Em abril de 1991, Luiz Antônio Fleury Filho, então governador de São Paulo, decretou a data de 15 de setembro como o Dia do Musicoterapeuta. Logo a comemoração foi estendida para o resto do país.
A definição clássica diz que Musicoterapia é a utilização da música e/ou algum de seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia), por um musicoterapeuta qualificado, com um paciente ou grupo, em um processo destinado a facilitar e promover comunicação, relacionamento, aprendizado, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, a fim de atender às necessidades físicas, mentais, sociais e cognitivas.
O que é musicoterapia?
Trata-se de um híbrido entre arte e saúde e serve para promover a comunicação, expressão e aprendizado. Além disso, busca facilitar a organização e a forma de se relacionar dos seus pacientes.
Pode ser utilizado em qualquer área que haja demanda, seja promovendo saúde, reabilitando ou atuando como medida de prevenção ou simplesmente para melhorar a qualidade de vida.
Além disso, existe a musicoterapia comunitária, ou social, que visa empoderar grupos e possibilitar o engajamento e organização necessários para que os indivíduos do grupo tenham plenas capacidades de enfrentar os desafios comuns da vida em sociedade.
Segundo a Federação Mundial de Musicoterapia, “a musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e restabelecer as funções do indivíduo para que ele/ela possa alcançar uma melhor integração intra e interpessoal e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida”.
Como a música age no cérebro?
Um estudo publicado em 2014 analisou como o cérebro funciona quando sob influência de música.
Nesse estudo, os pesquisadores colocaram músicos de jazz para tocar seus instrumentos enquanto faziam uma ressonância magnética do cérebro. Essa prática serviu para averiguar quais partes do cérebro se acendiam quando os músicos estavam tocando.
Além de se constatar que todas aquelas regiões foram de fato ativadas, os pesquisadores pediram que os músicos improvisassem em conjunto. Isso possibilitou a constatação de que o cérebro, quando estamos improvisando uma música em conjunto, funciona de uma maneira muito similar a quando estamos conversando oralmente com outra pessoa.
Essa descoberta serve de respaldo para musicoterapia e seus benefícios para processos comunicativos, visto que as mesmas áreas de comunicação se acendem tanto quando estamos conversando como quando estamos tocando algum instrumento com outra pessoa.
Além disso, a música ativa diversas regiões do cérebro responsáveis pela memória, como o hipocampo. Isso faz com que ela possa ser utilizada de forma terapêutica em pacientes que sofrem com doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Como funciona a musicoterapia?
É bastante difícil descrever o que acontece em uma sessão de musicoterapia, pois existem diversas abordagens de tratamento.
Ele pode ser realizado com o paciente passivo, somente escutando o musicoterapeuta tocando, ou ativo, ou seja, participando e fazendo música com o terapeuta.
Essas sessões de terapia são muito úteis para ajudar no desenvolvimento de habilidades comunicativas e de autoexpressão.
Também é possível que a musicoterapia seja utilizada em grupos, em que todos os membros tocam algum instrumento em conjunto e participam da execução de uma música. Segundo os estudos de caso, as sessões ajudam os pacientes a se soltarem mais e expressarem as próprias emoções com mais facilidade.
Benefícios da Musicoterapia
Existem diversos benefícios que podem ser proporcionados pela musicoterapia. Listamos aqui os principais cientificamente comprovados:
Doenças cardíacas
Segundo um review publicado pela Cochrane Library, uma organização sem fins lucrativos parceira de pesquisas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o simples ato de ouvir música pode melhorar as frequências cardíaca e respiratória, além da pressão sanguínea em pacientes com Doença Arterial Coronária (DAC).
Ainda são necessários mais estudos para comprovar a real eficiência e aplicabilidade de musicoterapia para pacientes com DAC, mas a pesquisa indica que a música ajuda a reduzir a pressão sanguínea, melhorar a frequência cardíaca e diminuir os níveis de estresse, sendo ela uma peça de Mozart ou um show do Exaltasamba.
Transtornos neurológicos
Apesar da musicoterapia já ter sido usada de maneira persistente para tratar diversos problemas psicológicos, foi somente nos anos 1980 que pesquisas empíricas (que se apoiam em experimentos) começaram a ser feitas nesse campo.
Desde então, diversos estudos na área vêm sido desenvolvidos, levando em conta diversas patologias. Até hoje, a musicoterapia se mostrou mais eficaz no tratamento de sintomas negativos, como a ansiedade e o isolamento.
AVC
A música age em diversas razões do cérebro, razão pela qual se mostra tão efetiva no tratamento de vítimas de derrames. Isso acontece porque a música é capaz de despertar emoções e estimular interações sociais, auxiliando na recuperação do paciente.
Demência
É justamente por ativar tantas áreas do cérebro e de maneira tão intensa que a música serve como via terapêutica para tratar sintomas como a demência, tão comum em doenças como o mal de Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas.
Ao escutar música, o paciente ativa diversos padrões neuronais (sinapses) que não eram estimulados há muito tempo, fazendo com que a pessoa que está sofrendo com a demência “acorde”, de certa forma.
Esse tipo de terapia tem sido muito empregada nos Estados Unidos e vêm ganhando bastante popularidade nos últimos anos.
Amnésia
Alguns sintomas da amnésia foram amenizados através de diversas interações com a música, seja quando o paciente toca algum instrumento, ou quando está passivo, somente ouvindo uma canção.
Afasia
Existe uma técnica usada por musicoterapeutas e fonoaudiólogos chamada Terapia da Entonação Melódica, que serve para ajudar pessoas com distúrbios de comunicação causados por danos no hemisfério esquerdo do cérebro.
A técnica busca envolver habilidades de canto, estimulando as regiões não danificadas do hemisfério direito a “aprenderem” a falar. Nessa técnica, frases comuns são transformadas em frases melódicas.
No início, o paciente fala quase que cantando e aos poucos vai reaprendendo a entonação típica e os padrões rítmicos comuns da fala do dia a dia.
Autismo
O autismo, também conhecido como Transtorno do Espectro Autista, é um transtorno que causa problemas no desenvolvimento da linguagem, nos processos de comunicação, na interação e no comportamento social das crianças.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 70 milhões de pessoas em todo mundo possuem algum grau de autismo, sendo que esse número, só no Brasil, ultrapassa os 2 milhões.
Crianças com autismo podem se beneficiar bastante da musicoterapia, pois a utilização de instrumentos pode servir como uma importante ferramenta para incentivar a comunicação e a autoexpressão, trazendo qualidade de vida para o portador da doença.
Vida social
A musicoterapia estimula o potencial criativo e a capacidade comunicativa, mobilizando aspectos psicológicos, biológicos e culturais. É aí que a musicoterapia comunitária ou social entra.
Essa modalidade de musicoterapia busca empoderar grupos e possibilitar engajamentos, troca de experiências entre pacientes, para que eles possam se organizar e realizar todos os enfrentamentos necessários para uma vida social de maior saúde.
A origem da musicoterapia contemporânea
Não menos interessante que todas as especulações feitas por sociedades antigas, a história da musicoterapia moderna tem suas raízes em um local bastante curioso: os hospitais militares da segunda guerra mundial.
A música nunca deixou de gerar interesse em médicos, mas foi somente aplicada de forma sistematizada e estudada por conta do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A música era utilizada nesses hospitais para ajudar na recuperação de soldados que voltaram da guerra, sendo especialmente voltada para pacientes transtornos mentais e emocionais.
A musicoterapia não é uma técnica nova. Muito pelo contrário. Gerou por muito tempo fascinação e é somente a partir do século XX que investigações mais científicas puderam ser feitas a respeito do seu potencial terapêutico.
Além disso, hoje, mais do que em qualquer outro momento da história da humanidade, estamos em contato direto com a música. Ela se faz presente o tempo todo, nos nossos fones de ouvido, nos nossos carros e até no trabalho.
Muitas vezes, não temos o tempo necessário para apreciá-la como deveríamos e ela acaba servindo como simples ruído de fundo. Entretanto, se enxergarmos o potencial terapêutico e as mudanças que ela pode proporcionar a nossa vida, talvez possamos levar uma vida saudável. Se não saudável, pelo menos mais sonoramente colorida.
Com informações do TJDFT
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