A resposta é: depende. O aplicativo, que
ganhou relevância após o vazamento de mensagens da Lava-Jato, tem um
modo de "chat secreto", que oferece mais proteção - mas há indícios de
que ele não foi acionado pelos procuradores do Ministério Público
O Telegram é um serviço de mensagens instantâneas que, no Brasil,
ficou conhecido como uma alternativa para o WhatsApp quando, alguns anos
atrás, o aplicativo do ícone verde era frequentemente tirado do ar por determinação da Justiça.
Desde o último domingo (9), com a divulgação pelo site Intercept
de conversas entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e procurador da
República Deltan Dallagnol sobre o andamento da Operação Lava Jato, o
Telegram ganhou novamente os holofotes.Assim que as mensagens trocadas na plataforma vazaram, levantou-se a
hipótese de um ataque hacker. A Polícia Federal está investigando essa
possibilidade. O Telegram, por sua vez, negou
ter sido alvo de uma invasão do tipo. Foi justamente pela promessa de
oferecer maior privacidade aos usuários que o serviço ganhou
notoriedade. Mas afinal, ele é mais seguro que o WhatsApp?
Breve história do Telegram
Criado em 2013, o Telegram foi desenvolvido pelos irmãos russos
Nikolai e Pavel Durov, os inventores do VK, a maior rede social da
Rússia. O sistema de mensagens nasceu com o dinheiro da venda do VK para
um grupo de tecnologia ligado ao governo russo.
Mas a compra não foi muito amigável: em 2018, a Rússia foi à Justiça para proibir o Telegram no país. A justificativa era de que a empresa não quis abrir sua criptografia (codificação de dados) para o governo russo. Na
época, a plataforma já contava com mais de 200 milhões de usuários pelo
mundo. O WhatsApp, que pertence ao Facebook, possui mais de 1,5 bilhão – 120 milhões somente no Brasil.
Qual a diferença entre eles?
No quesito criptografia – tecnologia que transforma mensagens e
arquivos em códigos, aumentando a segurança na comunicação – o Telegram
saiu na frente do “zap”: desde o início, as mensagens trocadas no
serviço russo passavam por um protocolo de encriptação. No caso do
WhatsApp, a funcionalidade só foi incorporada em 2016, após críticas à
respeito de constantes vazamentos.
No entanto, Telegram e WhatsApp diferem em duas características: o
armazenamento das mensagens de cada usuário e a forma de acesso a
elas. No WhatsApp, mensagens e arquivos ficam armazenados no celular – a
empresa garante que nada do tipo fica salvo nos servidores da empresa. O
app faz backup automático das mensagens, que são salvas no Google Drive
(para quem usa o WhatsApp no Android) e iCloud (no caso do iPhone).
No Telegram, é diferente. Na versão “normal” do serviço (mais sobre
ela daqui a pouco), as mensagens são guardadas na nuvem, em servidores
da empresa espalhados pelo mundo. Isso está diretamente relacionado com a
proposta do aplicativo, que é de ser multiplataforma: é possível
acessar o Telegram de diversos dispositivos (tablet, smartphone,
computador). Como as mensagens estão salvas na rede, você consegue
manter mais de um canal de conversa. No caso do WhatsApp, tudo precisa
necessariamente passar pelo celular. É por isso que o WhatsApp Web não
funciona se o seu aparelho não estiver conectado à Internet. Apesar da
fama que o Telegram tem de ser muito seguro, o modelo de funcionamento
baseado em nuvem cria pontos vulneráveis.
Agora, acessar o Telegram de uma pessoa hackeando os sistemas da
empresa é outra história. A empresa é tão confiante que oferece um
prêmio de US$ 300 mil para quem conseguir quebrar suas medidas de segurança. Até agora, ninguém conseguiu.
Como se proteger?
Se compararmos o WhatsApp com a versão normal do Telegram, o primeiro
leva a melhor na questão da segurança. Mas o aplicativo russo possui
uma versão “turbinada” do seu serviço: o chat secreto. De acordo com a
empresa, ela oferece máxima privacidade ao usuário. Nesse modo de
funcionamento, as mensagens são protegidas por criptografia
passo-a-passo, ou seja, desde que saem do remetente até chegarem ao
interlocutor. Nessa modalidade, não é possível a criação de grupos – o
que, presumivelmente, significa que os procuradores do Ministério
Público cujas mensagens foram vazadas não a tenham utilizado.
A recomendação de segurança (e que vale para ambas as plataformas) é
usar a verificação em duas etapas, disponível para ativação nas
configurações dos aplicativos. Com ela, é possível criar uma senha
extra, que será pedida toda vez que você (ou alguém) tentar se
conectar. No fim, o bom e velho WhatsApp não é tão inseguro como se
costuma pensar. Já a privacidade do Telegram irá depender das
configurações que o usuário fizer.
Contudo, nenhum desses mecanismos de segurança é eficaz se o celular
da vítima for invadido. Nesse caso, o hacker passa a ter acesso total ao
dispositivo, podendo capturar tudo o que é digitado e visto na tela. Se
isso for um risco intolerável para você, a única saída é dispensar
qualquer meio de comunicação eletrônica – e recorrer às boas e velhas
cartas de papel. (Super Interessante)
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