domingo, 19 de setembro de 2021

O Rádio AM em Feira de Santana. Grandes valores

 

        Nos primeiros anos de funcionamento - década de 50 - mesmo com a natural inexperiência dos seus diretores e trabalhadores e a falta de recursos técnicos - isso se comparado com a época atual - a Sociedade e a Cultura cumpriram importante papel na consecução do desenvolvimento da cidade, fomentando as atividades sócio-desportiva-culturais. 

Grandes valores do rádio feirense

O fato de a voz de Feira de Santana chegar a outros municípios servia para mostrar a importância da Cidade Princesa no contexto estadual, atraindo cada vez mais pessoas de outras comunidades, inclusive de fora do estado. Muito além de oferecer informação e entretenimento, outro fator de fundamental importância era o papel do  rádio como meio de comunicação, numa época em que cartas e telegramas eram as formas disponíveis para isso.

Durante todo o dia e, especialmente, nos programas matinais “sertanejos ou de forró”, eram incontáveis os avisos do tipo   “atenção dona Maria na Fazenda Toco em Mairi, Crispim avisa que já está em Feira, tudo  bem”, ou “Agnaldo avisa a Tertuliana em Santa Bárbara, que o médico está  marcado para amanhã as 10 horas”. Esse tipo de comunicação era o que existia de mais moderno e preciso, estendendo-se até por volta dos anos 80.

Valter Vieira e Joel Magno
       Foi uma época de programas que alcançaram enorme audiência criando e solidificando carreiras de comunicadores. O professor Joel Magno com o “Atrações J. Magno”, inicialmente na Rádio Sociedade, tornou-se o grande ídolo. No programa em duas edições - manhã e tarde -, ele atendia pedidos musicais, através de cartas (centenas). Era “coqueluche”, como se dizia então.

O “Acorde Sorrindo” de Chico Caipira ( Francisco Almeida) na Rádio Sociedade e o posterior “Ronda Policial”, consagraram esse comunicador que era  natural do distrito de Maria Quitéria. 

Edval Souza
No jornalismo Edval Souza com o “A Cidade em Preto e Branco”, às 7 horas na Sociedade foi imbatível. “Se não quer que a notícia seja divulgada não deixe que o fato aconteça”, essa expressão usada por Edval, eternizou-se, ou o eternizou no radiojornalismo.

“Tarde Alegre” com Silvério Silva, na Sociedade foi outro sucesso. Na Rádio Cultura alguns programas também marcam época como “Duas vozes e um Violão” apresentado por Dourival Oliveira com os cantores Raimundo Oliveira e Ivanito Rocha. Toninho acompanhava-os ao violão.

Em 1959 a audiência da Cultura chegou ao máximo com “Ritmo Alucinante’, às 11 horas, apresentado por Ivanito Rocha o primeiro programa de rock-n-roll do rádio feirense e que gerou a realização e três grandes festivais, um dos quais com a presença de Demétrius, então o grande ídolo da juventude.

Na Cultura também havia programas de auditório dentre eles o Brasil de Amanhã com a professora Alcina Dantas reunindo crianças e adolescentes, que revelou muitos valores dentre eles o consagrado narrador esportivo Itajay Pedra Branca. Os programas sertanejos ou “de forró” como eram chamados tinham vários horários na Cultura e um deles às 6 horas, o “Amanhecer no Sertão”, do sergipano Pereira da Silva, foi levado na década de 70 para a Rádio Carioca (hoje Radio Povo) onde continua sendo apresentado. Também famoso foi o “Forró do Mocó”, com Roberto Rubens, ao meio-dia.

Outro programa que marcou na Cultura, nos anos 60 foi o “A Bodega do Pinote” com o casal Pinote e Marina. Era uma espécie de informativo crítico. A notícia era dada em tom humorado e com crítica debochada. Marina dizia então: “olha a sujeira”, Pinote acrescentava “passa o pano” e ela completava “estou passando” ao tempo em que simultaneamente ambos batiam as mãos na mesa.

          Na década de 60, além dos programas musicais como “As maiorais da Semana” uma parada musical classificando os sucessos mais pedidos pelo público durante a semana, apresentado por James Nassif aos domingos, na Sociedade, surgiram os programas sociais.

Eme Portugal
        A sociedade era o grande foco em colunas de jornais, mas era tão grande a força do rádio, veículo considerado mais popular que os colunistas (jornalistas sociais) não resistiram. Eme Portugal, o maior dos colunistas do interior baiano, foi o primeiro  com um programa na Cultura e na Sociedade o “EME Portugal e a Sociedade”.  Também Cid Daltro, Antônio José Laranjeira e Oydema Ferreira, seguiram esse caminho. Esses programas divulgavam o que ocorria no dia-a-dia dos “ricos”, da alta sociedade.  

Mas já havia os denominados programas sociais, nos quais ouvintes homenageavam parentes, amigos e principalmente os aniversariantes do dia. Exemplo “Aninha parabeniza a prima Luiza aniversariando hoje no Tomba”. Na Rádio Sociedade "É Seu Esse Programa” foi o mais marcante. Na Carioca, a partir do final dos anos 60 e parte de 70, imbatível foi o “Carioca às Suas Ordens”, que atendia aos ouvintes, via carta, com os sucessos do momento em duas edições diárias, das 9 às 11 horas e das 14 às 17 horas.

    O esporte – em particular o futebol – sempre garantiu enorme audiência ao rádio. No final dos anos 50 e início da década seguinte a Rádio Cultura reuniu uma boa equipe de esportes contando com Ivanito Rocha, Raimundo Almeida – Dinho, Moacir Cerqueira e Lucio Bonfim. A Sociedade já nos anos 60 teve Edmundo de Carvalho Junior - Palito, Itajay Pedra Branca, Zadir Marques Porto, Santos Silva e Willian Alagoano. A Resenha Esportiva Socoima (patrocinada por essa empresa) de 12 às 13 horas era a principal  do rádio local. No ano de 1968 para enfrentar a Sociedade, a Cultura contratou a equipe de esportes da Cultura da Bahia (Salvador), que tinha à frente Newton Spinola Cardoso, como narrador Osvaldo Barreto, comentarista, Gaspare Sarraceno e vários repórteres.

 NOMES INESQUECÍVEIS

Agnaldo Santos, Silvério Silva, Jair Cesarinho e Aristides Oliveira

        Evidente que seria cansativo detalhar tudo sobre os primórdios da radiodifusão em Feira de Santana, mas vale lembrar valores que deixaram seus nomes marcados pela contribuição dada, além de alguns já referidos. Aristides Oliveira, Gildarte Ramos, Marcone Leão, Ed Carlos (Luís Carlos), Paulo Alves, Geraldo Borges, Gesil Sampaio do Amarante, os irmãos Valter e Roque Bacelar, Aristeu Pinto de Queiroz, Ginaldo Nascimento, Francisco Mario do Nascimento - Chico Baiano, Marivaldo  Bastos, José Malta, Ângelo Pedra Branca, Itaracy P. Branca, Antônio Carlos Cerqueira, Henrique Cerqueira, Wilson Simonal, Roque Sacramento Sena, Hiberlúcio Souza - Cacau, Ângelo Belmonte - Berô, Ítalo Del Rey, Nestor Peixoto, Urias Nery, Erivaldo Cerqueira, Luís Carlos Galvão, Virgílio Porto - Leguele, Vanderlito José,  Valter Sobral, Rogério Santana, Agnaldo Santos, Valter Vieira, todos eles comunicadores (locutores). Vale ressaltar que vários outros também tiveram importante participação no rádio local mas, seria quase impossível nomina-los aqui o que não significa que estejam sendo esquecidos. Pelo contrário, serão sempre lembrados.

Dona Milu
Maria Amélia Souza Gomes - Dona Milu ( primeira operadora de transmissor de rádio da Bahia), Júlio Soares, Luís Soares, Gregório Soares,  Edson Fernandes, Milton Hiroshi Watanabe, Filemon Carvalho, Evilásio Sergio, Edvaldo Maia, Edson das Virgens Teles, Assis, Edmilson de Sá Barreto, Edmilson Mascarenhas, Vicente Gomes, Jorge Rios, Antônio Carneiro,  José  Fernandes Carneiro, Laurentino Barbosa, Reginaldo Cunha, Alírio Santos, Fernando Oliveira, Jurandy Gomes, Antônio Batista, Girlanio Guirra, Luzinete Rocha. Vale lembrar que esses, dentre outros, foram operadores de áudio até por volta do final dos anos 70. Isso porque o motivo dessa coluna é focalizar o rádio OM ou AM, a partir do surgimento da Sociedade (1948) e a da Subaé (1979).

PROGRAMAS DE AUDITÓRIO

Marcaram época os programas de auditório a partir dos anos 50. Na Rádio Cultura  a professora Alcina Dantas, aos domingos proporciona lazer, educação e desenvolvimento à criançada com o Brasil de Amanhã. Também na Cultura, Turbilhão de Atrações, com Hiberlúcio Souza – Cacau, contribuiu para o surgimento de valores assim como o programa do carioca  Coelho Lima, na Rádio Sociedade que projetou cantores e grupos musicais. Sem a televisão o rádio era o único caminho para quem sonhava ser cantor, músico ou  artista (como se dizia).

Desses e de outros programas foi enorme a contribuição para o surgimento de grandes cantores como David Silva, Antônio Moreira Jr. Dilma Ferreira, Leo Ramos (Leopoldo Ramos), Raimundo Gonçalves, Silton Brandão, Geny Sales, Antonieta Correia, Geraldo Borges, Genival, Dito Leopardo, Miram Arruda, Gerson Guimarães, Raimundo Lopes, Maria Luiza, Marcelo Melo, os conjuntos Os Eremitas, IsraelStones, Os Leopardos, Os Divinais, duplas como Betinho e Mizinho, Maru e  Marilda, Brocoió e Quita, vários trios de forró, humoristas como Hiberlúcio Souza (Cacau) e músicos como Pedro (saxofone), Filemon e Ivan (sanfona) Dinho (cavaquinho) Kid Baiano(violão/voz), Zequinha de Abril, Cacau, Carioca, Arlindo, Fernando Risadinha, Caixinha, Zé Madorna (bateria),  Zé Trindade (teclados/acordeom), Nonato (piano) Lalu (violoncelo) Braga (clarinete), Israel  Exalto, Caguto, Roberto Lustosa, Roberto Fialho, Simonal (guitarra), Toninho,  Gelivar, Nezinho (violão).

A SOCIEDADE PELO MUNDO

Itajay Pedra Branca
    Na década de 60, exatamente em 1963 a Rádio Sociedade de Feira fez a sua primeira transmissão interestadual e a também a primeira de uma emissora local, falando diretamente de Recife no jogo Vitória x Náutico Capibaribe. Itajay Pedra Branca (foto), Dourival Oliveira e Francisco Almeida, foram os pioneiros. Como havia um hiato nas relações da diretoria do Vitória com as emissoras da capital, a Sociedade foi exclusiva com enorme audiência.

A partir de 1978 a Sociedade passou a transmitir jogos do Campeonato Nacional e em 1981 deu o passo mais importante acompanhado a seleção brasileira de futebol em uma excursão pela Inglaterra,  França e Alemanha. Mais uma vez coube ao narrador Itajay Pedra Branca essa missão inesquecível para o rádio do interior da Bahia.

        Um detalhe magno é que no dia 21 de maio de 1981, diretamente de Roma- Itália, Itajay em boletim especial, narrava, com exclusividade, o atentado contra a vida do papa João Paulo II. Em agosto do mesmo ano a Sociedade estava no Chile acompanhando a seleção brasileira. Daí em diante tornou-se comum a presença da RS em transmissões internacionais e a partir de 1982 em todas as Copas do Mundo.

 O GAROTO DA COPA

Dilton Coutinho
    Depois de começar no jornal Folha do Norte, mostrado extrema dedicação e interesse, que têm sido referencias na sua brilhante carreira de comunicador, Dilton Coutinho (foto), hoje líder de audiência na Sociedade com o Acorda Cidade, das 6 às 9 horas,  ingressou na  Rádio Fundação Ide e Ensinai (Radio São Gonçalo), como repórter de pista. Em 1980 ele foi para a Sociedade e em 1982, com 23 anos integrou a equipe de esportes da  emissora na Copa do Mundo na Espanha. Foi “elniño”, o mais jovem repórter da Copa, com notável trabalho.

O PRIMEIRO SEM SEGUNDO

Erivaldo Cerqueira
Erivaldo Cerqueira, popularizado como Bigorrilho, atuou durante muitos anos no rádio local, notabilizando-se pela  descontração e irreverência, foi, analisando-se bem o seu trabalho, dono de uma imensa  criatividade, talvez não devidamente explorada. Autodidata, atuava como apresentador de programas, repórter policial e esportivo, produtor dos seus programas e vendedor, sempre usando a sua capacidade nata com sucesso. Tinha saídas surpreendentes para situações embaraçosas, bordões inigualáveis e parecia estar sempre preparado para desafios na sua atividade. Alvorada RS, Forró da Pioneira, Bate Bola Esportivo, foram alguns dos seus programas.

 

 

Nenhum comentário: