terça-feira, 21 de maio de 2013

Você sabia que hoje, dia 21 de maio, é dia mundial da cachaça?

            Este ano a cachaça tem muito que comemorar, pois agora deixou de ser “rum” e ganhou status de produto gourmet nos Estados Unidos da América, medida que era aguardada há pelo menos 40 anos.  E também ganhou destaque em eventos como o Festival de Gastronomia Madrid Fusión, ou seja, 2013 é o ano dela: “a brasileiríssima cachaça”! Ela está entre as três bebidas destiladas mais consumidas no mundo. A Bahia também possui cadeia produtiva bastante solidificada.
            A cada segundo os brasileiros tomam em media 618 doses de cachaça, e por ano 1,1 litros per capita. É conhecida como pinga, branquinha, marvada e mais de dois mil nomes (é a palavra com mais sinônimos na lingua portuguesa e talvez em qualquer outra língua). Não importa o apelido, a cachaça é tradição no Brasil, que consome 99% de sua produção. Não à toa, esse mercado movimenta R$ 7 bilhões por ano — incluindo a produção da bebida, fornecimento de insumos e a comercialização. Possui capacidade para produzir 1,2 bilhões de lts por ano, gera 450 mil empregos diretos, o setor cresce 18% ao ano e representa grande parcela para o agronegócio. 
            A cachaça é uma bebida de grande importância cultural, social e econômica para o Brasil, e está relacionada diretamente ao início da colonização do País e à atividade açucareira, que, por ser baseada na mesma matéria prima da cachaça, forneceu influência necessária para a implantação dos estabelecimentos cachaceiros. O total de produtores de cachaça em 2011 alcançou no Brasil os 40.000, sendo que apenas cerca de 5.000 (12%) são devidamente registrados. Minas Gerais é o estado que concentra a maior quantidade de produtores de cachaça artesanal.  O estado é o principal centro produtor, tem 8.466 alambiques que produzem 230 milhões de litros por ano.
            Devido ao seu baixo valor e associação às classes mais baixas (primeiro os escravos e depois os pobres e miseráveis), a cachaça sempre deteve uma áurea marginal. Contudo, nas últimas décadas, seu reconhecimento internacional tem contribuído para diluir o índice de rejeição dos próprios brasileiros, alçando um status de bebida chique e requintada, merecedora dos mais exigentes paladares.
            História da cachaça
            Para conhecer a história da cachaça é necessário voltar ao início do século XV.
Os portugueses tinham conhecido a cana de açúcar durante suas viagens à Ásia e não tardaram em levar algumas mudas para a ilha da Madeira, para, mais adiante, levar a cana para novas terras descobertas no Ocidente. Rapidamente a cana de açúcar se tornou para os países europeus um dos negócios mais lucrativos em terras americanas, dada a crescente demanda por este produto no Velho Mundo para usos gastronômicos.
            Mas o Rei Açúcar exigia cada vez mais terras e sacrifícios humanos. Milhares de hectares de matas foram destruídos e como a mão-de-obra indígena não era suficiente para assegurar a produção, milhares de africanos acabaram embarcados rumo à América para que servissem de mão-de-obra escrava nos canaviais. Graças ao suor e ao sangue destes trabalhadores negros, a nobreza européia podia levar uma vida que, além de confortável, era cada vez mais doce.
            Nos engenhos onde se obtinha o açúcar, o caldo da cana era depurado em uma enorme caldeira em fogo brando. A espuma formada pelos resíduos da planta era usada como alimento para os animais. Era a cachaça.
            Só a partir do século XVI, a cachaça, da mesma forma que se fazia com os restos da fermentação do suco da uva, começou a ser destilada com a ajuda de um alambique.
Seu primeiro nome foi aguardente de cana e ela era dada aos escravos junto com a primeira refeição do dia para que pudessem suportar melhor o trabalho nos canaviais.
Com o passar do tempo, o processo para a obtenção deste aguardente foi melhorando, assim como sua qualidade.
       
Seu consumo cresceu de maneira tão rápida que a Coroa Portuguesa viu perigar a venda de seu aguardente nacional, a "bagaceira", para as colônias. Em 1635, a metrópole acabou proibindo a venda de cachaça no estado da Bahia e, quatro anos depois, tentou proibir sua fabricação. No entanto, a cachaça já tinha se tornada a bebida preferida da enorme colônia americana.
            O motivo da proibição, logicamente era a concorrência com a Bagaceira. A bebida já era muito apreciada e servia também para abrandar o frio, sobretudo nas baixas temperaturas como as da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, onde uma grande população se aglomerou em busca de ouro. Em 1756, não tendo tido êxito, na proibição da fabricação e muito menos do consumo, o Rei de Portugal resolveu taxar a nova bebida. A aguardente de cana-de-açúcar foi, nessa época, um dos produtos brasileiros que mais contribuíram com impostos. Esses recursos foram fundamentais para a reconstrução de Lisboa, abalada por um violento terremoto no ano anterior.
            A Aguardente brasileira foi assim, um símbolo de resistência à dominação portuguesa e esteve presente na mesa dos Inconfidentes.
            Logo melhoram as técnicas de produção. A Cachaça era exaltada por todos como uma ótima bebida e consumida até em banquetes palacianos. Misturada ao gengibre e outros ingredientes, era apreciada também nas festas religiosas portuguesas com o nome de Quentão. Quando se iniciou a economia cafeeira, a implantação da república e a abolição da escravatura, a nossa cachaça passou a ser vítima de um preconceito irracional. Em 1922 no entanto, com a Semana da Arte Moderna, a cachaça ganhou novamente o reconhecimento que merecia. Outras invenções genuinamente brasileiras, como o samba e a feijoada fizeram parte do resgate do brasileirismo.
             A cachaça ainda hoje enfrenta algum preconceito, mas hoje bem menos do que antes. Atualmente, várias destilarias, em todo o país, produzem cachaças de excelente qualidade. São centenas, talvez milhares de marcas. Minas, Ceará e Pernambuco, possuem juntos mais de mil marcas. Muitas com controle de qualidade e embalagens dignas do melhor uísque. Tal empenho dos fabricantes, conquistou o público feminino, abriu o comércio internacional e a nossa cachaça ganhou o mundo. 

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