sábado, 27 de janeiro de 2024

 


* Ir para a Bahia * 

Sertão é palavra de etimologia obscura. Sempre se referindo ao interior do país e, portanto, com o significado de “região agreste, distante das povoações ou das terras cultivadas”, vamos encontrar o emprego do termo seja no escrivão Pero Vaz de Caminha, seja no Padre Antônio Vieira. 

As tentativas, para caracterizar “sertão” têm sido mais convencionais do que reais e o nome fixou-se no Norte e no Nordeste, muito mais que no Sul. Aliás, o interior do Rio Grande do Sul não é sertão. É pampa, quando muito. Sertão pode-se dizer é o interior de Goiás e Mato Grosso. 

Cá na Bahia, tirante a Capital e a faixa litorânea correspondente à zona da Mata Atlântica, todas as terras, as do Norte principalmente, sempre foram tidas e tratadas como sertão. À palavra, com o passar do tempo, associaram-se os conceitos da seca, das presenças do mandacaru e da caatinga. Talvez por isso, alguns suponham, sertão ser uma forma contrata do aumentativo da palavra deserto, isto é, “desertão”. Falsa ou verdadeira, a hipótese não deixa de ter certa lógica, quando se entenda que deserto não somente seja uma região inóspita, mas que possa também representar um ambiente ausente da presença humana. 

O tempo passou, nosso sertão povoou-se, mas continuou como tal sendo definido pelas gentes da Capital. E, como “a Bahia tem um jeito que nenhuma terra tem”, as terras da capital são chamadas Bahia e as restantes, sertão ou não, formam o interior. 

Comum ouvir-se por aqui, neste quase-sertão onde vivo, alguém dizer que vai para a baía. E tem lógica isso, embora a grafia pareça incorreta, aos menos avisados. O ir para a baía tem tudo a ver com o antigo sistema de acesso do sertão à capital baiana. Ia-se para os mares da Baía de Todos os Santos, pegar um saveiro e com ele, velas ao vento, chegar-se à Salvador. Isto visto, fácil fica entender-se o atual ir para a Bahia. 

Coisas do linguajar sertanejo. Inteligente, astuto, paciente, delicado. 

  

Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos

Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel,

vive em São Gonçalo dos Campos – BA.

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