“Eu não sou
pobre! Pobres são aqueles que acreditam que eu sou pobre. Tenho poucas coisas,
é certo, as mínimas, mas suficientes para ser rico. Quero ter tempo para
dedicá-lo às coisas que me motivam. Se tivesse muitas coisas, teria que me
ocupar de resolvê-las e não poderia fazer o que eu realmente gosto. Essa é a
verdadeira liberdade, a austeridade, o consumir pouco. Vivo em uma pequena
casa, para poder dedicar tempo ao que verdadeiramente aprecio. Senão, teria que
ter uma empregada e já teria uma interventora dentro de casa. Se eu tivesse
muitas coisas, teria que me dedicar a cuidar delas, para que não fossem
levadas. Não! Com três cômodos é suficiente. Passamos a vassoura, eu e a velha,
e já se acabou. Então, temos tempo para o que realmente nos entusiasma. Verdadeiramente,
não somos pobres”!
Estas
palavras são atribuídas a José “Pepe” Mujica, presidente do Uruguai, que recebe
U$12.500 Dólares mensais por seu trabalho à frente do país, mas doa 90% de seu
salário, ou seja, vive com 1.250 Dólares, cerca de R$ 2.538,00 Reais ou ainda
25.824 Pesos uruguaios. O restante do dinheiro ele distribui entre pequenas empresas
e ONGs que trabalham com habitação. “Esse dinheiro me basta e tem que bastar,
porque há outros uruguaios que vivem com menos”, diz o presidente.

Há poucos
quilômetros de Montevidéu, já saindo do asfalto, avista-se um campo de acelgas.
Mais à frente, um carro da polícia e dois guardinhas: o único sinal de que
alguém importante vive na região. O morador ilustre é José Alberto Mujica
Cordano, conhecido como Pepe Mujica, presidente do Uruguai. Perguntado sobre
quem é esse Pepe Mujica, ele responde: “— Um velho lutador social, da década de
50, com muitas derrotas nas costas, que queria consertar o mundo e que, com o
passar dos anos, ficou mais humilde, e agora tenta consertar um pouquinho de alguma
coisa”.
Ainda jovem,
Mujica se envolveu no Movimento de Libertação Nacional e ajudou a organizar os
Tupamaros, grupo guerrilheiro que lutou contra a ditadura. Foi preso pela ditadura
militar e torturado. “Primeiro, eu ficava feliz se me davam um colchão. Depois,
vivi muito tempo em uma salinha estreita, e aprendi a caminhar por ela de ponta
a ponta”, lembra o presidente uruguaio.
No bairro
Prado, a paisagem é de casarões antigos, da velha aristocracia uruguaia. É onde
está a residência Suarez y Reyes, destinada aos presidentes da República. Esse
deveria ser o endereço de Pepe Mujica, mas ele nunca passou sequer uma noite no
local. O palácio de arquitetura francesa, de 1908, só é usado em reuniões de
trabalho. Mujica tem horror ao cerimonial e aos privilégios do cargo. Acha que
presidente não tem que ter mais que os outros. “A casinha de teto de zinco é
suficiente”, diz ele. -“Que tipo de intimidade eu teria em casa, com três ou
quatro empregadas que andam por aí o tempo todo? Você acha que isso é vida?”,
questiona.
A vida simples não é mera figuração ou tentativa de construir uma imagem, seguindo orientações de um marqueteiro. Não, ela faz parte da própria formação de Mujica.
A vida simples não é mera figuração ou tentativa de construir uma imagem, seguindo orientações de um marqueteiro. Não, ela faz parte da própria formação de Mujica.
A casa e o
Palácio Suarez y Reyes, foram disponibilizadas por Mujica para servir de abrigo
a quem não tem um teto. Em julho de 2011, decidiu vender a residência de
veraneio do governo, em Punta del Este, por 2,7 milhões de dólares. O banco
estatal República a comprou e transformara a casa em escritórios e espaço
cultural. Quanto ao dinheiro, será inteiramente investido na construção de
moradias populares, além de financiar uma escola agrária na própria região do
balneário.
O Uruguai
ocupa o 36ª posição do ranking de Educação da Unesco, enquanto o Brasil ocupa a
88ª posição. Já no ranking de Desenvolvimento Humano, o Uruguai ocupa o 48º
lugar, enquanto o Brasil ocupa o 84º lugar. Enquanto isso no Brasil, políticos
reclamam que recebem um salário baixo para os cargos que exercem.
Mujica é um
homem raro, nesses tempos de crise de valores morais e ética, dentre os
políticos sul-americanos. Um político de verdade, que trabalha em favor do povo
e não de sua conta bancária. Para encerrar, uma história que circula nos meios
diplomáticos internacionais: Ao encontra-se com as elegantemente bem vestidas presidentes
do Brasil e Argentina numa reunião da cúpula sul americana, as duas repararam e
comentaram o fato de Mujica estar usando sapados velhos e desgastados. Ele
então teria dito: “Vejam só! Não reparei que embarquei usando os sapatos com os
quais trabalhava no campo. Estes sapatos estão velhos e gastos, mas são
confortáveis. E são meus e foram pagos por mim. Em compensação meu povo pode
ter sapatos melhores que o seu presidente”
Tomou!
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