Dividido, o país alterna Bolsonaro e Lula, como se não houvesse futuro sem extinção do adversário. No entanto, é preciso julgar o tamanho da destruição que ambos legaram ao Brasil e que vai muito além do golpismo e da corrupção. O estrago é mais profundo, visceral, embora mais sutil do que o 8/1 ou os cofres do Mensalão e Petrolão, eventos que muitos conseguem relativizar por afinidades mais diversas.
A situação de polarização extrema que vivemos é exaustiva. Fundamentada no confronto, vigilância, ódio, ressentimento, tem deixado todos a beira de um ataque de nervos- com suas consequências mortais tanto objetivas quanto metafóricas. Neste longo processo de desumanização deixamos que os sentimentos mais sórdidos eviscerem.
Creio ter sido Voltaire que disse que os homens nunca sentem remorsos por coisas que estão habituados a fazer. Nós estamos habituados a conceder, compactuar, com o pior que temos. Com o mais rasteiro, com gente muito impiedosa que nos administra no Planalto e nos julga nos Tribunais Superiores.
Estamos sendo servis a projetos esclerosados, anacrônicos, viciados, de exercício de poder e nos comportando como aquele cego que se recusa a ver, movidos- muitos- por fogo juvenil, doutrinário. E enchendo o inferno das boas intenções. Somos manipulados da forma mais primária- ainda que efetiva- para validarmos as ignomínias nos escorando na desqualificação do adversário. Somos senhores do abismo.
Como sempre digo, nós vibramos na sintonia do que ouvimos e consumimos. E se estamos consumindo tóxico, compartilhando tóxico, não podemos esperar colher da sociedade- ou do outro, para irmos à unidade mínima- nada diferente disso. Esse esgarçamento que já arrebenta nossas amizades, famílias, tem pesada consequência para filhos, netos, e não acontece sem nossa mão.
Para os que acreditam no fenômeno da sincronicidade, de Jung e Wolfgang Pauli- ele sugere que fatos sem relação aparente de causa e efeito tem na verdade um princípio ordenador- essa situação que vivemos é uma demonstração visceral. Não podemos sucumbir ao Zeitgeist- o espírito da época- atual. Precisamos de mudança e isso não pode ser oferecido pelas lideranças atuais ou continuaremos presos nesse redemoinho demoníaco a que estamos confinados.
Como dizia Belchior: o novo sempre vem. É preciso que libertemos as mentes cativas em busca de alternativas. Eu não sei por onde vou, só sei que não vou mais por ai!
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