quinta-feira, 15 de maio de 2014

Brasil é mais violento que África do Sul ao organizar Copa, diz pesquisador


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Ocupação de áreas pobres por militares, como no Complexo da Maré no final de março, não ocorreu na África do Sul, afirma Peter Alegi
Escolhidos para receber as Copas do Mundo de 2010 e 2014, África do Sul e Brasil enfrentaram atrasos nas obras, críticas sobre os gastos públicos com o evento e dúvidas quanto à viabilidade financeira de estádios erguidos para o torneio.
No entanto, enquanto a maioria dos sul-africanos aguardou o campeonato com grande expectativa e boa vontade, muitos brasileiros têm demonstrado – em protestos ou pesquisas de opinião – enorme descontentamento com o evento.
O que explica a disparidade nas posturas? E o que diferencia os preparativos da Copa brasileira da organização do Mundial sul-africano?
Coautor de A Copa da África, livro que analisou os impactos do Mundial de 2010 na África do Sul, o professor de história africana da Universidade do Estado de Michigan (Estados Unidos) Peter Alegi arrisca algumas respostas.
Para ele, os comportamentos distintos talvez reflitam as diferentes perspectivas enfrentadas no Brasil e na África do Sul pela classe média, grupo que detém enorme influência política nos dois países. Ele diz que, enquanto a classe média brasileira se sente pressionada e cobra melhorias urgentes nos serviços públicos, a sul-africana ainda desfruta de avanços recentes em seu padrão de vida.
"Na África do Sul, a classe média é formada principalmente por negros que acabaram de conseguir bons empregos, comprar casas, conquistar a liberdade de opinião e movimento. Para a classe média sul-africana, o cenário talvez pareça mais positivo que para a brasileira."
Alegi cita, no entanto, o que considera uma diferença importante nos preparativos para a Copa dos dois países, que pode ter colaborado para inflamar os ânimos contra o Mundial aqui.
"O que a África do Sul quase não fez e o Brasil parece estar fazendo muito são as remoções forçadas de pessoas e um policiamento muito agressivo. Na África do Sul, não se via o Exército deslocando centenas ou milhares de soldados para policiar bairros pobres", diz.

Leia, no site da BBCBrasil, os principais trechos da entrevista concedida por Alegi.

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