quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A Magia do eloquente silencio de José Maria Nunes Marques




educador e poeta José Maria Nunes Marques nasceu em Salvador, em 09 de março de 1931. Graduado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) como Bacharel em Direito, foi casado com Zélia Caribé Nunes Marques por mais de 50 anos. Foi o primeiro diretor da Faculdade Estadual de Educação de Feira de Santana (1968), Secretário de Educação e Cultura de Feira de Santana em 1971, sendo também um dos fundadores e reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), assumindo o cargo por dois mandatos consecutivos no período entre 1979 a 1987.
José Maria Nunes Marques dedicou a vida à causa da educação em Feira de Santana, iniciando em 1960 como diretor da Escola de Menores. Além dos cargos já citados, em 1964 foi nomeado diretor do Ginásio Municipal Joselito Amorim. Era membro honorário da Academia de Educação de Feira de Santana.
Depois de ser acometido pela doença de Alzheimer, sua esposa e suas 4 filhas, decidiram editar alguns livros com poemas, crônicas, artigos e diversos textos produzidos por Jose Maria durante sua vida como educador. Primeiro um livro de crônicas, A Magia do Silencio, depois O Eu Lírico, um livro de poemas. Em 2007 foi lançado Educar, onde pode-se conhecer parte da história da educação em Feira de Santana.
José Maria faleceu em 5 de julho de 2009, no município de Lençóis onde passou a residir desde que se aposentou em 1988. A missa de corpo presente e a cremação foram realizadas no Cemitério Jardim da Saudade, em Salvador. Em maio de 2006, a UEFS prestou homenagem ao ex-reitor com o lançamento do DVD Memorial de José Maria Nunes Marques. Trata-se de uma amostragem biográfica e iconográfica que abrange a trajetória de vida e a gestão de Marques à frente da Instituição. A solenidade fez parte das comemorações pela passagem dos 30 anos da UEFS. Na oportunidade, foi relançado o livro de crônicas A Magia do Silêncio, de autoria de José Maria Marques, que tem na capa, um detalhe do quadro “Lago Noturno”, de Gil Mário, simbolizando a magia que envolve uma noite silenciosa. Internamente, uma ilustração de Juraci Dórea, como que anunciando a placidez do sertão. Também foram expostos objetos pessoais do ex-reitor.

A Magia do Silêncio
“Recortes de jornais, folhas datilografadas, rascunhos, portadores de um manifesto solilóquio, habitando, fazia tempo, as mudas gavetas de uma certa escrivaninha (Diga-se, de passagem, que um número razoável de textos não era do conhecimento de Zélia, sua companheira). Havíamos sido agraciados com a indicação para dar-lhes forma de livro. À medida que realizávamos a leitura, éramos tomados pelo embevecimento, face ao que se oferecia aos nossos olhos, e impulsionados por falares que nos remetiam a circunstâncias passadas, revolvendo raízes e folhas, em prazeroso passeio por distantes searas. Instalava-se o impasse. O deleite com a leitura, ou, de logo, a seleção dos textos, revisão, preparo para publicar, e pronto”!
“Tudo resolvido? Não e não... encontrávamo-nos diante de um manancial, um inesgotável horizonte – percepções, reticências, admirações. Tudo poderia ser editado, mesmo com a exigência inerente a uma seleção qualitativa, por ser a exigência o selo, o sinal, ambos, presença forte nos dedos e no pensar, e na escritura do autor. Não trafegar em linhas passadas significaria perdermos a consciência do movimento silente que, em sua cosmovisão, antecede a construção da palavra. Nele, o silêncio sempre se fez uma constante, uma definição existencial, proposta filosófica, não simplesmente para escrever, mas, sobretudo, para viver, representando uma necessidade maior”.
“Identifica-se assim com Rainer Maria Rilke: ... levanta-se um silêncio e a novidade, que ninguém conhece, se ergue aí, calada, no meio. – e ainda: Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. - Silêncio guardado no âmago, esperando o justo momento para jorrar, como uma fonte criadora. Rilke, guardião da interioridade, intérprete dos mistérios da vida e da morte. José Maria, admirador e seguidor do poeta, ao manifestar-se sóbrio, calado, lançando palavras oriundas do longe, da solidão. Tão poucas as que foram jogadas, confirmando seu distanciamento das recompensas exteriores, das glórias efêmeras:  - E foi um contraste, no quarto de despejo em penumbra, tanta luz de lembrança, certificando o que já disse o poeta, que em nenhum lugar está o mundo, senão dentro. (“Papéis velhos”, p. 123).
“Na Princesa do Sertão, lugar de tantas realizações pessoais e profissionais, é que José Maria se fortalece em seu processo criativo, mergulha fundo e traz à tona riquezas preservadas – na solidão (não a patológica), mas a do recolhimento em si mesmo (céu de silêncio). No autor, José Maria Nunes Marques, reina, hoje, absoluto silêncio, que o situa acima do bem e do mal. Figurando um monge, caminha, sereno, pelas veredas que ele próprio traçou, rumo ao bosque, para entregar-se ao cuidado das sempre renovadas acácias amarelas”.

(Trechos extraídos do texto de Raymundo Luiz de Oliveira Lopes e Maria da Conceição de Oliveira Lopes, publicado no livro “A Magia do silêncio”/ UEFS – 2004).

Um comentário:

Raymundo Luiz disse...

Bom dia, colega, muito obrigado pela divulgação do livro de José Maria Nunes Marques, "A Magia do Silêncio". Grande abraço!