Tudo é fragilidade. O amor que não diz bom dia, uma paixão que se torna póstuma, o instante de queda diante de uma dança que dilacera o vestido e o pudor, amputando a plenitude das promessas, a palavra mal dita, maldita palavra, a erva dos rancores que infiltra seu veneno sem pressa, e sem falha, o amigo que se distanciou, pois, finitos, foram os interesses comuns, o quarto vazio, inerte, os filhos que emudeceram, ocupados demais com a própria vida, a lua nova que nadava nua na memória, e nem surge mais, pois, já nem há lua, nem mar, nem céu, de arcaica que se tornaram as imaginações, a cara de mistério que mistério não é mais. Os pais, que partiram, a orfandade interminável, as unhas de sal, as flores no jardim. Tudo é fragilidade.
Nada que proteja é ancora. Tudo é essa fragilidade. O tédio das coisas e
dos desejos, que se instala em desaforos cotidianos; as rezas sem fé,
ou perdão, rezas de pagã, as cartas que não são enviadas, ou que chegam
tardias, a tribo em que me sitio, o crepúsculo, a melancolia das rodas
do carro de boi, as províncias da vaidade que ocupamos feito bárbaros
insaciados, o amor, outra vez, que não diz bom dia, os nômades, que não
fazem pouso, nem raiz. Os reveses mutantes. Tudo é fragilidade.
As porteiras de palha dos afetos, os que crucificamos em nosso santo nome, as notas erradas de uma canção, as delicadezas hesitantes, que não cometemos, os dizeres que não dizemos a todos os outros, pecando, erradamente, mais por falta que excesso, a reinvenção que não é feita.
O corpo, a mente, a alma, a finitude. Tudo é fragilidade. Tudo é poeira de ossos e fragilidades.
E, no entanto, sempre, é preciso o milagre. Que só você faz.
As porteiras de palha dos afetos, os que crucificamos em nosso santo nome, as notas erradas de uma canção, as delicadezas hesitantes, que não cometemos, os dizeres que não dizemos a todos os outros, pecando, erradamente, mais por falta que excesso, a reinvenção que não é feita.
O corpo, a mente, a alma, a finitude. Tudo é fragilidade. Tudo é poeira de ossos e fragilidades.
E, no entanto, sempre, é preciso o milagre. Que só você faz.
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