domingo, 7 de julho de 2024

 


Origens do RSVP

 Conto o acontecido em tempos napoleônicos, na floresta francesa de Brocéliande, rica em carvalhos e pinheiros marítimos, distante das luzes parisienses. Lá, reza a lenda, encontra-se o túmulo do mago Merlin, criador da Távola Redonda, a casa da fada Viviane, protetora da espada mágica Excalibur e a milagrosa Fonte de Barenton. A madeira farta era fonte de calor para as trempes; fonte de luz nas fogueiras e matéria prima para construção de cabanas, mastros de navios, armários, instrumentos musicais, cabos de ferramentas.

No desabrochar do século XIX, o velho lenhador Monsieur François Nardi planejou agrupar os artesãos para propiciar visibilidade à atividade madeireira local. Sendo as cabanas próximas umas às outras, a propagação da ideia fora facilitada, pois então, os comunicados à coletividade aconteciam via pregões e editais.

Acertaram-se atingir determinadas metas para a feitura de objetos diversos: pássaros, duendes, fadas, barris, gamelas, miniaturas de embarcações. Mas, como entre o sonho e a realidade permeiam, nos humanos, distintos pensares e comportamentos, isto se refletiu na nova sociedade.

Viviam-se tempos do desafogo das pressões, graças à extinção da monarquia – nada era imposto, a participação era opcional. Assim, muitos nada produziam, sequer tomavam conhecimento dos editais, tampouco satisfações prestavam.

Monsieur François, paciente, ponderava que, os artesãos não se percebiam ser a participação coletiva, primordial fator para sucesso. Evidente, não se conformava em testemunhar a presença de apenas meia-dúzia deles. A maioria dos ausentes, não tinha sequer a gentileza de avisar seus impedimentos ou a decisão de nada produzir.

Tais inadequados comportamentos, incitaram, nas bandas de Paris, o advento da combinação das leras RSVP, para difundir a cortesia de confirmar-se ou não o atendimento a qualquer convite.

Ao tomar conhecimento da nova prática, Monsieur François, determinou sua adoção. apondo aos editais e avisos, aquelas letrinhas, RSVP. Em francês “Répondez s’il vous plait”; em bom português, “Responda, por favor”.

O habitual uso da educativa expressão, foi fator do progresso da agremiação madeireira, bem como contribuiu para sensíveis avanços no campo da civilidade.

Anote-se que nas festividades familiares, até então, era comum muitos convidados, aparecerem acompanhados de duas ou três pessoas, sem aviso algum. De quebra, a maioria, à saída, carregava bandejinhas com doces e salgados da festa. Os franceses artesãos rapidamente apreenderam o novo comportamento.

Para encerrar, fica a indagação. Quando será que por aqui, em nossas recôncavas bandas, habitualmente praticaremos tais regras da cortesia?

 Hugo Adão de Bittencourt Carvalho (1941), economista, cronista, é autor do livro virtual

Bahia – Terra de Todos os Charutos, das crônicas Fumaças Magicas e Palavras ao Vento,

participa do Colares – Coletivo Literário Arte de Escrever. Vive em São Gonçalo dos Campos - Ba
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