De volta a este futuro, McFly, descobriria
que nos comunicamos muito mais e facilmente embora de forma mais mecânica e
menos afetiva. Descobriria que a ira, a intolerância, os preconceitos, e as
emoções humanas, foram despidas do silêncio protetor que a falta de exposição
nos concedia. Saímos da última caverna, acolhedora, e, sem pudor, nos lançamos
ao espetáculo feitos tiranossauros vorazes a consumir a curtida e atenção
alheia, levando ao extremo a mais básica das
necessidades humanas a ser satisfeita que é a companhia, numa espécie de surto
universal de carência.
Este despudor confessional não se consuma
sem sequelas. Com as biografias sendo montadas em tempos reais e a memória
implacável dos bytes, estamos nos (re)conhecendo muito mais e, o conhecer
absoluto, vai desfazendo os mitos individuais e aluindo as admirações, que se
tornam mais frágeis porque a realidade costuma ser implacável com o humano,
como, aliás, já dizia o genial Millor: como são admiráveis as pessoas que não
conhecemos muito bem.
Esta conexão sem recusas, senso, ou
aceiros, nos coloca diante de dois abismos. Um, criado pelo engano da edição
que faz a vida alheia ser um clip de virtudes e prazeres, um dolce far niente
vendido como cotidiano que cria a sensação de injustiça, inveja comparativa,
que gera frustração e ansiedade, esquecendo que apenas cada um - e o tarja
preta ! - sabe que nem tudo é a delícia de se ser o que é, ou que se parece
ser.
O outro, criado pela falta de editoria,
que faz com que o desnudamento vá demolindo imagens e referências - novamente
Millor-, limando cobiças, formatando um personagem a partir de uma leitura
enviesada, já que sem a interação dos olhos e do tom, mas alicerçada na
variável interpretação do escrito e construída nas entrelinhas ou sobre
revelações de nossas falhas, pecados, preconceitos, ideias, opiniões virtuais,
que antes corriam desconhecidas e das quais nos depurávamos, nos editávamos,
lambendo nossas feridas em anonimato reparador.
Não somos mais o que somos, quando nos
contamos; nem somos mais o que somos quando nos contam.
Assim, estamos em risco permanente. E não
haverá mais dia fácil.
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