* Alegrias do pai *
Com vagar e paciência para arrancar-lhe assuntos que não gosta de abordar, quem sabe, um dia eu venha a ser seu intérprete. Na capital de Pernambuco, além da velha paixão pela Marinha, tomou-se de dois outros amores. Pela terra em si e por uma pernambucana. Naquela e com essa não procriou. De relacionamentos anteriores frutificaram dois filhos, um dos quais já lhe branqueou a vasta barba e os parcos cabelos, brindando-o com um neto. Linha de sucessão tipicamente machista.
Tanto, todavia, não lhe é exclusivo. Por essas coincidências da vida, dois de seus outros irmãos, a ele se assemelham em termos da genética procriadora.
Um, baiano de Salvador, 40, vive no Rio, feliz
da vida, teve dois meninos em sociedade com uma carioca. Outro,
porto-alegrense, 57, vive no estado capixaba, precisamente em São Mateus. Casado
com mulher mineira, é pai de quatro meninos.
Como se nota, nenhum dos três citados descendentes do meu território filial masculino, seguiu ao pai na sina do “crescei e multiplicai-vos”, segundo a qual “respeitei” (puro acaso) o natural equilíbrio da humanidade. Metade de uns e metade de umas. Quanto à subsequente geração de netos, é verdade que ainda restam os dois filhos são-gonçalenses, solteiros. Tudo correndo a contento, anos avançando, espero vir a ter oportunidade de completar a presente foto.
Em compensação minhas cinco filhas parecem ter sido mais ecléticas.
A primogênita absoluta, pelotense, 62, que vive em Belo Horizonte, divorciada há muitos anos, mulher de um casamento só, matrona de uma ampla casa vertical, onde abundam os sucessivos encontros familiares e alegrias tempo afora, - eu deveria tê-la batizado por Letícia, - foi mãe de dois casais. Equilíbrio perfeito. Já é avó. A mais idosa do grupo fraterno.
A segunda filha, porto-alegrense, 61, advogada, aposentada, reside em Maceió. Quando jovem gerou um casal. Anos após, nos estertores dos tempos produtivos, houve por bem gerar uma menina, linda de viver - como de resto são todos meus netos e netas, - que é sua companheira no atravessar da meia-idade.
A terceira filha, paulista, 58, também já usufruindo da aposentadoria, seguiu a trilha do meio-a-meio: um casal de filhos.
A quarta vive na Argentina, soteropolitana, 52, doceira dedicada a adocicar com seus quitutes a boca dos viventes é mãe de outro casal.
Por último, mas não em último lugar, a quinta e derradeira filha, também baianíssima da Capital, 40, enamorou-se por um gringo, vindo a casar, lá e cá, com o dito e indo a viver nos Estados Unidos, onde é mãe de três meninas.
Assim é que no dispersado viver dos filhos mundo afora, vou esgotando o meu, na terra onde fui pai dos últimos dois varões. Estes e os demais dão motivos de sobra para eu não soçobrar e me lotam de orgulho por tê-los tido.
Não por ter sido um pai especial. Longe disso. Sim pela sorte de ter me relacionado com suas mães, todas mulheres de invulgar caráter. A elas quatro – que não me ouçam – respeitadas suas respectivas individualidades, devo consignar meu reconhecimento e render minhas homenagens. Com inteligência, sempre mantivemos uma complexa relação de afeto, não compreendida pela maioria das pessoas. Considero sermos lídimos representantes das famílias-mosaico do mundo atual. Um passo à frente das ditas famílias biológicas, vezes muitas vivendo de simples aparências.
Tivemos problemas? Claro que sim! Quem não os
teve na vida?
Mas,
sobrevivemos. Equilíbrio, compreensão e amizade mútua formaram o trio que me
trouxe até aqui e poder testemunhar a vida de meus filhos.
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