segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Neném Russo


Se chamar pelo nome poucos saberão quem é. Só os familiares, talvez. Mas em Feira de Santana poucos desconhecem quem foi Neném Russo. Já na década de 60 sua presença era notória na cidade. Ele aprontou tanto que chamou a atenção das autoridades. Além das queixas de perturbação da ordem pública, volta e meia ele comparecia à delegacia detido ou para prestar esclarecimentos. Certo dia envolveu-se numa briga de bar e novamente foi detido. Ao chegar à delegacia, ao ver o velho conhecido o delegado, Dr. Ioiô Goleiro, exclamou: De novo, seu Neném Russo? Eu não disse que não queria mais lhe ver aqui?
- Eu sei doutor. Eu falei pro guarda, mas ele não acreditou em mim.

Reza a lenda que uma figura proeminente da alta sociedade, homem cujo fio de bigode era garantia da palavra dada, um certo dia chamou seu neto querido à sua casa para ter uma conversa. Sentado na poltrona do seu gabinete, disse carinhosamente: Meu neto, eu gosto muito de você. Por isso eu vou lhe dar uma casa, um carro e uma mesada para ajudar você nos seus estudos. Em troca lhe peço apenas uma coisa. Que você deixe de andar com esse tal de Neném Russo.
- Mas vovô, Neném Russo sou eu! – O velho desmaiou.

Ele perdia o amigo, mas não perdia a piada. Certo dia eu notei um sumiço do seu irmão, Marquinhos Quebra Mola, e perguntei a Neném onde ele andava.
- Ele foi pra Salvador fazer vestibular para corte e costura. Mas perdeu nas pregas.
Um dia a esposa se queixou:
-Neném, porque você não me procura mais?
- Porque você não se esconde, ora bolas.

Neném Russo gostava de jogar dominó com os amigos na varanda do Boteco do Vital. Num dia de muito vento alguns dos jogadores começaram a reclamar que fazia frio e queriam mudar a mesa de jogo para a parte interna do bar. Alguns eram a favor outros eram contra. Quando pediram a opinião de Neném Russo, ele disse: Pra mim tanto faz. Porque se faz frio eu fumo maconha, se faz calor eu cheiro cocaína. Mantenho meu corpo sempre de acordo com a temperatura ambiente. 

Ele era chegadíssimo num baseado. Mas com o cerco apertando contra as drogas, ele se escondia para fumar sua maconhazinha em paz. Um amigo meu que tinha uma pedreira, sempre vistoriava a área onde iriam ocorrer explosões, para verificar se não havia alguém desavisado ou algum animal por lá. Certo dia ele deu de cara com Neném Russo e seus amigos fumando maconha no meio de umas pedras que iram explodir.
- Que diabos vocês estão fazendo aqui?
- Calma, fale baixo. Nós estamos curtindo a natureza aqui, onde se pode ouvir as pedras pensando e as árvores respirando...
- Cambada de malucos, vão embora daqui porque logo vocês vão ver pedras e árvores voando!

Na década de 60 havia uma rapaziada que se reunia na escadaria do prédio da Prefeitura, aquela que fica de frente para a avenida Senhor dos Passos. Em frente havia o bar Le Gouter, ponto de encontro de playboys da época. A turma tomava uma e outras no Le Gouter e ia para a escadaria da Prefeitura conversar e curtir um baseado. Ao lado havia o Cine Santanópolis.
Um dia Neném Russo estava lá dando os últimos tapinhas numa bituca, quando o delegado Ioiô Goleiro saiu do cinema de braços dados com a esposa e veio caminhando pelo passeio em direção à Prefeitura. Quando Neném Russo viu, atirou a bituca fora. Ela rolou pela calçada e caiu na sarjeta, junto ao meio fio. O delegado, é claro, percebeu a manobra. Parou em frente à escadaria, deu boa noite a todos, foi até à sarjeta, pegou a bituca, cheirou, virou-se para a rapaziada e, antes que dissesse alguma coisa, Neném Russo gritou de lá:
- Achou é seu, malando, pode levar...

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