quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Setembro amarelo - um caso de suicídio que eu acompanhei

    Em 2010 fiz amizade com um rapaz que gostava de meus textos e conversávamos muito pelo Messenger. Era um jovem idealista, cheio de ideias e sonhos, porém, por ser homossexual, acreditava-se inferior e tinha a crença de que nunca iria ser feliz ou se realizar na vida. Eu dizia que, embora ele fosse homossexual, sua vida seria o que ele fizesse dela e que o sucesso de uma pessoa, a felicidade e a realização interior não depende de sua orientação sexual, mas sim de seus pensamentos, crenças e atitudes.  Conversávamos sobre isso, mas eu notava que ele não acreditava muito. Respeitando sua forma de pensar deixei de tocar no assunto e fomos conversando sobre outras coisas até que ele desapareceu, não visualizava mensagens, nem enviava mais nada até que, achando que ele se afastou por algum motivo, respeitando sua decisão, deixei de procurá-lo.

No segundo dia do ano seguinte vi que ele me chamou novamente no Messenger e eu respondi: "Marcos! Que surpresa! Como você está?"

A pessoa do outro lado respondeu: "Aqui não é o Marcos, é o Matheus, irmão dele. Infelizmente o Marcos se matou na noite de Réveillon sem que ninguém pudesse prever. Descobrimos sua senha e estamos avisando às pessoas que ele mais conversava e pedindo orações. Ele vivia triste e se atirou do 13º andar do nosso prédio na madrugada de ontem. Estamos chocados!"

O susto foi grande. Imaginar um jovem bonito, com menos de 30 anos, que havia sido modelo fotográfico, com tudo pela frente se jogando do alto de um prédio e destruindo sua própria vida foi algo que me deixou muito ruim por vários dias. Orei muito por ele por muitos dias, até que passou o tempo e eu acabei esquecendo.

Na noite da segunda-feira de carnaval eu estava sozinho na sala assistindo ao desfile das escolas de samba do Rio, quando comecei a sentir um frio muito grande. Aquilo foi muito estranho, era verão, a temperatura nas alturas, meu corpo estava sem febre, mas o frio foi tão intenso que meu maxilar começou a tremer e uma angústia muito intensa tomou conta de mim. Nessa noite além de mim, só havia na casa meus pais que já estavam dormindo, mas mesmo assim levantei-me e ia pedir socorro a eles quando de repente vi no canto esquerdo da sala, debaixo da escada, o espírito de Marcos, tremendo muito, com o corpo todo ensanguentado, usando uma roupa que estava puída, mas dava pra ver que era uma calça preta e uma camisa branca de mangas com um colete preto aberto por dentro. Compreendi o que estava acontecendo e voltei para o sofá, desliguei a TV e comecei a orar. A visão foi ficando mais nítida e ele, fazendo todo o esforço que pôde gritou com as duas mãos apertando o pescoço: "me ajude, eu não aguento mais." Eu, não sabia o que dizer e soltei: "Eu não posso mais fazer nada por você, você destruiu seu corpo". Ele só repetia: "Eu quero voltar a viver, me ajude".

Confesso que fui tomado de horror e pedi a ajuda dos espíritos de luz, até que vi uma moça aparecer, vestida de enfermeira que o olhava com muito amor. Ela virou pra mim e disse: diga pra ele vim comigo, é a última chance. Então, com toda emoção que pude sentir disse isso a ele que, olhando para ela, rosto banhado em lágrimas, abraçou-a e desapareceram no meio de um clarão.

Custei a me equilibrar e nunca mais soube notícias dele. Os espíritos dizem que não estão autorizados a falar, mas eu acredito que ele ainda se encontre em recuperação num dos hospitais da outra dimensão, sofrendo muito, arrependido de seu ato.

Um ano depois, autorizado pelos espíritos, entrei em contato com a família e contei o que vi. Todos se surpreenderam porque a roupa que o vi vestido foi a mesma que ele usou na noite de Ano Novo e que ninguém nunca havia postado nenhuma foto dele com ela, traumatizados pela situação.

O suicídio é, sem dúvidas, o pior caminho que alguém pode escolher trilhar. Por mais difícil que seja um problema, uma situação, por pior que a vida de uma pessoa esteja sempre tem a solução. O maior sofrimento de um suicida é descobrir, no astral, com a certeza absoluta, de que os seus problemas todos se solucionariam se ele tivesse a paciência, a sabedoria e a sensatez de esperar um pouco mais. Quando descobrem isso querem voltar à Terra desesperados, mas não há mais como. A separação entre o espírito e o corpo por meio da morte é irreversível e só numa próxima encarnação é que ele conseguirá refazer esse equívoco.

Fraqueza, falsa coragem, mimo, orgulho, não importa as causas, o suicida merece de nossa parte todo nosso amor e carinho por meio de orações para que se restabeleça logo.

Para evitar o suicídio é preciso muita fé na Vida, em Deus e em si mesmo. É preciso levar sempre aonde formos muita alegria, esperança, paz, mostrar às pessoas que tudo tem solução e que, apesar das aparências, a vida é alegria, prazer, sucesso, felicidade.  

Vamos evitar colocar mais fardos pesados nos ombros das pessoas porque nós ignoramos o que elas estão enfrentando no íntimo. Muitas vezes estão enfrentando grandes dilemas sozinhas sem que ninguém saiba, então uma palavra de conforto, de sabedoria, de otimismo muitas vezes pode salvar uma vida.

É isso que devemos fazer nesse setembro amarelo e em todos os outros meses do ano.

 *Maurício de Castro é professor e escritor espiritualista. Publicou dezenas de romances psicografados, ditados pelos espíritos Hermes e Saulo. 

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