Cesar Oliveira |
Não, não falo da beleza das paisagens- de fora para dentro- e sim da capacidade de encontrar uma espécie de deus na delicadeza dos detalhes e dos gestos. Uma carta em papel, um poema lido em voz alta, uma declaração sincera a um amigo, uma mulher ruborizada. Sim, uma mulher ruborizada. O limiar de um mundo que se finda, o último mirante antes do crepúsculo definitivo e dos discursos beligerantes.
É necessário criar aceiros, levantar barricadas, antes da ocupação pelo excesso de exigências da realidade que torna nossas falhas uma sentença; nosso insucesso, uma condenação; como se não fossemos frágeis e a vida não fosse uma permanente armadilha.
Confesso que, às vezes, me sinto como se tivesse endurecido, como se não pudesse mais achar a palavra limpa, nem conjugasse ilusões, de tanto assédio das horas desertas e reais. E sei, então, que é preciso bater a palavra na pedra de lavadeira para deixá-la clara e tomar, então, o caminho de volta, antes que seja tarde demais.
Todos nós...
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