terça-feira, 25 de junho de 2019

Por que seu smartphone pode se tornar um espião dentro do seu bolso

 Para muitas pessoas, o smartphone é uma janela para o mundo. Mas e se for também uma janela para sua vida privada? Você já pensou que pode estar carregando um espião no bolso?
Imagine se hackers pudessem instalar remotamente spywares - um programa que coleta informações sobre uma pessoa ou empresa, sem seu consentimento, e permite controlar o aparelho à distância - para ter acesso a tudo, inclusive mensagens criptografadas, e até acionar o microfone e a câmera?
Bem, isso não é tão difícil quanto parece, e há evidências convincentes de que este recurso está sendo empregado para rastrear o trabalho de jornalistas, ativistas e advogados em todo o mundo.

Software é tão poderoso que é classificado como arma


Uma câmera de celular é como um olho - vê tudo que está na frente dela
Mike Murray é especialista em segurança cibernética na Lookout, empresa que ajuda governos, empresas e consumidores a manterem seus telefones e dados protegidos.

Ele explica que o software de espionagem mais sofisticado já desenvolvido é tão poderoso que é classificado como arma e pode ser vendido apenas sob condições rígidas, porque ele transforma o telefone em um dispositivo de escuta que pode ser rastreado - e permite roubar tudo que está armazenado no aparelho.
"Quem opera o software pode rastreá-lo pelo GPS. É possível ligar o microfone e a câmera a qualquer momento e registrar tudo o que está acontecendo ao redor. Ele rouba o acesso a todos os aplicativos de mídia social, fotos, contatos, informações de calendário, email, documentos", diz Mike.
O spyware já existe há anos, mas agora estamos entrando em um mundo totalmente novo.
Este software não intercepta dados em trânsito, quando normalmente já estão criptografados, mas quando ainda estão no telefone, assumindo o controle de todas as suas funções - e a tecnologia é tão avançada que é quase impossível detectá-la.

'Spyware' na captura de El Chapo


O traficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán tinha um império multibilionário. Depois de fugir da prisão, ele ficou foragido por seis meses, com a ajuda e proteção de sua rede criminosa.
Durante esse período, só se comunicava por telefones criptografados, supostamente impossíveis de hackear.
Mas as autoridades mexicanas haviam adquirido programas de espionagem novos e mais avançados e conseguiram infectar os telefones daqueles que o cercavam, o que os levou ao seu esconderijo.
A captura de El Chapo mostra como esse tipo de programa pode ser uma arma valiosa na luta contra terroristas e o crime organizado. Muitas vidas podem ter sido salvas e extremistas presos após empresas de segurança invadirem telefones e aplicativos criptografados.
Mas o que impede quem compra essas armas de usá-las contra quem quiserem? Quem incomoda um governo corre o risco de ser hackeado?

O blogueiro britânico que tornou-se um alvo


Rori Donaghy é um blogueiro que publicava em seu site reportagens sobre violações de direitos humanos nos Emirados Árabes - as vítimas iam desde trabalhadores migrantes a turistas que violavam a lei.
Ele tinha apenas algumas centenas de leitores, e suas manchetes não eram mais incendiárias do que as que apareciam no noticiário todos os dias.
Quando ele passou a trabalhar no site de notícias Middle East Eye, algo aconteceu: começou a receber emails estranhos com links de remetentes desconhecidos.
Rori enviou um email suspeito para o grupo de pesquisa The Citizen Lab, na Universidade de Toronto, no Canadá, que investiga o uso indevido de espionagem digital contra jornalistas e ativistas de direitos humanos.
Eles confirmaram que o link era para fazer com que não só fosse baixado um vírus em seu aparelho, mas também informar ao remetente que tipo de proteção ele tinha para que a invasão não fosse detectada - um sinal de sua sofisticação.
Foi descoberto que Rori estava sendo perseguido por uma empresa de espionagem eletrônica que trabalhava para o governo dos Emirados Árabes monitorando grupos que o governo acredita serem extremistas e riscos à segurança nacional.
Eles até deram ao pequeno blogueiro britânico um codinome - "Giro" - e monitoraram membros de sua família, assim como todos os seus movimentos.

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