O dia em que eu matei Joana
Uma odisséia dos tempos modernos

Tal qual Ulisses eu era um aventureiro. Divertia-me junto aos meus amigos e amigas, travando minhas batalhas em terras estrangeiras ou dentro de mim mesmo. Enquanto isso, minha linda Penélope me aguardava em casa, ansiosa pela minha volta. Ela sabia que eu sempre voltava. E por isso não dava chance aos oportunistas que a assediavam. As aventuras davam ânimo à minha vida, me livravam do tédio, me davam prazer. Mas, não mais do que Penélope poderia me dar.

Busquei ajuda com amigos médicos, religiosos, usei meizinhas e orações, métodos científicos ou não, tudo era válido para curar minha amada Penélope, mas nada surtia efeito. Desgostoso, me afundei mais ainda nas aventuras. E um belo dia, navegando por um daqueles mares nunca dantes navegados, conheci uma linda feiticeira. Joana era como Circe, a feiticeira da mitologia grega que transformava os homens em animais que a obedeciam cegamente.
Nos tempos modernos, Circe é inimiga da Mulher Maravilha. Aliás, ela é inimiga de todas as mulheres, as quais ela quer tornar tão infelizes quanto ela. Joana era assim, embora eu não tenha reconhecido isso logo de início. E tal qual Ulisses, fui envolvido e passei a amá-la, submetendo-me às suas vontades e desejando apenas vê-la feliz. Isso amenizava o sofrimento da minha vida com Penélope.

Mas um dia, Joana por alguns momentos perdeu o controle sobre mim e eu pude ver seu verdadeiro rosto. Levei um tremendo susto. Mas, nem por isso, acordei. Achava que com meu amor poderia curá-la e fazer dela o ser bonito que ela aparentava ser.
Uma coisa curiosa aconteceu então. A partir daquele dia, sempre que voltava ao meu lar, notava que Penélope melhorava a olhos vistos e estava novamente me amando como nos tempos em que vivíamos felizes. Mas, parecia ser tarde demais. Embora reconhecendo a sua melhora e o seu amor, ainda assim, eu a rejeitava.

Quando Joana soube do ocorrido, ficou furiosa. Percebeu que estava perdendo o poder sobre mim e mudou completamente. Brigamos pela primeira vez e muitas outras vezes depois. Mas eu ainda estava apaixonado e ainda queria vê-la feliz. Mas na sua fúria, ela se mostrou mais uma vez como ela verdadeiramente era. E eu, horrorizado, me perguntava como poderia ter amado semelhante ser.

Estes pedaços eu cremei em fogueira sagrada e ofertei a fumaça aos céus que me protegem. Naquele dia eu matei Joana e joguei suas lembranças na fumaça do desprezo e do esquecimento.
Sou um homem livre e feliz outra vez, vivendo ao lado da minha Penélope.
Um comentário:
Coo sempre em forma. excelente sua crônica. Quando sai o próximo livro? Estou anciosa por mais um.
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