A presidente Dilma Rousseff passou a
 corrida presidencial criticando os mercados financeiros e associando o 
candidato Aécio Neves (PSDB) a uma política de alta de juros.
O 
fato de Aécio admitir que pretendia fazer ajustes na política econômica,
 adotando medidas "impopulares", também foi um dos principais alvos da 
campanha petista.
Por isso, nem os analistas do mercado esperavam 
receber tão rapidamente o que foi visto como um sinal de que a política 
econômica do segundo governo Dilma deve ser mais austera e ao gosto do 
setor financeiro do que a do primeiro mandato.
Logo no início da 
semana, começaram a circular em Brasília rumores de que a presidente 
estaria procurando no mercado financeiro um nome para ocupar o 
Ministério da Fazenda (o mais cotado seria o presidente do Bradesco, 
Luiz Carlos Trabuco).
O debate ocorre em meio a um rombo recorde 
nas contas públicas: o governo registrou, em setembro, um déficit de R$ 
20,4 bilhões, maior valor já registrado em um único mês desde 2007, 
início da série histórica do Tesouro Nacional. É o quinto mês 
consecutivo em que a administração gasta mais do que arrecada, o que 
pode acelerar a adoção de medidas de controle de gastos.
O 
secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, ao comentar os números, 
disse em entrevista que o resultado impedirá que o governo atinja a meta
 de superávit primário (economia dos juros para fazer o pagamento da 
dívida pública) de R$ 80,8 bilhões neste ano.
E, passados apenas 
três dias da eleição presidencial, o Comitê de Política Monetária 
(Copom) do Banco Central (BC) anunciou uma alta de 0,25 pontos 
percentuais na taxa básica de juros - que passou de 11% para 11,25%.
Juros
A medida do BC foi a que mais surpreendeu os mercados, que só esperavam uma alta de juros em dezembro.
Ela
 foi justificada pela desvalorização do real frente ao dólar - que, na 
avaliação da autoridade monetária brasileira, aumentaria o risco 
inflacionário.
Além disso, horas antes da decisão do BC brasileiro
 ser anunciada, o BC americano (FED) decretou o fim da sua política de 
incentivos conhecida como Quantitative Easing.
A decisão 
aumentou as especulações sobre quando os EUA podem aumentar a sua taxa 
de juros - medida que também favorece um aperto monetário no Brasil.
"Havia
 certo consenso (entre analistas do mercado) de que uma alta dos juros 
era necessária para conter a inflação, hoje muito próxima ao teto da 
meta (definida pelo BC, de 4,5%, com uma margem de 2 pontos percentuais 
para cima e para baixo)", diz Wilber Colmerauer, diretor da Emerging 
Markets Investments em Londres.
"Mas esperava-se certo 
'constrangimento' do BC e do governo em mudar tão rapidamente suas 
políticas, após a eleição. Até agora nem um nem outro admitiam que a 
inflação era um grande problema. Além disso, ao se elevar os juros em um
 contexto de desaceleração econômica, sempre se corre o risco de 
dificultar a retomada do crescimento - como Dilma ressaltou na campanha,
 ao criticar opositores."
Alessandra Ribeiro, da Consultoria 
Tendências, concorda que o BC acertou ao aumentar os juros, mas errou ao
 não sinalizar para o mercado que daria uma guinada em suas políticas.
"Nunca é bom surpreender os mercados, porque isso causa uma volatilidade desnecessária", diz.
Para
 ela, o objetivo do BC seria indicar que está comprometido um ajuste na 
política econômica. "O recado geral é que o governo deve tomar medidas 
que criticou durante a corrida presidencial", opina.
Mudança
Para
 o economista da PUC Antonio Carlos dos Santos a mudança de discurso no 
cenário pós-eleitoral pode desagradar alguns eleitores da presidente - 
"e vai permitir que a oposição faça a festa" - mas era esperada, uma vez
 que a campanha tende a ser diferente do dia a dia de governo.
Já o
 cientista político Carlos Pereira, da FGV, vê na mudança uma forma de 
"estelionato eleitoral". Ele não acredita, porém, que ela seja 
suficiente para provocar problemas de governabilidade.
"No fim, os eleitores de Dilma votaram nela em função de suas políticas sociais", opina.
"É
 esperado que ela receba críticas ao fazer um ajuste na área econômica 
no curto prazo, principalmente se isso tiver - como deve ter - um 
impacto no nível de emprego. No entanto, se conseguir impulsionar uma 
retomada do crescimento, esse clima desfavorável logo se dissipará."
Para
 Pereira, o fato de Dilma ter confrontado os mercados financeiros na 
campanha e não ter admitido erros na política econômica pode fazer com 
que os custos de um ajuste nesse inicio de governo aumentem.
"Todos
 sabiam que esse ajuste seria necessário - até para evitar que o país 
perca o grau de investimento (chancela conferida por agências de 
classificação de risco), o que aumentaria os custos de endividamento do 
governo e das empresas", diz ele.
"Mas agora Dilma terá de dar um sinal mais contundente para convencer o mercado de que está mesmo disposta a fazer mudanças." (BBCBrasil)

 
 
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