
No verso de um pacote de
salgadinhos, uma imagem estampa os malefícios à saúde causados pela
obesidade, à semelhança do que já existe nos maços de cigarro.
Esse tipo de embalagem ainda não existe no
mercado, mas faz parte de um conjunto de reivindicações de entidades de
promoção da saúde junto a fabricantes de alimentos e bebidas.
Duas delas, a Consumers
International (que organiza campanhas internacionais em defesa do
consumidor) e a Federação Mundial de Obesidade, lançaram nesta semana
uma convocatória global para que os governos regulem esse setor de forma
semelhante ao que já fazem com a indústria do cigarro.
Na avaliação de representantes dessas organizações, a obesidade oferece hoje mais riscos à saúde humana do que o tabaco.
Dados mostram que os quilos extras estão entre as três principais causas de mortes no mundo, ao lado do tabagismo e do álcool.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a OMS,
35% dos adultos acima de 20 anos se encontram acima do peso, enquanto
que 11% são considerados obesos. Os dados são de 2008.
No Brasil, estatísticas recentes do Ministério
da Saúde apontam que pouco mais da metade da população (50,8%) tem
sobrepeso, sendo 17% obesos.
Segundo as entidades, governos ao redor do mundo
deveriam criar um arcabouço regulatório global para a indústria de
alimentos e bebidas, nos mesmos moldes do que já existe para a venda de
cigarros.
Tanto a Consumers Internacional quanto a
Federação Mundial de Obesidade afirmam que as mortes globais devido à
obesidade e ao sobrepeso aumentaram de 2,6 milhões em 2005 para 3,4
milhões em 2010.
Um mundo de gordinhos
A obesidade cresceu a ponto de se tornar uma epidemia global. Entre as principais razões para o excesso de peso, estão o sedentarismo e a manutenção de hábitos alimentares pouco saudáveis, como a ingestão de lanches rápidos (fast-food).
Sobrepeso (em % da população)
Mundo: 35%
Brasil: 50,8%
Obesos (em % da população)
Mundo: 11%
Brasil: 17%
Fonte: Vigitel/OMS
Novas regras
As novas regras incluiriam, de acordo com as
entidades, uma redução dos níveis de sal, de gordura saturada e de
açúcar nos alimentos, além de uma melhoria na comida servida nas escolas
e hospitais.
As organizações também reivindicam um controle
mais rígido da propaganda de alimentos e uma maior promoção por parte
dos governos de hábitos saudáveis de alimentação.
A Consumers International e a Federação Mundial
de Obesidade acrescentaram que as gorduras trans, um dos maiores vilões
da obesidade, devem ser abolidas de todos os alimentos e bebidas nos
próximos cinco anos.
Para que essas ideias saiam do papel, as
entidades sugerem que os governos revejam os preços dos alimentos,
introduzam impostos, alterem os padrões de regulação existentes e
incentivem pesquisas na área médica.
Segundo Luke Upchurch, da Consumers International, a indústria de alimentos deveria ser tratada de forma semelhante à do tabaco.
"Queremos evitar uma situação como a dos anos
60, quando as fabricantes de cigarro diziam que não havia nada de errado
com seus produtos, que eles eram bons para a saúde e 30 a 40 anos
depois milhões morreram", disse Upchuch à BBC.
"Se não tomarmos uma atitude agora, teremos a mesma intransigência e a morosidade na indústria de alimentos", acrescentou.
Ele diz que as nova regras deveriam ser
discutidas no âmbito "global", o que significaria que os governos
estariam 'legalmente obrigados' a implementá-las, em vez de simplesmente
ignorar a situação.
Brasil
Upchurch afirmou estar confiante de que Brasil e
Noruega podem liderar a iniciativa em prol de uma maior regulação da
indústria de alimentos. Ambos os países restringiram a publicidade
direcionada ao público infantil.
"A recente decisão do Brasil é um bom exemplo nesse sentido", afirmou Upchurch.
Em abril deste ano, o Conselho Nacional de
Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) emitiu uma resolução em
que considera abusiva toda a propaganda dirigida à criança que tem "a
intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço" e
que utilize aspectos como desenhos animados, bonecos, linguagem
infantil, trilhas sonoras com temas infantis, oferta de prêmios, brindes
ou artigos colecionáveis que tenham apelo às crianças.
Ficam de fora, segundo a resolução, campanhas de
utilidade pública referentes "a informações sobre boa alimentação,
segurança, educação, saúde, entre outros itens relativos ao melhor
desenvolvimento da criança no meio social".
No entanto, associações de anunciantes,
emissoras, revistas e de empresas de licenciamento e fabricantes de
produtos infantis criticam a medida e dizem não reconhecer a
legitimidade constitucional do Conanda para legislar sobre publicidade e
para impor a resolução tanto às famílias quanto ao mercado
publicitário. Leia matéria completa no BBCBrasil
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