Para Luisa, Maria, Sofia, Pedro, Erick, Ludiely e Ravi
A figura da avó não é mais daquela mulher que descansa numa cadeira de balanço, faz crochê ou prepara bolinhos à tarde. Elas são mamães duas vezes, são a voz da experiência, algumas cozinheiras de mão cheias. Muitas ajudam na educação dos netos, cuidam deles na ausência dos pais e fazem de tudo para se aproximar e dar carinho. Elas agora são modernas, mergulham nas ondas da internet, respondem e-mail, entram em redes sociais, se relacionam com outros avós ou mesmo se utilizam desta ferramenta para trabalhar e ganhar o sustento, como é no nosso caso.
Alguns avós têm o privilégio de ter netos por perto dando e recebendo carinho. Ensinando e aprendendo com eles. Eu não tenho esta sorte, pelo menos por enquanto, meus netos estão a quilômetros de distância. Assim, como não posso abraçá-los e falar das minhas experiências, vou transcrever aqui um texto, do qual desconheço o autor, que transmite exatamente os meus sentimentos neste momento. "Testamento de uma avó".
"Quero
lhes dizer, queridos netos, o que vale a pena.
- Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga recompensa, que não há livro que não traga ensinamento, que os amigos têm mais para dar que os inimigos para tirar, que, se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto a vida do ignorante.
- Vale a pena ver que toda a amargura nos deixa reflexão, toda tristeza nos deixa a experiência e toda alegria nos enche a alma de paz.
- Vale a pena casar e ter filhos. Filhos que nos escravizam com seu amor e nos concedem a felicidade de tê-los junto a nós e vê-los crescer. Filhos que, ao crescerem um pouco, já discutem conosco, acham que sabem bem mais que nós (e às vezes sabem mesmo) e nós aprendemos com eles.
-Vale a pena viver estes assombrosos tempos modernos em que os milagres acontecem ao virar de um botão, em que se pode telefonar da terra para a lua, lançar sondas espaciais, máquinas pensantes, à fronteira de outros mundos. E descobrir que toda essa maravilha tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar a chegada da primavera.
- Vale a pena viver, mesmo com todas as limitações a que o ser humano está sujeito, quando lembramos que o surdo vê a luz do sol, que o cego ouve a música das coisas, que o mendigo sonha com as estrelas, que não precisamos de todos os sentidos para participar do esplendor da criação.
- Vale a pena mesmo sabendo que vocês verão coisas que eu nunca vi, assim como vejo coisas que meus pais não viram, e meus pais viram coisas que meus avós não viram.
- Vale a pena, certamente - o saber acumulado dos cientistas e especialistas que revelarão coisas que a mim não foram reveladas. Pode ser que vocês conheçam seres vindos de outros planetas, o que para mim é teoria e especulação, assim como a televisão e outras invenções foram teoria e especulação para meus avós já falecidos.
- Vale a pena, mesmo quando vocês descobrirem que tudo isso que estou mencionando é de pouca valia, porque a teoria não substitui a prática e cada um tem de aprender por si mesmo que o fogo queima, que o vinagre amarga, que o espinho fere e que o pessimismo não resolve rigorosamente nada.
"Minha
avó foi aquela que me disse que valia a pena....E não é que ela tinha
razão?"
Maura Sérgia
2 comentários:
Sensacional!!
Muito bom 👏👏👏
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