Os insetamente corretos que me perdoem, mas grilos são chatos. Não foi à toa que “grilo na cabeça” virou metáfora para problemas existenciais. Pelo menos enquanto os identitários universais dos grilos – e sabe-se lá que grilo esse povo tem- não nos acusarem de assédio moral por estigmatizar esses seres que tem seu papel no equilíbrio ambiental. Eles são aparentados dos gafanhotos- parece que fruto de um relacionamento bastardo na intimidade da floresta- mas nem todo bicho é igual. Eu mesmo, impossibilitado de resolver meu latifúndio de grilos pessoais passei a me interessar pelos insetos.
Grilo, vem do latim Grillus- nós gostamos de um pouco de cultura- tem mais de 900 tipos, atuando na pissiquê humana, no atacado e varejo- há enormes criações de grilo para venda como isca de pescaria. No futuro, todos terão um grilo para chamar de seu. Saibam que apenas os machos fazem emissão sonora em evidente machismo biológico. Aquele cri-cri( uma espécie de paredão do som) tem por objetivo conquistar a fêmea( ao final, tudo é sexo).E quanto mais distante ela está, mais alto será a cantada - para nosso inferno- mais ou menos como acontece nos bailes por aí.
Eles cavam buracos de meio metro no chão -ou no fundo da mente- por isso, nem sempre podem ser vistos. De todos os grilos o que mais me chamou atenção foram os canibais, o Anabrus Simplex. Esse hábito parece herdado dos grilos originais. Quando saem em marcha podem formar filas de até dez quilômetros. A motivação é a fome. A velocidade – podem andar 4 km ao dia- é imposta pelo grilo que vem atrás. Os retardatários- que não conseguem dar “ coices”- são devorados pelo companheiro que o segue. Como naquela música, um grilo é de todo mundo e todo mundo é seu também. Quando um é atropelado na estrada é devorado por outros que são atropelados também. São tantos que chegam a causar acidentes porque as pistas ficam escorregadias. É preciso jogar areia ou remover com máquina.
Lembrei dos grilos quando vi o noticiário. Um aparente surto de fome tem levado ministros da lei a fazer devastações impensáveis; líder mundial cambaleante – não dá mais coice-está pronto para ser devorado; legião de militantes seguindo a coluna ideológica sem pensar e emitindo seu chato cri-cri nas redes sociais. Mas o que me apavorou, no entanto, foi ver no Planalto Central, a grande marcha de grilos esfomeados em direção aos cofres públicos. Vamos precisar de trator!
𝗖𝗲𝘀𝗮𝗿 𝗢𝗹𝗶𝘃𝗲𝗶𝗿𝗮 - Tabaréu, feirense, médico, professor, apaixonado por palavras, pessoas e a vida. Sou de mato, vinhos, cafés, pratos, prosas - falada e escrita. Essa tem sido minha receita.
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