terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Gafe e selvageria



       
Quedo-me assaz apreensivo em razão da gafe cometida pelo presidente Temer ao trocar a moeda vigente, o Real, pelo extinto Cruzeiro. Isso causará, indubitavelmente, profundas mudanças na história e causará, sobremodo, transtornos mis à sociedade já tão admoestada com os imbróglios diários em que vivemos. Data vênia exemplifico e justifico minha apreensão, à medida que me acode à lembrança aos tempos em que usava da retórica à mesa, para, em parábolas, passar algum conhecimento à minha prole. E eis que, ao exclamar que algo ou alguém “não valia um vintém”, fui acossado e induzido pelos petizes a prestar esclarecimentos sobre o que seria “Vintém”.

         Se me vi enfiado em camisa de onze varas para explicar às jovens mentis em azafama por saber, imagino como se explicará à patuleia o nosso vetusto mandatário maior, o significado de “Cruzeiro”. Os herdeiros de Gutemberg e Le De Forest não pouparam tinta ou palavras para repercutir tão grave acontecimento e se desdobram em análises sobre que graves mudanças advirão mundo afora decorrentes da gafe presidencial. “Estamos liquidados”, proclamaria e sentenciaria o meu amigo e confrade, jornalista Hugo Navarro.

         Mudando o foco, mas ainda me reportando à plebe ignara, ouço a notícia de que um homem foi linchado em praça pública, na nossa pacata e ordeira Princesa do Sertão, por ter havido estuprado uma criança de seis anos. O mesmo, consumado o ato, teria deixado a criança trancada no quarto, palco do crime, e reuniu-se ao grupo de buscas formado para localizar o desaparecido infante. Esclarecido o crime, aconteceu o linchamento. Alguns jornalistas e radialistas, classificaram a atitude da população como “um ato de selvageria”. Não contestaria a classificação se não vivêssemos num país selvagem. Estão aí os recentes fatos ocorridos em presídios do Norte do Brasil a confirma o que digo.

         E quando um secretário nacional de não sei lá o que (são tantos), fugindo ao comportamento geral de seus parares, declarou que não entendia porque a mídia dava tanto destaque a uma guerra entre bandidos, mas não dava o mesmo destaque quando bandidos chacinam membros da população honesta e trabalhadora, e que, por ele (o secretário) poderia morrer um presídio inteiro por dia, foi induzido à demissão, pelos zelosos homens dos altos escalões do governo, protetores dos direitos humanos de ladrões e assassinos, seus colegas. Mas, é isso aí. Quando o Estado falha, a população se defende por conta própria

         Pobres de nós. Triste povo que se indigna com uma simples gafe de um presidente, se comove com uma guerra entre bandidos, mas finge não ter conhecimento da guerra civil surda e cruel em que vivemos.



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