“...como
é que eu posso ler se eu não consigo concentrar minha atenção/ se o que me
preocupa, no banheiro ou no trabalho, é a seleção”?
São
versos de Raul Seixas e lá se vão 40 anos e nada mudou. Esta semana o Brasil
inteiro botou a bunda na cadeira e o olho na televisão para ver e ouvir a
convocação da seleção brasileira de futebol. Uma verdadeira e grande emoção
nacional e explosão de ufanismo patriótico.
Eu também gosto de futebol, até já fui
a estádios. Mas, hoje nada me motiva a sair da minha casa. Os estádios não oferecem segurança, as ruas
também, e o próprio futebol, envolvido num lamaçal de corrupção e ladroeira, já
perdeu a graça de outros tempos. Lembrando ainda que não existem mais torcidas
e sim gangues em guerra dentro dos estádios.
Uma pesquisa feita pela própria Fifa,
aponta o perfil do público que estará nos estádios durante a Copa do Mundo a
partir de junho próximo. Na maioria serão homens da faixa etária de 25 anos,
estrangeiros, ricos e solteiros. Aqui no Brasil, apenas os endinheirados
poderão assistir aos jogos, porque o preço dos ingressos é proibitivo para assalariados.
Ou seja: O povo mesmo não entra. Não está convidado para a festa e terá que se
contentar em assistir pelos aparelhos de TV que estão comprando vorazmente e em
infinitas prestações mensais ou, quiçá, em telões colocados por políticos, já que
estamos em ano de eleições.
Mas, esse povo que não vai participar
da festa é o mesmo que elege os nossos governantes. Contenta-se com migalhas e
sofre passivamente com a falta de saúde, segurança, moradia digna e educação.
Mas, educação parece que não lhes faz falta. Está fora de moda desde que o seu
guru Luís Inácio Lula da Silva declarou que educação é coisa para gente besta,
porque ele não precisou estudar para ser presidente e ler é uma coisa muito
chata.
Essa gente não vai ler este meu
comentário, porque a maioria é analfabeta ou simplesmente não gosta de ler. E
se o fizesse, ainda iria ficar com raiva de mim porque estou defendendo os seus
interesses maiores, que, com certeza, não é a realização de uma copa do mundo
no Brasil.
Por isso, vai continuar morrendo como
moscas, seja pela senha assassina dos bandidos, pelas drogas vendidas nas ruas
abertamente pelos traficantes, pelo transito descontrolado e cheio de
assassinos impunes ao volante, ou de qualquer doença por absoluta falta de
atendimento na rede de saúde pública.
Como já se disse, esse não é um país
sério. E ao que tudo indica, nunca será. Caminhamos a passos largos para total
ignorância, insegurança, pobreza e iniquidade moral. Mas temos bolsa esmola,
futebol e carnaval.
Que mais o povo poderia desejar, para
ser tão feliz quanto é?
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