descendente de francês ou o que? Porque esse seu nome francês?

E Dirran explicou em fluente “Nordestinês”: “Não rapaz. Meu nome de nascença é Severino, mas quando era menino me deram o apelido de ‘Cú de Rã’. Como não pode dizer palavrão no rádio, ficou só De Rã” mesmo.

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