Eu me lembro de quando era criança da
ansiedade que eu sentia e da alegria quando recebia roupas novas e fogos para
festejar o São João. Muito mais que o Natal eu ansiava pelo São João. As portas
das residências eram abertas e sempre que alguém passava e perguntava: “São
João passou por aí?” Logo recebia o convite para tomar um licor e provar as
iguarias típicas da época, a exemplo de milho assado ou cozido, amendoim,
canjica, bolos diversos, pamonha etc. E o espírito de confraternização reinava.
Os jovens pareciam mais apaixonados nessa época.
Os casais andavam de mãos dadas ou
abraçados, contemplando o céu estrelado e colorido de balões. Havia sempre um
disco de forró na vitrola e casais dispostos a dançar na sala da casa. As
crianças faziam jogos e corriam por todos os cantos com seus risos alegres. Era
muito bom. Muito bom mesmo.
Certa vez meu padrinho, que morava vizinho
a uma favela, resolveu fazer uma festa e convidou todos os moradores da referida
comunidade para um arrasta-pé em sua casa. Comprou tecidos para fazer roupas
para todos, adultos e crianças. Distribuiu fogos e à noite promoveu um arrasta-pé
na área livre no exterior da casa. Quando eu ouço a música calango tango,
lembro-me de um fato hilario que aconteceu neste dia. Diz a música: “Eu vou te
contar um caso, que de rir você se escangaia, a mulher do Zé Maria, foi dançar
caiu a saia”. Não é que aconteceu mesmo? Uma das mulheres estavam se esbaldando
no forró, quando ao fazer um movimento mais brusco o cordão da sua saia se
partiu e ela ficou só com a roupa de baixo.
Fala-se muito em acidentes com fogos. Nessa
festa não aconteceu nenhum, embora se houvesse soltado foguetes, bombas e
diversos outros fogos de artificio. Ainda hoje eu tenho a impressão de que quando
a felicidade reina em algum evento nunca acontece acidentes.
Certa
vez coloquei um artefato no chão e acendi o pavio. Ele deveria subir e lá em
cima estourar bolinhas coloridas. Contudo, quando me afastei, meu calcanhar
pegou no artefato e ele virou. Assim, em vez de subir, ele partiu serpenteando
no meio da rua que estava cheia de gente. Ninguém teve um arranhão, nem reclamou
do acontecido. Coisa de gente feliz.
Observando os atuais costumes em festas
juninas, não mais me atrevo a participar de nenhuma. E quando olho para as ruas,
vejo pouca gente e as poucas com quem tenho contato apresentam um semblante
triste. Talvez na zona rural ainda se encontre um pouco de alegria. Não sei.
Faz tempo que não vou a zona rural.
Tudo isso é saudoso e triste! Muito
triste!
Nenhum comentário:
Postar um comentário