quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Entre o bem e o bom

 

        Recebi uma mensagem que dizia: “Cuidado com o bem e o bom. Nem tudo que faz bem é bom. Nem tudo que é bom faz bem”. Se o autor da frase se referia a alimentos, está certo. Algumas coisas cheiram bem, tem um ótimo sabor, mas prejudicam a saúde de quem as come. Aliás, eu tenho um amigo que diz: “Mastigou, gostou. Cuspa que faz mal”. Nestes tempos modernos, em que nutricionistas preferem nos ver morrer de fome do que de alguma doença, tudo que é bem gostoso, bom, faz um mal danado. Porém, se fundamentarmos o enunciado por outros aspectos, ele não fará sentido algum. Por exemplo: Sexo é bom e faz bem pra saúde, como afirma a Medicina. Já do ponto de vista religioso, sexo é pecado, coisa do demônio. Não faz bem, embora todo mundo reconheça que é bom. Já óleo de rícino tem um sabor horrível, é ruim, não é bom, mas faz bem para a saúde.

         Mas em outras áreas, eu tenho dificuldade em identificar coisas boas que não nos façam bem. O amor, por exemplo. Não tem como ser ruim. Uma pessoa que ama outra pessoa, ama as pessoas, a natureza, a vida, só faz o bem. Mesmo no campo afetivo, das relações sexuais, o amor só faz o bem. O exagero é que pode causar algum mal-estar, como a paixão, por exemplo. Paixão é amor cego, incondicional, e nos leva a cometer absurdos, mas nada que não se possa remediar com uma boa dose de realidade e temperança. Uma pessoa que ama dificilmente adoece, não há mal que a atinja. Há quem diga que até ódio, considerado antítese do amor, é apenas o amor que está doente, portanto, pode ser tratado e curado.

         Ainda no campo dos sentimentos, dizem que o ciúme é coisa ruim. Depende. Quem ama sente ciúmes da pessoa amada, e isso é bom e faz bem. Ciúme só faz mal quando se torna exagerado, doentio. Mais uma vez então podemos dizer que se o ciúme está doente, podemos tratá-lo e curá-lo. Já no campo físico, dizem que exercícios fazem bem ao corpo e á mente. Pode até ser, mas há alguns casos em que os exercícios podem trazer sérias consequências deformações nos músculos e desgastes nas articulações. Os engraçadinhos dizem que coelhos, que só vivem correndo e são verdadeiros atletas sexuais, vivem pouco, enquanto tartarugas vivem cem ou duzentos anos. Mas a verdade é que são os exageros que causam esses problemas. Fazer exercícios não significa ter que ser atleta. Podemos fazer caminhadas ou frequentar academias apenas para fugir do sedentarismo que nos deforma e nos faz adoecer. De resto, ocupando a mente com trabalho completamos a máxima de Mens sana in corpore sano.

         Vi muitos atletas morrerem ainda jovens durante competições que disputavam, por paradas cardíacas ou AVCs. Mas Dorival Caymmi, que passava a maior parte do tempo numa rede, tocando violão, comendo e bebendo tudo ao seu alcance, morreu com mais de 90 anos. Por isso que entre o bem e o bom eu prefiro ficar no bem bom.

        

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